Mesmo com produção normalizada, preço do cobre não para de subir

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Após apresentar uma forte queda no primeiro trimestre, o cobre vem se tornando a estrela dos metais e chegou a alcançar, em julho, a maior cotação em dois anos. Antes impulsionada pela queda na produção, ocasionada pela pandemia de Covid-19 que obrigou empresas em todo o mundo a diminuir o ritmo, a alta no preço não sofreu reflexo com a recuperação da produção chilena nos últimos meses, o que sugere que ele pode ter sido beneficiado com a recente fraqueza do dólar americano.

A cotação do cobre metálico subiu 3,5% para US$ 6.633 a tonelada na semana de abertura em julho da London Metal Exchange (LME) – o que é uma diferença considerável quando em relação à baixa de US$ 4.320 a tonelada em meados de março. A previsão dos especialistas na commodity é que o preço continue a subir pelos próximos 18 meses.

O bom resultado é devido ainda ao otimismo nos mercados financeiros chineses, cujos ganhos das ações locais superam a alta de todos os mercados mundiais. Preços mais altos vão beneficiar mineradoras como a Freeport-McMoRan, a maior empresa de cobre com papéis listados em bolsa.

Outro fator de impulsionamento de preços é a intensidade do uso de cobre em veículos elétricos, no uso de energia renovável e outras iniciativas destinadas a reduzir as emissões de carbono das indústrias de transporte e geração elétrica, principalmente em países da União Europeia, o que resulta numa demanda crescente do metal.

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Apesar do início do relaxamento no isolamento e nas precauções sanitárias impostas pela pandemia, a estatal chilena Codelco, maior produtora mundial de cobre, tem adotado uma abordagem cautelosa para retomar os seus grandes projetos de desenvolvimento, que foram suspensos no intuito de proteger seus trabalhadores. Uma das obras que podem ser retomadas em breve é o projeto subterrâneo Chuquicamata, mesmo que a previsão de ter a força completa de trabalho seja só para janeiro.

Mesmo com a retomada de projetos, considerados cruciais para que a estatal chilena mantenha sua capacidade de produção e, assim, alivie as preocupações do mercado sobre possíveis cortes no fornecimento, a paralisação parcial durante a pandemia pode ter consequências graves para a empresa.

Com décadas de subinvestimento, a Codelco precisará gastar mais de US$ 40 bilhões na próxima década apenas para manter a produção. A Cochilco, agência de cobre do governo, anunciou que a produção de cobre do Chile deve cair 1,2% em 2020.

Outra empresa a atuar no Chile, a canadense Teck Resources foi igualmente cautelosa ao iniciar as obras de expansão em sua mina Quebrada Blanca.

Não é de se espantar que o preço do cobre tenha sofrido tamanha oscilação desde o primeiro trimestre, por ocasião da pandemia de Covid-19, já que ele é uma das commodities mais sensíveis às condições econômicas. A surpresa do mercado é quanto à também alta nos preços do ouro e da prata, que, originalmente, têm um comportamento oposto em relação ao cobre. Ou seja, quando um cai, os outros sobem, e vice-versa.

O ouro, que apresentou leve queda no início da pandemia, subiu 30% desde o final de março; e a prata, que caiu 34% no 1º trimestre, desde então subiu impressionantes 98%. Este comportamento pode refletir a confusão e as divisões entre os investidores sobre o curso provável do vírus e seus impactos econômicos e de mercado.

A alta do cobre explica-se inicialmente pela incidência do coronavírus no Chile e no Peru, que produzem, juntos, cerca de 40% do cobre mundial, afetando o fornecimento. Como a China parece estar emergindo mais rapidamente do que o resto do mundo dos efeitos econômicos da pandemia, a demanda continua em alta.

A trajetória dos preços do ouro e da prata pode significar que os investidores em metais preciosos não estão tão confiantes de que a pandemia terminará tão logo ou tão bem quanto os investidores em ações parecem acreditar, já que o ouro sempre foi um investimento de refúgio em tempos voláteis e ameaçadores, o que se encaixa na descrição de uma pandemia. Além da crise de saúde e suas implicações econômicas, há ainda a escalada das tensões entre as duas maiores economias do mundo, os EUA e a China.

 

Rodrigo Scolaro

Economista da Costdrivers.

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