Morreu nesta terça-feira o ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, aos 89 anos de idade. Diagnosticado com câncer de esôfago em abril de 2024, ele anunciou, em janeiro deste ano, que o tumor havia se espalhado para o fígado e, “por ser um idoso”, seu corpo não aguentaria novos tratamentos. Dias antes da morte, sua mulher, a ex-vice-presidente Lucía Topolanski, disse que Mujica estava recebendo cuidados paliativos para aliviar a dor.
José Alberto Mujica Cordano (seu nome) nasceu em Montevidéu, em 20 de maio de 1935 e foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. Após deixar a presidência, foi senador de março de 2015 até agosto de 2018.
Durante seus anos de juventude na década de 1960, Mujica foi membro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, um grupo guerrilheiro de extrema esquerda inspirado na Revolução Cubana. Na guerrilha, coparticipou do episódio conhecido como Tomada de Pando, ocorrido em 8 de outubro de 1969, quando os tupamaros tomaram a delegacia de polícia, o quartel do corpo de bombeiros, a central telefônica e vários bancos da cidade de Pando, situada a 32 quilômetros de Montevidéu.
Em 1972, foi preso e aprisionado junto a grande parte dos membros do grupo. Após a instauração da ditadura civil-militar no ano seguinte, 1973, foi um dos “reféns” que foram usados para ameaçar a organização de não retomar as atividades.
Em 1989, foi eleito deputado e posteriormente senador pela Frente Ampla, para depois ocupar o cargo de ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca entre 2005 e 2008 durante o primeiro governo de Tabaré Vázquez. Após ocupar a Presidência, foi eleito senador novamente nas eleições de 2014 e nas de 2019.
Exerceu o cargo de presidente Pro tempore do Mercosul até 12 de julho de 2013, quando foi sucedido pelo estreante venezuelano Nicolás Maduro (tal cargo é um mandato rotativo de seis meses exercido entre presidentes dos países membros). Junto de outros líderes de esquerda, fundou o Grupo de Puebla, criada no México em 12 de julho de 2019.
Ao lado da mulher, Lucía Topolansky, Mujica chamou atenção como um chefe de Estado de vida simples: morava em um sítio nos arredores da capital e dirigia diariamente seu próprio Fusca, ano 1987, até a sede do Executivo, na Praça Independência.
Mujica passou os últimos anos de sua vida cuidando de sua horta. Acredita-se que doava 90% do salário como ex-presidente para projetos de combate à pobreza.
Defensor da integração dos países latino-americanos e caribenhos, Mujica se tornou referência da esquerda do continente durante uma época em que representantes da esquerda e centro-esquerda assumiram diversos governos da região, como Venezuela, Argentina, Equador, Bolívia e Brasil.
“Me dediquei a mudar o mundo e não mudei nada, mas me diverti. E gerei muitos amigos e muitos aliados nessa loucura de mudar o mundo para melhorá-lo. E dei sentido à minha vida”, revelou o político em entrevista ao jornal espanhol El País, em novembro de 2024.
Na Presidência, Pepe Mujica chamou atenção por promover uma legislação considerada progressista com a descriminalização do aborto, a lei do casamento igualitário, que permitiu casais homossexuais adotarem filhos; além da legalização da maconha.
Doutor e professor em história na Universidade de Brasília (UnB), Rafael Nascimento destacou que a pobreza no país caiu de 39% em 2004 para 11,5% em 2015. Além disso, houve expansão dos programas de transferência de renda e aumento do salário mínimo, além da distribuição de laptops para estudantes e professores e políticas habitacionais para famílias de baixa renda.
“Mujica é celebrado não apenas por suas realizações políticas, mas por sua ética de vida, por sua simplicidade e por sua luta por justiça social! Ele defende valores como a solidariedade, o respeito à natureza e o consumo consciente, tornando-se uma referência global”, destacou o especialista.
“Ou nos integramos, ou não somos nada”, costumava dizer Pepe Mujica, que sempre lembrava que a América Latina possui apenas cerca de 7% da população mundial. Para ele, a integração dos países da região é fundamental para o nosso desenvolvimento.
Mujica argumentava que a história da humanidade é definida fora do continente e que apenas a união dos países da região, independentemente se os governos são de direita ou esquerda, seria capaz de interferir nas mudanças impostas de fora.
“Após as independências, era mais importante comunicar-se com Paris ou Londres do que entre nós. E agora percebemos que, para defender a pouca soberania que nos resta em um mundo cada vez mais global, se não nos unirmos, não existimos. Precisamos, para nosso próprio interesse, de uma política de colaboração entre todos os latino-americanos para multiplicar nossa força no mundo”, afirmou Mujica, em outubro de 2023, quando participou do lançamento da Jornada Latino-americana e Caribenha de Integração dos Povos, em Foz do Iguaçu (PR).
Com informações d’O Globo, da Wikipedia e da Agência Brasil