Morre Jean-Marie Le Pen

Aos 96 anos, ex-líder da extrema direita francesa, ao longo da carreira, deu várias declarações de cunho xenofóbico e racista

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Jean-Marie Le Pen (Foto: Manuel/FN01)
Jean-Marie Le Pen (Foto: Manuel/FN01)

Morreu nesta terça-feira o ex-líder da extrema direita francesa Jean-Marie Le Pen. A informação foi anunciada por sua família à Agência France Presse.

“Jean-Marie Le Pen, rodeado pela sua família e amigos, foi chamado de volta a Deus às 12h (8h em Brasília) de terça-feira”, declarou sua família num comunicado enviado à AFP.

Le Pen, que morreu aos 96 anos, na região de Paris, em um hospital onde estava internado há várias semanas, assegurou a longevidade da extrema direita na França nos últimos 50 anos.

Desde o seu primeiro mandato em 1956, até à despedida da vida política em 2019, o líder direitista teve um impacto profundo na vida política francesa, tendo chegado ao segundo turno das eleições presidenciais de 2002, que perdeu contra Jacques Chirac.

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A sua filha, Marine Le Pen, sucedeu-lhe na liderança do partido que veio a se transformar nos últimos anos, inclusive com uma mudança de nome. O agora denominado Rassemblement National (Reunião Nacional) é uma das principais forças políticas do país.

Ao longo da carreira, Le Pen deu várias declarações de cunho xenofóbico, racista e antissemita. É conhecido por contestar fatos históricos sobre o Holocausto e também por ser cético quanto ao aquecimento global – em certa ocasião, abriu uma melancia e sugeriu que era como os defensores do aquecimento global – verdes por fora e vermelhos por dentro, ou “comunistas disfarçados”.

Em 1987, Le Pen defendeu sugestão do médico e político de extrema direita francês François Bachelot: isolamento total de portadores do vírus HIV, chamando os locais teóricos de “sidatórios” (da sigla da AIDS em francês, SIDA).

Em 1995, foi irônico ao responder ao cantor de origem judia Patrick Bruel, que decidiu não se apresentar em Toulon, comandada pela Frente Nacional. “A cidade de Toulon terá que seguir em frente sem as vocalizações do cantor Benguigui”, disse Le Pen, citando o primeiro nome de batismo de Bachelot.

Em 1997, acusou o presidente francês Jacques Chirac de estar na “folha de pagamento de organizações judaicas”.

Antes e depois da Copa do Mundo de 2006, em que a França foi vice-campeã, Le Pen sugeriu que a seleção francesa tinha “jogadores de cor” demais, que o povo “não pode se reconhecer na seleção nacional”, e que “talvez o treinador tenha exagerado na proporção de jogadores de cor e deveria ter sido um pouco mais cuidadoso”. O zagueiro do time francês, Lilian Thuram, respondeu que “não importa a cor, somos todos franceses”.

Em 2006, Le Pen foi condenado a pagar um total de € 15 mil por incitação ao ódio, ao afirmar que um dia os muçulmanos governariam a França “e causarão medo nos corações da população não muçulmana”.

Durante a campanha presidencial de 2007, Le Pen chamou o adversário político Nicolas Sarkozy – que é descendente de judeus gregos e húngaros – de “estrangeiro”, também se referindo a ele como “O Estrangeiro”.

Em 2014, ao comentar a explosão demográfica do mundo e o risco da França sofrer um colapso imigratório, respondeu que o vírus Ebola seria uma solução, causando choque no país. As declarações receberam duras condenações, sobretudo de membros do governo francês.

Também em 2014, perguntado sobre a decisão de celebridades judias – como o cantor Patrick Bruel, o ex-campeão de tênis Yannick Noah, e comediante Guy Bedos – de não se apresentarem em cidades comandadas por políticos da Frente Nacional, Le Pen disse num vídeo do partido que “na próxima vez faremos uma fornada”

Questionado, Le Pen alegou que a palavra “fornada” não tinha qualquer relação com antissemitismo e as execuções em câmaras de gás durante a II Guerra Mundial, exceto para “os inimigos políticos ou os imbecis”.

