Tão atual quanto se fosse hoje, Ray Anderson (28 de julho de 1934–8 de agosto de 2011) foi a carismática liderança na busca da sustentabilidade da empresa por ele fundada, a Interface Inc. Provocado pelo pessoal engajado na força de vendas da empresa, Anderson aceitou o desafio de atingir, até 2020, o ponto mais alto no “Monte da Sustentabilidade”.
Assim foi como ele denominou o objetivo da pegada ecológica zero da Interface, maior produtora mundial de carpetes modulares. Após a sua morte, o desafio foi rebatizado como “Mission Zero”. Realizações da caminhada vitoriosa de Ray Anderson foram aqui discutidas pela primeira vez, na edição da coluna Empresa-Cidadã de 31 de agosto de 2011 (“O Monte da sustentabilidade”).
Há vinte anos na coluna (28/8/2001)
“O céu se ganha com favores.
Se fosse com merecimento, você ficaria de fora
e seu cachorro estaria lá dentro.”
Mark Twain (1835-1910), com pseudônimo de Samuel Laughorne Clemens.
Estudo realizado pelo Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) mostra que, em 2000, foram instaurados 229 processos, dos quais 39% resultaram em retirada dos anúncios da mídia. No primeiro semestre de 2001, foram instaurados 162 processos, dos quais 44,6% resultaram em suspensão da propaganda e 22,3% em alteração. Questionou-se a apresentação verdadeira do produto ou serviço em 40,8% dos casos, em 16,4% questionou-se a adequação às leis e em 12,8% a omissão de advertência importante. Numa demonstração do muito que ainda há por avançar, verificou-se que, na iniciativa de abertura dos processos, apenas 3,7% coube a consumidores.
Ray Anderson foi generoso na divulgação dos avanços conquistados pela Interface, com o propósito declarado de permitir que o aprendizado fosse replicado por outros, no que ele chamava de “ripple” (ondulações, como as geradas por uma pedrinha atirada no espelho d’água de um lago). Ele morreu antes de ver o desafio de chegar a 2020 no ponto mais alto do Monte da Sustentabilidade. No entanto, deixou lições de consciência ética valorizadas por sua liderança carismática.
Do 25º Relatório de Sustentabilidade do grupo, extraímos o seguinte. “Em 1994, inspirados por nossos clientes, decidimos eliminar nosso impacto negativo no meio ambiente. Hoje, estamos orgulhosos de ter cumprido nosso compromisso da Mission Zero®, em parte por nos tornarmos o primeiro fabricante global de pisos a vender todos os produtos neutros em carbono ao longo de todo o seu ciclo de vida. Ao longo do caminho, aprendemos algumas coisas sobre modelos de negócios, resolvendo desafios materiais e sonhando alto”.
“Nossa busca pela sustentabilidade começou em 1994, quando ousamos imaginar um negócio sem impacto ambiental. Revolucionamos a fabricação de carpetes modulares, transformando nossos produtos de piso e a Indústria para sempre.”
“Como empresa, vivemos zero todos os dias. Desde a produção dos nossos produtos até o relacionamento que mantemos com nossos clientes, a forma como trabalhamos é orientada por nossa missão de ajudar a restaurar a saúde do planeta. A jornada para práticas de negócios mais sustentáveis é contínua, assim como nosso compromisso em administrar nossos negócios de uma forma que crie um clima adequado para a vida. Ao longo do caminho, aprendemos algumas coisas sobre modelos de negócios, resolvendo desafios materiais e sonhando alto.
Pedagogia da sustentabilidade
A busca diária por sustentabilidade permitiu à Interface esboçar uma pedagogia própria da sustentabilidade, resumida a seguir em “quatro pilares: 1º – Viva Zero – Faça negócios de maneira a retribuir o que for retirado da Terra; 2º – Ame o Carbono – Pare de ver o carbono como inimigo e comece a usá-lo como um recurso; 3º – Deixe a Natureza Esfriar – Apoie a capacidade da nossa biosfera de regular o clima; 4º – Lidere a Revolução Industrial – Transforme a indústria em uma força para o progresso climático.”
A divulgação das ações sociais e ambientais da organização, se motivada pelo simples interesse publicitário, em grande proporção descambará para a propaganda enganosa, se aplicarmos nela os mesmos percentuais verificados nos questionamentos apresentado ao Conar. A divulgação das ações sociais ou ambientais é benéfica quando decorre da busca de uma nova concepção de relacionamento entre os atores que fazem a sociedade, seja no papel de acionista, de cliente, de trabalhador ou de fornecedor. Cada vez menos no papel de indiferente.