No 2° trimestre de 2024, estima-se que mais de 9,8 milhões dos jovens entre 15 e 29 anos (20%) estavam sem trabalho e fora da escola, os chamados de nem-nem. Mas por que eles estavam nessa situação? Faz sentido chamá-los de nem-nem?
A questão é levantada pelo Dieese no estudo “Nem-nem ou sem-sem? Jovens querem trabalhar, mas não têm oportunidades no mercado”, publicado na edição de setembro de 2024 do Boletim Emprego em Pauta.
“A maior parte dos chamados nem-nem não está na ociosidade. Na verdade, está procurando trabalho, lidando com afazeres domésticos (casa, filhos ou parentes) ou realizando cursos não regulares. Apenas 7% dos jovens não estavam envolvidos nessas atividades”, revela o Dieese.
“A ideia de que os jovens estão nessa situação por falta de vontade de trabalhar ou de estudar não se aplica na maior parte dos casos”, afirma o estudo. Algumas estatísticas sobre o 2° trimestre de 2024 mostram a seguinte realidade:
- Apenas 1,4% dos jovens afirmaram que realmente não queriam trabalhar
- 23% dos jovens sem trabalho e fora da escola tinham procurado ativamente trabalho no mês em que foram entrevistados pelo IBGE
- 12% das mulheres declararam que não podiam trabalhar porque tinham que cuidar de afazeres domésticos – ou seja, na verdade, estavam trabalhando, mas não são consideradas como força de trabalho
- 8% dos jovens sem trabalho e fora da escola faziam algum tipo de curso ou estudavam por conta própria.
É preciso considerar que boa parte desse grupo populacional está em período de transição, saindo da escola e buscando inserção no mercado de trabalho, fase em que enfrenta elevada instabilidade.
Maioria dos nem-nem vem de domicílios mais pobres
Cerca de um quarto (27%) dos jovens considerados nem-nem no primeiro trimestre de 2024 não estavam mais nessa situação no trimestre seguinte, a maioria porque começou a trabalhar. Se levado em conta um período maior, 39% dos jovens que estavam sem trabalho e fora da escola no segundo trimestre de 2023 haviam mudado de situação um ano depois.
Todo ano, aproximadamente 2 milhões de jovens concluem o ensino médio. Alguns continuam os estudos no nível superior ou se preparam para prestar o vestibular. Dos jovens que estavam no terceiro ano do ensino médio em 2023, cerca de um quarto (23%) não trabalhava ou estudava no ensino regular no início de 2024.
As perspectivas de trabalho e estudo dos jovens têm estreita relação com sua origem socioeconômica, mostra o estudo do Dieese sobre os nem-nem. “Considerando-se os que terminaram o ensino médio em 2023 e que ficaram sem trabalho e fora da escola no começo de 2024, a maior parte que residia nos lares mais ricos realizava algum tipo de curso. Já entre os moradores de domicílios mais pobres, a situação mais comum era a de busca por trabalho.”
Enquanto 18% dos egressos do ensino médio em 2023 e de lares mais ricos ingressaram no ensino superior em 2024, apenas 7% dos jovens de domicílios mais pobres seguiram esse caminho. Entre os que não trabalhavam ou estudavam naquele momento, 9% dos jovens mais ricos estavam empenhados em algum outro tipo de curso. Nos pertencentes aos lares mais pobres, essa proporção era de 6%.
“Cerca de 40% dos jovens pertencentes a famílias mais pobres que estavam no terceiro ano do ensino médio em 2023 participavam do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2024, sendo que 30% deles estavam trabalhando, enquanto 10% estavam sem trabalho, fora da escola, mas procurando ativamente algum trabalho. Já entre os jovens de lares mais ricos, os percentuais eram inferiores: 26% e 4%, respectivamente”, aponta o Dieese.
Ensino profissionalizante não é suficiente
O estudo afirma que aumentar a oferta de cursos profissionalizantes não é suficiente, já que o mercado de trabalho não é capaz de absorver a totalidade da mão de obra qualificada. “Tampouco funcionam soluções como as propostas pela reforma trabalhista, que criou modalidades de trabalho com menos direitos e menor estabilidade (…) Em vez de resolver o problema, esse tipo de contrato cria vagas de curta duração, o que pode jogar os jovens continuamente à condição de desemprego.”
O comportamento da taxa de desocupação entre os jovens é idêntico ao do mercado de trabalho em geral, porém em patamares expressivamente superiores, o que revela a falta de oportunidades para esse segmento da população. “Atribuir à juventude a responsabilidade por essa situação é, no mínimo, um equívoco. A solução para esse problema está no crescimento da atividade econômica e na valorização de políticas públicas de emprego e de educação adequadas à realidade dessa população, de modo a lhes assegurar o acesso e permanência na escola e a possibilidade de ingresso em postos de trabalho formais e estáveis”, conclui o estudo sobre os nem-nem – ou melhor, os sem-sem.