Não se preocupe, a recessão é dada

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O PIB brasileiro deve cair, no mínimo, 5% este ano, assim como o de outras economias latino-americanas e os gigantes China e Estados Unidos. Este é quase um ponto pacífico entre os economistas que tentam manter certo otimismo na revisão das projeções. Mas sair da quarentena para movimentar a economia e evitar esta tragédia é ainda pior, pois levaria a um colapso do Sistema Único de Saúde (SUS), milhares de mortes e consequências ainda mais devastadoras para a economia.

As medidas governamentais para reduzir os impactos negativos da pandemia, que incluem o benefício de R$ 600, adiamento do pagamento de impostos etc. vão aumentar o rombo dos cofres públicos, que já vinha em um momento delicado, pois Guedes, ao contrário do que apregoou lá na campanha eleitoral, não conseguiu transformar o déficit fiscal em superávit já no primeiro ano de governo. Faltava honestidade aritmética, sim, como alertou o economista José Alexandre Scheinkman naquela época.

Liberal de carteirinha, Guedes esperneia cada vez que se fala da necessidade de aumentar os gastos públicos e não é para menos. De acordo com as projeções do secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, o déficit primário brasileiro deve fechar o ano de 2020 em R$ 500 bilhões, contra R$ 61 bilhões em 2019, mas já há projeções acima disso, caso o PIB recue 5% ou mais. O Orçamento deste ano autorizava um déficit de até R$ 124,1 bilhões. A “regra de ouro” – que proíbe o governo de emitir dívida para pagar despesas correntes, como salários – encontra-se suspensa.

O mundo como um todo sofre com as consequências da pandemia. A previsão do FMI é que a economia mundial caia 3%. E nem adianta defender a tese de que foram os comunistas chineses que fizeram isso para se dar bem. O PIB chinês registrou sua primeira queda em quase 30 anos, desde 1992 quando dados trimestrais oficiais começaram a ser publicados. E não foi uma queda qualquer. No primeiro trimestre, a economia encolheu 6,8%.

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Para os EUA, a previsão é de que seu produto recue 5%, conforme estima o presidente da distrital de Filadélfia do Federal Reserve (Fed), Patrick Harker. Já James Bullard, presidente do Fed de Saint Louis, prevê um quadro ainda pior: o PIB americano pode despencar 50% no segundo trimestre, algo inédito, com o desemprego passando de 3% para 30%.

No Brasil, ainda tenta-se manter o otimismo. O Boletim Focus demonstrou piora das estimativas, que continuam bem aquém da realidade. A mediana das projeções é de um recuo 1,96%. O percentual está muito aquém do que a própria realidade trabalhada pelo governo e outros órgãos. Guedes acredita em 4% de redução. O Instituto Internacional de Finanças (IIF) espera uma queda de 4,1%, e o FMI projeta contração de 5,3%. O Banco Mundial prevê uma retração de 5% na economia brasileira em 2020. Se este for realmente o tamanho da perda, esta será a maior retração em 58 anos, de acordo com a série histórica do Banco Central, iniciada em 1962.

A consequência da pandemia para o Brasil mostra-se ainda mais grave quando se observa que o país nem chegou a se reerguer da recessão anterior, de 2015 e 2016, quando o PIB recuou o total de 7,5%. Os dados econômicos brasileiros já não eram os melhores: sucessões de déficits fiscais, crescimento da dívida pública, elevada taxa de desemprego e a inaptidão do governo em propor medidas para alterar o rumo econômico.

O desemprego já havia subido em fevereiro, atingindo 11,6% da população e deve registrar crescimento muito maior nos meses de março e abril, junho… Isso sem contar com o corte de salários e renegociações. A recessão é fato. O que se precisa é pensar em como recuperar o leite derramado depois. Não vai ser o movimento “derruba Mandetta” ou “volta pra rua” que vai salvar o cenário. Pelo contrário, posturas como esta são fermentos a mais para a instabilidade do país das panelas.

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