Miss Kim e o desafio ao mundo

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Há alguns meses, a opinião pública chegou a cogitar que o Grande Líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, estivesse gravemente doente ou prestes a morrer, devido a coronavírus, e que Kim Yo-Jong, sua irmã, estaria prestes a assumir as rédeas do governo. Entretanto, mister Kim reapareceu em público, mas o peso político de sua irmã continuou a crescer, através de atitudes, declarações inflamadas e ameaças aos vizinhos sul-coreanos.

Quem é e como surgiu miss Kim? Kim Jong-Un e sua irmã Kim Yo-Jong passaram uma infância de ouro, juntos, em Wonsan, considerada a Monte Carlo da Coreia do Norte, longe de perigos e ameaças. Enquanto o país vivia uma feroz carestia, na segunda metade dos anos 90, as duas crianças cresceram isoladas do resto do mundo, viajando entre uma suntuosa residência, em Pyongyang, a capital, e o balneário de Wonsan.

Hoje, adultos, eles ocupam posições significativas no sistema político norte-coreano. Em 2011, Kim Jong Un sucedeu seu pai, Kim Jong Il, tornando-se o próprio presidente da Coreia do Norte, o terceiro líder da dinastia Kim. Miss Kim permaneceu nas sombras até maio passado, quando apareceu nas manchetes dos jornais internacionais após o misterioso desaparecimento de seu irmão.

A Kcna, agência de notícias norte-coreana, comunicou a nova iniciativa da Srta. Kim. A irmã de Kim Jong-Un informou que Pyongyang está preparando ações contra Seul. Iniciativas que podem, igualmente, incluir o uso do exército.

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Miss Kim Yo-Jong, que está oficialmente atuando como vice-diretora do Departamento da Frente Unida do Partido Trabalhista Coreano, foi muito clara: “Sinto que chegou a hora de romper com as autoridades sul-coreanas. Em breve, tomaremos a próxima ação.” Nesta declaração, a Coreia do Sul é definida como inimiga.

Exercendo meu poder, autorizado pelo Chefe Supremo, pelo nosso Partido e pelo Estado, dei instruções às divisões do departamento encarregado de assuntos com o inimigo, para executar a próxima ação de maneira decisiva”, continua o texto, no qual sugere-se o iminente fechamento do escritório de cooperação.

O direito de tomar a próxima ação contra o inimigo será confiado ao Estado-Maior do exército”, acrescentou Kim Yo-jong. Em suma, podemos concluir que o colapso das relações entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, é iminente.

Quais os motivos dessa mudança de tons? A senhorita Kim Yo-Jong ameaçou ação militar contra Seul depois de criticá-lo pelo declínio nas relações bilaterais, usando como casus belli a incapacidade dos sulistas de impedir que seus cidadãos enviassem folhetos anti-Pyongyang, a capital norte-coreana, além do paralelo 38. Atenção à terminologia: Miss Kim classificou Seul como “inimiga”, enquanto o escritório de ligação intercoreano, localizado na cidade fronteiriça de Kaesong, foi chamado de “inútil”.

Portanto, vale a pena se perguntar qual poderia ser o motivo dessa mudança de tons da Coreia do Norte, mas, sobretudo, por que as declarações de fogo vieram da boca de Kim Yo-Jong e não da de Kim Jong Un. Existem vários aspectos a serem considerados. Primeiro, é provável que Pyongyang busque uma crise diplomática para forçar Seul a se sentar à mesa de negociações. Nesse caso, os norte-coreanos poderiam obter ajuda vital para refrescar uma economia em dificuldade, após a pandemia de Covid (mesmo que o governo norte-coreano declare oficialmente que não há contágio no país).

Em segundo lugar, permanecendo no assunto de problemas internos, a srta. Kim poderia estar tentando desviar a atenção da população norte-coreana das várias e graves dificuldades, soprando sobre o fogo do nacionalismo. Por último, mas não menos importante, a “terrível” irmã de Kim Jong Un estaria procurando, de todas as formas, fortalecer seu status, tanto aos olhos da elite norte-coreana, quanto aos olhos de todo o mundo. A sensação, no entanto, é que ninguém, no Norte, quer entrar em uma guerra real. Se alguma coisa acontecer, é provável que Pyongyang desencadeie um episódio limitado e facilmente controlável.

Edoardo Pacelli

Jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), é editor da revista Italiamiga.

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