Os mercados dão continuidade ao movimento negativo visto desde ontem. Bolsas e commodities cedem, enquanto as curvas de juros dão um alívio (medo de recessão?); as moedas são a exceção e avançam contra o dólar. As idas e vindas dos mercados e a alta volatilidade realimenta a ideia de que vivemos um bear market rally na segunda-feira, quando os ativos têm tendências de baixa (bear market), mas experimentam períodos breves de alívio (rally).
Ontem em específico, pesou o fato de as ações da varejista de descontos Target terem derretido 25% depois de noticiar margens de lucro mais baixas. Os números vieram na esteira de custos mais altos com frete, salários e combustível, além de logística interrompida. Ou seja, a intersecção de vários desafios globais que temos discutindo.
O Walmart também cortou as suas estimativas de resultados na segunda-feira, culpando as tendências inflacionárias, e foi acompanhado pela Cisco ontem. A gigante de equipamentos de rede disse que a guerra na Ucrânia e os bloqueios na China atingiram em cheio as suas vendas. As ações caíram 12%, varrendo US$ 25 bilhões em valor de mercado.
Essas leituras setoriais importam por diferentes aspectos. Olhando para a renda variável, por sugerir novas revisões baixistas dos lucros projetados pelos analistas; se hoje o preço/lucro projetado do S&P 500 negocia a ±17,5x, um bom recuo desde as máximas recentes que poderia sugerir alguma compra, por outro é válido se perguntar o espaço para o encarecimento do múltiplo por menor confiança nos earnings.
Aos olhos macro, as companhias alimentam as visões sobre o começo da deterioração da economia real e do crescimento do PIB. Discutimos a possibilidade de o ciclo econômico global estar entrando em seu último estágio, o chamado late cycle: moderação do crescimento, aperto do crédito, pressão sobre lucros, redução das vendas e acúmulo de estoques. É nessa etapa que as incertezas e os anseios dos investidores se exacerbam, gerando volatilidade, exageros e narrativas de estagflação. Late cycle rima com seletividade… não rima, mas combina.
Por aqui, poucas novidades. O noticiário segue algumas novelas: (I) a dos reajustes aos servidores e de onde o governo vai tirar verba para prosseguir com a concessão (conta pode chegar a estimados R$ 15 bilhões juntando o extra dos policiais) e (II) as saídas buscadas por Brasília para aliviar o custo de combustíveis e energia para a população; a Câmara aprovou, ontem, projeto que define ambos como bens essenciais para limitar a alíquota de ICMS.
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Marco Caruso (economista-chefe)
Eduardo Vilarim (economista)
Banco Original