Modernismo, auto-estima e o Brasil

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Moderno é tudo que está na moda. Para muitos europeus, o que importa não é o moderno, mas o que é eterno. Todavia, para nós brasileiros o moderno importa muito.
O termo modernismo foi utilizado, internacionalmente, para designar uma ampla tendência vanguardista, de romper com padrões rígidos e produzir uma criação mais livre, verificada a partir do final do século XIX. É uma reação às academias de arte e causa o surgimento de diversos movimentos como o expressionismo, o cubismo, o dadaismo, o realismo e o futurismo.
A primeira exposição moderna no Brasil foi realizada, em 1913, por Lasar Segall. Em 1917, Anita Malfatti se tornou a primeira brasileira a expor arte moderna., causando uma grande controvérsia.
Contudo, no Brasil o termo modernismo não seguiu seus cânones universais e teve vida própria. Modernismo denomina o movimento desencadeado pela Semana de Arte Moderna de 1922, na qual foi defendida a mescla de certos movimentos artísticos internacionais à cultura nacional, incorporando-os como se nossos fossem, o que escandalizou público e crítica.
Este escândalo na verdade nos fez capaz. Mais que isto, nos deu auto-estima. Até então, cem anos passados da independência, o Brasil não era independente culturalmente. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi só o início de um processo que nos fez sentir capazes de construir um novo processo histórico, de construir uma nova civilização nos trópicos, de nos sentirmos criadores e não criaturas. Em 1924, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral lançam o Manifesto Pau-Brasil, que enfatiza a criação de uma arte brasileira, com a absorção crítica de tendências européias. O Manifesto Antropofágico, de 1928 radicaliza essas idéias propondo a “digestão” de influências e valores estrangeiros para impor um caráter brasileiro à arte e à literatura. No mesmo ano, Gilberto Freyre lança o Manifesto Regionalista. Já o Grupo da Anta, liderado por Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo, segue outro rumo. Fecham-se às vanguardas européias e iniciam um movimento denominado verde-amarelismo, no qual aderem à idéias políticas que prenunciam o integralismo.
O principal veículo de idéias modernistas foi a Revista Klaxon, lançada em maio de 1922. Citaremos os mais marcantes autores do movimento modernista no Brasil e suas principais obras, na publicação de textos: Oswald de Andrade (Serafim Ponte Grande; Pau-Brasil; Memórias Sentimentais de João Miramar; O Homem e o Cavalo; O Rei da Vela); Mário de Andrade(Há uma Gota de Sangue em Cada Poema-Pré-Modernista-; Paulicéia Desvairada; Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter; A Escrava que não é Isaura; Lira Paulistana; Belazarte); e nas belas artes: Lasar Segall (Guerra; Pogrom; Navio de Imigrantes); Anita Malfatti (A mulher de cabelos verdes [1917]; O homem amarelo [1917]); Tarsila do Amaral (Mamoeiro; Os operários; O Abaporu [1928]; Segunda Classe); Di Cavalcanti (Samba [1928];Cinco moças em Guaratinguetá [1930]; Mulata Sentada [1936]; Ciganos [1940]; Cenas da Bahia [1960]); Cândido Portinari (Café; Os Retirantes; Tiradentes; Chegada de Dom JoãoVI; Descobrimento do Brasil; Guerra e Paz [sede da ONU]); Ismael Nery (Dois Amantes; Casal; Homem com Foice; Mulher e Cão; Duas Figuras; Paisagem com Casas); Victor Brecheret (Monumento às Bandeiras; Ídolo; Depois do Banho; O Índio e Sasuapara). Destes citamos as obras e fomos injustos não citando, também, as daqueles outros integrantes principais, que adiante listaremos do movimento que redescobriu o Brasil, algo que só não fazemos pela exiguidade de espaço. Os outros brasileiros que nos levaram a acreditar no Brasil foram, na literatura: Monteiro Lobato; Menotti Del Picchia; Graça Aranha e Cassiano Ricardo; e nas artes plásticas: Flávio de Carvalho; Celso Antônio; Bruno Giorgi; Oswaldo Goeldi; Lívio Abramo; Regina Graz; Jonh Graz; Cícero Dias; Vicente do Rego Monteiro; Alberto Guignard; Milton da Costa; Alfredo Volpi e Rebolo.
Estes homens e mulheres criaram, no campo da cultura, valores que nos transformaram. Criaram um Brasil novo que se amava. Sob a égide deste Brasil novo, nos cinqüenta anos que vão de 1930 a 1980, nos desenvolvemos como nenhuma nação deste planeta. Entretanto, a partir da década de oitenta, o deslumbramento com o moderno, vindo do norte, envelheceu o que era novo, tornando tudo velho. Hoje, o Brasil não se sente capaz. Certamente é muito mais capaz do que quando aqueles pioneiros acreditaram no Brasil. Contudo, não se sente capaz. Para haver desenvolvimento vários fatores são necessários, mas um é primordial,: ter auto-estima, sentir-se capaz. Por isto aproveito este artigo e conclamo as secretarias de Cultura dos governos estaduais daqueles que continuam a acreditar no Brasil e não se globalizaram, como Minas Gerais, Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul, a promoverem, no ano 2000 ou 2001, uma Semana de Arte do Brasil, que promova os grandes escritores e artistas que nós temos e os nossos valores, nos demais campos da cultura. Se assim o fizermos, retomaremos nossa auto-estima; que teimam em tentar nos retirar e nos descobriremos muito mais capazes, capazes até de nos tornarmos o centro do mundo no século XXI.

Darc Costa
Membro do Conselho Editorial do MONITOR MERCANTIL e do Conselho Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Cebres).

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