Muito além de uma simplista “onda verde”, a definição, em cima da hora, de parte do eleitorado pela candidata Marina Silva comprova que o Brasil não cabe no modelito PSDB x PT que a maior parte da mídia se esforça em empurrar há pelo menos 16 anos aos brasileiros. Sem conhecer direito a candidata verde, os eleitores compraram a imagem favorável de Marina na mídia, na esperança de ter uma opção ao virtual bipartidarismo. O irônico é que, na questão mais decisiva de um governo, a Economia, os três candidatos mais votados desfrutem a mesma visão, ainda que com nuanças diferentes, e sem explicitá-la ao eleitorado.
Marina Santana
Em 2007, o Flamengo, com meia dúzia de jogos a menos do que a maioria dos demais clubes, passou 13 rodadas na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Com a chegada de Joel Santana ao comando do time e a contração de reforços importantes, o time engatou uma recuperação impressionante, vencendo oito das 11 partidas restantes. Dessa forma, terminou a competição em terceiro lugar, mas a 20 pontos – 61 a 71 – do São Paulo, campeão daquele ano.
A arrancada do time mobilizou setores da imprensa para defenderem a eleição de Joel como melhor treinador do Brasileiro. O movimento, porém, foi abortado pelo estilo direto e sutil como um hipopótamo de Muricy Ramalho, então à frente do São Paulo, ao ser indagado quem merecia a honraria: “Sou eu, claro. Fui campeão com quatro rodadas de antecedência.”
Guardadas as devidas proporções e as especificidades dos dois eventos, é o que parte da imprensa tenta fazer ao buscar transformar a boa performance de Marina em vencedora do primeiro turno. Ou seja, uma espécie de Marina Santana de 2010.
‘Onda branca’
É importante lembrar que, embora expressiva, a votação de Marina Silva, de19.632.138 de votos, é 4.948.824 inferior aos 24.580.962 de brasileiros que se abstiveram de votar, domingo. Ou seja, a “onda branca” superou a “onda verde”.
Grandeza
Esta coluna espera que, no segundo turno, Dilma e Serra troquem os marqueteiros e as campanhas pasteurizadas pelo debate dos grandes temas nacionais. E que quem tiver propostas prejudiciais à grande maioria do eleitorado, como redução de direitos trabalhistas e previdenciários, ou a defesa da hegemonia do setor financeiro em detrimento do produtivo, tenha a coragem moral de explicitá-las. Não é demais repetir que uma das principais causas do distanciamento do povo da política deve-se à agenda oculta de candidatos que, eleitos, têm práticas antagônicas às promessas de campanha. São os pais e mães do voto tiririca.
Verde e amarela
A Petrobras completou, no dia da eleição, 57 anos de existência. Nestas quase seis décadas, tornou-se a segunda maior empresa de petróleo do mundo; multiplicou praticamente por mil a produção brasileira de petróleo (de 2,7 mil barris por dia para 2,6 milhões diários); as reservas pularam de 170 mil para 15 bilhões de barris, no Brasil e no exterior, marca que poderá dobrar com as reservas do pré-sal.
A data de aniversário não poderia ter sido mais simbólica. Afinal, ainda que não declarado, a manutenção da Petrobras como estatal está em jogo nestas eleições. Não se pode esquecer a tentativa de se criar a Petrobrax. O que se espera é que a questão seja colocada às claras no segundo turno, para ninguém votar em gato por lebre. E que tentativas de privatizar a Petrobras e entregar o pré-sal às multinacionais sejam enterradas, seja quem for o presidente escolhido.
Dedo do Tio Sam
De acordo com uma pesquisa realizada no Equador e divulgada nesta segunda-feira, 50% dos equatorianos consideram que os Estados Unidos estiveram por trás da revolta policial da semana passada. O estudo da Asisa Research também revela que 65% dos equatorianos consideram que a revolta foi apoiada, mesmo que não diretamente, por pessoas próximas ao ex-presidente Lucio Gutierrez. Dois em cada três equatorianos apoiaram a decisão do governo de obrigar os meios de comunicação a formar uma cadeia com pronunciamentos oficiais de apoio à democracia.