Mercados indecisos

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Sede do Federal Reserve em Washington (Foto: Joshua Roberts/Ag. Xinhua)
Sede do Federal Reserve em Washington (Foto: Joshua Roberts/Ag. Xinhua)

Ontem, novamente, tivemos mercados voláteis no mundo, com investidores ajustando expectativas após a decisão do Fed sobre política monetária e, principalmente, a coletiva de Jerome Powell, presidente. Mas a Bovespa ainda seguiu seu caminho de alta, fechando com +1,19% e índice em 112.611 pontos, depois de ter vazado os 113 mil pontos. O dólar encerrou em queda de 0,32% e cotado a R$ 5,42 (no exterior em alta), enquanto Dow Jones terminou praticamente estável (-0,02%) e Nasdaq ficou com queda de 1,40%.

Hoje, as Bolsas da Ásia terminaram o dia com comportamento misto, mas destaque positivo para Tóquio, com valorização de 2,09%, depois de o FMI estimar o PIB de 2022 em +3,3% e inflação menor que a meta de 2%. Europa começando o dia com quedas, e aprofundando, e futuros do mercado americano com comportamento misto. Aqui, mantemos aquele objetivo de mirar nos 115 mil pontos do Ibovespa, quando ganharíamos maior tração.

Hoje, o dia está sendo de divulgação de primeira leitura de PIB de 2021 em diferentes países. Na França, o PIB do quarto trimestre expandiu 0,7% e, na comparação anual, ficou com alta de 5,4%. Na Espanha, o quarto trimestre mostrou alta de 2% e, na comparação anual, ficou com +5,2%. Na Alemanha, o quarto trimestre encolheu 0,7% e, na comparação anual, ficou com +1,4%.

Na Zona do Euro, o índice de sentimento econômico de janeiro caiu para 112,7 pontos, de previsão de 114 pontos, o menor patamar em nove meses. Já o FMI repetiu sua previsão de crescimento da China em 2022 de 4,8%, com perda de fôlego. A Apple divulgou o lucro de seu primeiro trimestre fiscal com US$ 34,6 bilhões e as ações chegaram a subir 5% no after market.

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No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 0,44%, com o barril cotado a US$ 86,95. O euro era transacionado em queda para US$ 1,113 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,83%. O ouro e a prata tinham quedas na Comex, e commodities agrícolas com desempenho misto na Bolsa de Chicago.

Aqui, Bolsonaro, em reunião com ministros, vetou levar adiante a PEC de combustíveis e, em sua live, voltou a atacar Lula, dizendo que a reeleição seria um crime. Não abordou a intimação de Alexandre de Moraes para depor hoje, às 14h, na Polícia Federal. A Petrobras e a Novonor decidiram adiar oferta de ações da Braskem.

A agenda do dia é lotada de eventos e indicadores que podem mexer com os mercados, além da safra de resultados do quarto trimestre. Expectativa de Bovespa podendo até tentar alta, mas está bem complicado, dólar em alta e juros também.

Poderíamos caracterizar os mercados de ontem como de ajustes de expectativas, depois da fala inicialmente mansa do presidente do Fed, Jerome Powell, e declarações finais bem mais duras que as esperadas. Isso mudou expectativas sobre elevação de juros em até cinco vezes em 2022 e voltou a mexer com o equilíbrio dos mercados. Como consequência, temos volatilidade no dólar, nos juros e nas Bolsas, mas o viés seguiu ainda positivo para as empresas, apesar da rotação de ativos.

Logo cedo, dirigentes da Rússia disseram enxergar algum espaço para diálogo com os EUA sobre a Ucrânia, mas sem muito otimismo, reduzindo um pouco tensões, com a China pedindo calma aos EUA. Os resultados de empresas no quarto trimestre também mexeram pontualmente na precificação dos ativos, reduzindo perdas nos índices americanos no início do dia.

Aliás, nos EUA, tivemos a divulgação de indicadores importantes. O PIB do quarto trimestre, em sua primeira leitura, mostrou ritmo de expansão anualizada de 6,9%, bem maior que o previsto de 5,5%, sendo que no terceiro trimestre ficou em 2,3%. Com isso, o PIB de 2021 mostrou crescimento de 5,7% (2020 com queda de 3,40%), a maior expansão desde 1984. O presidente Biden comemorou dizendo ser a primeira vez em 20 anos que os EUA cresceram mais que a China e com cadeias produtivas se fortalecendo. O Institute of International Finance (IIF) disse que foi a maior alta dentro do G10, com consumo e investimento maiores que no final de 2019.

Ainda nos EUA, o PCE (deflator de preços do consumo) do quarto trimestre registrou alta de 6,5% na taxa anualizada e o núcleo com 4,9%. As encomendas de bens duráveis encolheram mais que o previsto, em 0,9% em dezembro, quando a previsão era -0,6%. Os pedidos de auxílio desemprego da semana anterior caíram 30 mil posições, para 26 mil, mas pedidos continuados subiram 51 mil posições, para 1,67 milhão. Vendas pendentes de imóveis de dezembro caíram 3,8% em dezembro, de previsão de -0,8%.

O Banco Central da Turquia estimou que a inflação de lá pode ficar entre 11,8% e 23,2% em 2022. O pior é que nós já vivemos esse momento aqui, em que fica impossível planejar qualquer coisa. O Banco Central da África do Sul elevou os juros básicos em 0,25%, para 4%. Já o FMI declarou que o aumento rápido dos juros pode provocar correções nos mercados acionários, incluindo os EUA.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava queda de 1,23%, com o barril cotado a US$ 86,28 e grande volatilidade diária. O euro era transacionado em forte queda para US$ 1,115 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,80%. O ouro e a prata com fortes quedas na Comex, e commodities agrícolas com desempenho misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro, negociado em Qingdao, na China, registrou alta de 0,81%, com a tonelada em US$ 139,62.

Aqui, a FGV anunciou que a confiança da indústria de janeiro caiu 1,7 ponto, para 98,4 pontos, sendo essa a sexta queda seguida. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) estimou que os preços de imóveis no Brasil subiram 16,3% em 2021 e 21,1% em São Paulo, e que as questões eleitorais interferem no otimismo. Sobre isso, o Citi se posicionou dizendo que aprovar reformas no Brasil em ano eleitoral está próximo do impossível e que não vê apetite para consolidação fiscal.

Depois de ontem, com o Fed e os indicadores divulgados aqui, as projeções de conjuntura estão mudando, com expectativa de inflação de 2022 subindo para mais próxima de 6% e taxa Selic ultrapassando a casa de 12%.

No mercado, dia de dólar voltando a mostrar queda no segmento doméstico, fechando o dia em -0,32% e cotado a R$ 5,42. Na Bovespa, na sessão do último dia 25, os investidores estrangeiros voltaram a alocar recursos (salvo engano todo mês de entradas) no montante de R$ 1,9 bilhão, deixando janeiro com ingresso líquido de R$ 23 bilhões.

No mercado acionário, dia de alta de 1,13% na Bolsa de Londres, Paris com +0,60% e Frankfurt com +0,42%. Madri e Milão com altas de 0,95% e 0,99%, respectivamente. No mercado americano, faltando ainda meia hora para o encerramento, Dow Jones marcava -0,30% e Nasdaq estava com -1,60%. Na Bovespa, dia positivo com o índice na máxima em 113.057 pontos e, faltando também meia hora, tínhamos +0,91% e índice em 112.299 pontos.

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Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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