Muito por recuperar

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Alvaro Bandeira (foto divulgação)
Alvaro Bandeira (foto divulgação)

O mercado local tem muito para ser recuperado, caso haja distensão no segmento político, cujo recesso termina efetivamente hoje. Mas a realidade parece ser bem outra. De qualquer forma e só para pontuar, na Bovespa teríamos cerca de 9 mil pontos do índice para voltar a máxima já alcançada e o dólar abaixo de R$ 5 também não seria nada demais.

Ontem, os mercados nos EUA desaceleraram mais para o final da tarde e acabaram por reduzir a correção de alta da Bovespa. Encerramos com valorização de 0,59%, e índice em 122.515, cera de 2 mil pontos abaixo da máxima do dia. O dólar fechou com queda de 0,38% e cotado a R$ 5,20.

Investidores ficaram tensos com o impasse para elevação do teto da dívida dos EUA, cujo prazo expirou, e o Tesouro americano anunciou medidas emergenciais de adiar pagamento na área de previdência e suspendeu a emissão de dívidas até o final de setembro, para poder cumprir o teto. Ainda nos EUA, a Casa Branca descartou a possibilidade de voltar ao lockdown (confinamemnto) do nível de março por ter obtido progresso na imunização da população. Segundo as estatísticas, já teriam vacinado 70% da população adulta com ao menos a primeira dose da vacina.

Hoje, os mercados da Ásia encerraram o dia com comportamento de queda, mas os mercados da Europa mostravam boa recuperação desde a abertura e estão conseguindo manter. Nos EUA os índices futuros também no campo positivo e melhorando um pouco. Aqui, teríamos que seguir no processo de recuperação, mas a situação só vai melhorar na faixa de 126.500 pontos do Ibovespa. Aqui e no exterior a safra de resultados do segundo trimestre tem sido bem positiva para a precificação dos ativos e os dividendos anunciados voltaram a crescer.

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Na Austrália, o banco central manteve a taxa de juros básica estabilizada em 0,10% e também a recompra de bônus de 5 bilhões de dólares australianos por semana. Na Zona do Euro, a inflação medida pelo PPI de junho (atacado) registrou alta de 1,4%. Já o FMI, adicionou US$ 650 bilhões na conta de direitos especiais de saque para ajuda a países necessitados. No Fed, o presidente regional de St. Louis, James Bullard, segue querendo começar a reduzir as medidas adotadas na pandemia e fala em setembro.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 0,53%, com o barril cotado a US$ 71,64. O euro era transacionado em alta para US$ 1,189 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,20%. O ouro e a prata mostravam quedas na Comex e commodities agrícolas com viés de queda na Bolsa de Chicago.

No segmento local, na volta do recesso parlamentar o centro e o governo se mobilizam para acelerar a votação de projetos do Executivo, dentre eles a PEC dos precatórios, postergando pagamentos e tida como calote. Ao mesmo tempo, investidores e economistas se preocupam com a vertente de populismo fiscal e ruídos políticos. O TSE abriu investigação contra Bolsonaro por ataque ao modelo de urna eletrônica, no momento em que o Centrão também pede moderação do presidente.

A Fipe anunciou o IPC referente ao mês de julho com alta de 1,02%, maior que a previsto e também o mês mais alto desde 2001. A agenda do dia não é tão importante e vamos ficar por conta do noticiário, especialmente o político.

Expectativa de Bovespa podendo seguir exterior em alta, dólar fraco e juros em queda, no início do dia.

Agora, ficou mais clara a nossa hipótese sobre o fim do último dia de julho: o mercado ajustou mais forte do que merecia. Ontem, então, pudemos interpretar como correção da última sexta-feira, e não exatamente como recuperação. Mas tudo ficou bem melhor assim, pois estivemos mais fortes que outros mercados no exterior.