O partido Frente Nacional, que buscava alianças para apoiar Marine, disse através de seu vice-presidente (e marido de Marine) Louis Alliot, que a proferir a frase foi “estúpido politicamente e constrangedor”, ao que Len Pen respondeu o chamando de “imbecil”. Órgãos de defesa de direitos humanos o criticaram; a Liga Internacional Contra o Racismo e o Antissemitismo disse que o “antissemitismo é o DNA da Frente Nacional”.

Em 2018, Le Pen foi alvo de investigação (que também visava sua filha Marine) por uso de fundos destinados à contratação de assessores na Eurocâmara e que, na realidade, teriam sido utilizados para pagar funcionários de seu partido por vários anos. Segundo os investigadores, cerca de € 7 milhões teriam sido usados indevidamente pela legenda de Le Pen. Isso o levou a perder a imunidade parlamentar no ano seguinte.

Le Pen defendeu até seu último discurso como deputado, aos 90 anos de idade, que “a invasão de imigrantes” era uma “ameaça”, e que deveriam ser tomadas “todas as medidas necessárias para reprimi-los”.XXX24XXX Segundo ele, imigrantes substituiriam os “verdadeiros” franceses ao “invadir” o país e o mudariam com suas cultura e religiões.

Até meados de 2004, Le Pen havia sido condenado seis vezes por declarações de cunho antissemita, racista e de incitação ao ódio. Em 1987, Le Pen sugeriu que talvez as câmaras de gás não tenham existido, já que não as tinha visto; também negou acreditar que tenham sido mortos 6 milhões de judeus, dizendo que a deportação de 76 mil judeus da França para campos de concentração nazistas, onde foram mortos, é questão trivial, e que “não houve assassinatos em massa como dizem”. Essas declarações o levaram a uma condenação, nos termos da Lei Gayssot, a pagar 1,2 milhão de francos (€ 183 .00).

Em 1996, Le Pen teve sua imunidade parlamentar anulada para que pudesse ser julgado por um tribunal alemão, por declarações sobre as execuções em câmaras de gás na II Guerra, que incluíam “Se você pegar um livro de mil páginas sobre a II Guerra Mundial, os campos de concentração ocupam apenas duas páginas e as câmaras de gás de 10 a 15 linhas. Isso é o que chamamos de detalhe”. Em junho de 1999, um tribunal de Munique considerou que a frase “minimizava o Holocausto, que causou a morte de seis milhões de judeus”, e condenou e multou Le Pen.

Em abril de 2000, Le Pen foi condenado por agredir durante as eleições gerais de 1997 a candidata Annette Peulvast-Bergeal, do Partido Socialista. Isto o levou a perder o assento no Parlamento em 2003, e a ficar afastado da busca por cargos por um ano.

Em 2005 e 2008, Le Pen foi condenado, em ambos os casos em € 10 mil, por “incitação à discriminação, ao ódio e à violência contra um grupo de pessoas”, quanto a declarações sobre muçulmanos na França.

Em 2015, Le Pen voltou a minimizar a importância das execuções em câmaras de gás, afirmando que foram “apenas um detalhe da história” e comparando seu uso a outros tipos de morte em guerras como “uma explosão que te esquarteja a barriga, uma bomba que te decapita, uma câmara que te asfixia”, e que “todas eram desprezíveis”.

Na ocasião, sua filha Marine não apoiou as falas e eles cortaram relações. Le Pen foi condenado no ano seguinte por um tribunal de Paris a pagar € 30 mil como multa às três associações que moveram o processo por contestar crimes contra a humanidade. O juízes também decidiram que o comunicado judicial sobre a decisão deveria ser publicado em três jornais da França.

Em 2016, Le Pen foi condenado a pagar € 5 mil por incitar o ódio contra ciganos. Numa reunião pública no sul da França em 2013, o líder de extrema direita afirmou que a presença de “algumas centenas deles” na cidade de Nice era “urticante e fedorenta”.

Com informações da Agência Brasil, citando a RTP

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