Nunca a humanidade viveu uma situação tão perigosa como agora, após os atentados terroristas de 11 de setembro, nos Estados Unidos. A nação americana, que, com o seu poder econômico e militar hegemônicos, até então se julgava invulnerável, foi seriamente golpeada. Os suicidas que atingiram as duas torres do World Trade Center e o Pentágono, matando mais de seis mil pessoas, atingiram as expressões mais emblemáticas do poder americano: o econômico-financeiro e o militar.
O atentado, fruto de mentes insanas, mereceu de pronto a condenação de todo mundo civilizado. Milhões de pessoas dos mais diversos credos e raças, em todos os continentes, choraram com o povo americano e expressaram seus sentimentos de solidariedade às famílias das vítimas, como se um dos seus estivesse entre elas.
Apesar do impacto das cenas de horror, transmitida em tempo real pela televisão, as pessoas sensatas no mundo inteiro, antes de qualquer sentimento de vingança, pediam paz. Foi geral a repulsa ante este ato demente, só comparável talvez ao estupor da descoberta dos milhares de cadáveres nos campos de concentração nazista, após a derrota do III Reich. O terrorismo é um flagelo que precisa ser estirpado, pois é uma ameaça a toda a humanidade.
E esse perigo é tão mais grave, se considerarmos que armas de destruição em massa, principalmente químicas e bacteriológicas, podem chegar nas mãos desses dementes. Mas daí a se embarcar num estado de paranóia coletiva vai uma longa distância. O remédio para este mal não é outro senão a paz, respeito à autodeterminação dos povos e ao Direito Internacional, segurança e democracia.
E é bom que este sentimento de paz se transforme numa mobilização mundial de consciências, para calar o sinistro rufar dos tambores dos falcões, os senhores da guerra a serviço do complexo industrial-militar americano. Como sempre, eles querem sangue e lucros astronômicos. Da mesma forma que repudiamos os atentados terroristas, condenamos também todo e qualquer tipo de racismo, de antiislamismo, antiarabismo, antisemitismo e outras manifestações de xenofobia.
Lamentavelmente isso vem ocorrendo em vários países europeus e com maior gravidade nos Estados Unidos, onde mais de 400 atentados e agressões já foram perpetrados contra estrangeiros, particularmente de origem árabe. Tais atos, diga-se a bem da verdade, tem sido condenados pelo governo e autoridades americanas, bem como também pela imprensa e expoentes da melhor inteligência daquela grande nação. É preciso não confundir islamismo, uma das mais antigas religiões monoteístas do mundo, com fundamentalismo. Os fundamentalistas, pelo seu radicalismo, intolerância e práticas terroristas, são o oposto do Islã, que prega a paz e a concórdia. São uma excrescência.
Sabemos que a humanidade muito deve à cultura árabe, ontem e hoje. Qualquer antiarabismo, portanto, venha de onde vier, não encontra outro sentimento entre as pessoas honestas do que a condenação.
Punir exemplarmente os culpados pelo terrível atentado do dia 11 de setembro é fazer Justiça. Porém, é inaceitável partir para a lei do olho por olho e dente por dente, massacrando todo um povo, vítima de guerras infindáveis e que sofre sob o terror Talibã. O Talibã não é o povo afegão, mas seu algoz. Derrotar o Talibã é o que se impõe. Possibilitar o retorno da democracia naquela região conflagrada e castigada por uma seca terrível, milhões de refugiados, crianças morrendo de fome e submetida a uma ditadura teocrática feroz, pode e deve ser entendido como ajuda humanitária em nome da civilização contra a barbárie. Outra coisa é querer levar o american way of life para aquelas paragens, o que seria um erro lamentável. A história nos ensina que este povo não se rende. Alexandre, o Grande, mongóis, turcos, ingleses e, por último, os russos, que tentaram dominá-lo, provaram o gosto amargo da derrota.
Neste esforço mundial contra a guerra, é pena que a manifestação organizada pelo movimento “Viva Rio” em favor da paz, realizada no Saara, onde convivem pacificamente comerciantes brasileiros, árabes, judeus e orientais de vários países, não tenha sido transmitida para o mundo. O Saara, formado por várias ruas no centro do Rio de Janeiro, nos dá uma bela lição de convivência pacífica entre os povos de diferentes culturas e religiões e é um exemplo para o mundo. Esse é o caminho possível para a paz, o que pressupõe respeito mútuo entre os povos, a suas culturas, religiões e costumes.
O poder hegemônico e militar da maior nação do mundo, a globalização de mão única, a opressão dos povos, sua espoliação pelas multinacionais, a monstruosa e impagável dívida externa dos países pobres e emergentes, o vampirismo do capital financeiro internacional, o apoio das nações ricas a ditaduras feudais do Oriente e agora a ameaça de retaliação sanguinária ao Afeganistão não vão levar a nada. Que mais esse crime não se concretize, pois só vai provocar mais ódio e alimentar a insanidade dos grupos terroristas. Esse, definitivamente, não é o caminho da paz. É preciso cortar as asas do falcão.
Noel de Carvalho
Deputado estadual (PSB-RJ)