O dia começou mostrando maior propensão ao risco, com Bolsas asiáticas em boas altas e Europa também iniciando o dia forte, assim como os mercados futuros dos EUA. Isso, mesmo com o petróleo chegando a ter perdas de quase 4% para o WTI. Os indicadores PMI da atividade industrial de julho para diferentes países vieram positivos (comentamos logo cedo) e, na sequência, tivemos esse mesmo indicador positivo para Brasil e EUA.

Nos EUA, o PMI industrial de julho registrou alta para 63,4 pontos (previsão era 63,1 pontos). O ISM industrial com queda para 59,5 pontos e os investimentos em construção com alta de 0,1% em junho, após previsão de +0,5%. Os números mistos dos indicadores foram superados pela possibilidade de aprovação do pacote de infraestrutura bipartidário. Mas fica ainda a pendência de elevação do teto da dívida americana, que pode interferir na atividade normal de segmento do governo.

No mercado internacional, a segunda-feira foi dia de forte queda do petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, com perda de 3,642% e barril cotado a US$ 71,26. O euro era transacionado em leve queda para US$ 1,186, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,17%. O ouro e a prata revertendo para altas brandas na Comex, e commodities agrícolas com viés mais para negativo. O minério de ferro, negociado em Qingdao, na China, depois de perder mais de 7% na sexta-feira, mostrou alta de 1,57%, com a tonelada negociada em US$ 184,42.

No segmento local, a FGV anunciou o IPC-S de julho com alta para 0,92%, vindo de anterior em 0,64%. A confiança do empresário teve alta de 3,1 pontos em julho, para 101,9 pontos. A nova pesquisa semanal Focus trouxe poucas alterações, com a inflação do ano subindo mais uma vez para 6,79% em 2021 e alta na margem para 2022 em 3,81%, acima do centro da meta. A Selic estável para 2021 e 2022 em 7%, e PIB em alta para 5,30% em 2021 e +2,10% mantido para 2022. A produção industrial subiu para 6,38% em 2021, e 2022 com somente +2,2%. O dólar projetado para o fim do ano foi para R$ 5,10 (de R$ 5,09) e o superávit da balança comercial subiu para US$ 70,37 bilhões em 2021 (de US$ 69,70 bilhões na pesquisa anterior). O superávit da balança comercial em julho foi de US$ 7,4 bilhões, menor que o previsto, mas acumula superávit no ano de US$ 44,12 bilhões, 47,6% maior que em igual período de 2020.

O PMI industrial brasileiro subiu de 56,4 pontos para 56,7 pontos em julho. O Ipea estimou que o investimento em maio cresceu 1,6%. Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) anunciou que o faturamento real encolheu 0,9% em junho com ajuste. A Selic acima do neutro em 7% no fim do ano. O ministro Luiz Fux, do STF, rebateu críticas sobre voto eletrônico feitas por Bolsonaro, que logo em seguida voltou a criticar, deixando a pergunta: estão com medo de quê?

Aqui, o dólar teve dia de queda acompanhando performance internacional e redução do estresse da sexta-feira. No fechamento, mostrava queda de 0,38% e cotado a R$ 5,20. No segmento Bovespa da B3, na sessão do último dia 29, os investidores estrangeiros alocaram recursos no montante de R$ 938,1 milhões, deixando o saldo de julho negativo em R$ 6,12 bilhões, mas com ingressos líquidos de R$ 41,9 bilhões em 2021.

No mercado acionário, a segunda foi dia de alta de 0,70% na Bolsa de Londres, Paris com +0,95% e Frankfurt com +0,16%. Madri com alta de 0,96% e Milão em queda de 0,05%. No mercado americano, dia de Dow Jones com -0,28% e Nasdaq com +0,06%. Na Bovespa, recuperação em alta de 0,59% e índice em 122.515 pontos, desacelerando um pouco e seguindo mercado americano. Na máxima, chegamos a voltar até 124.536 pontos.

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Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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