Mais de 70% da produção de cobre, cobalto e lítio – minerais essenciais para energias que não utilizam hidrocarbonetos – poderão enfrentar risco por causa de falta de água até 2050. As culturas alimentares também encaram ameaças significativas: 90% da produção mundial de arroz poderá sofrer estresse térmico. Mais de 30% do milho e 50% trigo poderão enfrentar um risco significativo por causa da seca até 2050.
Os alertas constam do relatório “Risco climático de nove commodities: protegendo pessoas e prosperidade”, publicado recentemente pela consultoria PwC.
O estudo, que analisou nove commodities entre elas minerais críticos (cobre, cobalto, lítio), culturas essenciais (trigo, arroz, milho) e metais vitais (zinco, ferro, alumínio), conclui que, embora a redução das emissões de carbono diminuam os riscos relativos a calor e seca, os principais produtos ainda enfrentarão um estresse significativo, mesmo sob um cenário de baixas emissões.
“Estamos vivenciando no Brasil exemplos de eventos climáticos extremos, as recentes chuvas na Região Sul. As mudanças climáticas são uma realidade, e é imperativo que as empresas invistam em medidas para reduzir as emissões e os impactos climáticos bem como medidas para adaptar as suas operações ao novo contexto mundial”, comenta Patrícia Seoane, sócia da PwC Brasil e líder para o segmento de Mineração.
Menos de 10% da produção de cobre enfrenta hoje um risco de seca avaliado como significativo ou maior, que deve aumentar para mais de 50%, em um cenário de baixas emissões até 2050, e mais de 70%, em um cenário de emissões elevadas, segundo o estudo. Cobalto, cobre e lítio são essenciais para tecnologias eletrônicas e de energia.
“No Brasil, por exemplo, as secas extremas podem reduzir a disponibilidade de água necessária para as operações de mineração e processamento. A água é essencial em muitos processos de mineração, desde a extração até o processamento e a limpeza de minérios. A escassez de água pode levar a interrupções na produção ou aumentar os custos de operação, pois as empresas podem precisar investir em sistemas de conservação de água ou transportar água de fontes distantes”, completa Patrícia Seoane.
Outros minerais também em risco com mudança climática
A pesquisa da PwC descobriu que os metais vitais enfrentam riscos cada vez maiores. Em particular, mais de 60% da produção mundial de bauxita e ferro poderá enfrentar um risco significativo ou maior, relativo ao térmico, até 2050, mesmo em um cenário de baixas emissões. Em um cenário de emissões elevadas até 2050, 40% da produção mundial de zinco poderá enfrentar um risco relativo à seca significativo ou maior (para comparar, o risco significativo atual é zero).
Todas as três culturas (trigo, arroz, milho) enfrentam riscos crescentes decorrentes do estresse térmico e da seca. Juntas, essas três culturas representam 42% das calorias que as pessoas consomem. O risco mais generalizado e grave é para o arroz: cerca de 90% da produção enfrentará um risco significativo ou maior relativo ao estresse térmico até 2050, em um cenário de emissões elevadas.
Atualmente, mais de 75% do arroz é cultivado em condições de risco térmico significativo ou maior, mostrando que não é apenas o nível de risco que importa, mas também o quão bem os produtores estão preparados para se adaptarem.
O risco de seca também está aumentando acentuadamente para as principais culturas. Atualmente, cerca de 1% do milho e do trigo enfrentam um risco significativo relativo à seca, aumentando para mais de 30% e 50%, respectivamente, em um cenário de emissões elevadas até 2050.
A produção dessas nove commodities essenciais está concentrada em um número limitado de países – muitos dos quais enfrentam riscos climáticos crescentes. Para cada recurso, pelo menos 40% – e até 85% – do fornecimento global é produzido dentro de um restrito grupo de não mais de três países.
“Embora os CEOs estejam tomando medidas para reduzir as emissões e se adaptarem às alterações climáticas, é necessário fazer mais. As empresas precisam compreender suas dependências e impactos e, em seguida, trabalhar com governos e comunidades para transformar os seus padrões de consumo e produção. É crucial não só para o sucesso contínuo de empresas individuais, mas também para a saúde geral e a prosperidade da população global”, afirma, em nota, Patrícia Seoane.