Estou em viagem por algumas regiões vitivinícolas da Europa, dentre elas, Cahors, a terra do Malbec francês, que, apesar de sua tradição produtiva, vem ganhando mais destaque internacional em função do sucesso da Malbec que predomina nos vinhos da nossa tão familiar versão argentina. É como se Cahors fosse redescoberta e, embora alguns produtores torçam o nariz para dizer que as duas produções são incomparáveis, Cahors esteve por muito tempo mais identificada como produtora do vinho negro (versão antiga de um vinho rústico e pesado) do que pela preciosa cepa dominante de sua Denominação de Origem: para se levar o nome AOC Cahors, o vinho deve ter no mínimo 70% de Malbec.
Bem, há muito mais para se dizer sobre Cahors, mas, por enquanto, quero focar no vinho rosé. Tradicionalmente, as regiões produtoras de vinhos franceses vendem poucos vinhos de outras áreas e ali não é diferente. Como se planta pouca uva branca, o vinho rosé é que tem sido dominante como alternativa para uma versão mais refrescante a ser bebido no verão. Há alguns vinhedos de Chardonnay, de Sauvignon Blanc e, especialmente, de Chenin Blanc, mas o rosé tem a vantagem de poder ser feito com as suas uvas tintas (Malbec, Merlot e Tannat especialmente), além de acompanhar uma tendência do mercado. Não estamos falando aqui de tradição nem de qualidade – não que isso não exista, pelo contrário, houve um salto de qualidade neste segmento mundial também, mas ressalto a efetividade do posicionamento mercadológico. A oferta do rosé cresce em vários locais de produção, uma vez que o consumidor, mundialmente, vem associando o rosé ao vinho fresco de verão.
É muito fácil identificar isso, desde que você venha acompanhando o mercado de vinhos há pelo menos uma década no Brasil, pois o rosé era o “patinho feio” dos vinhos: aquele que ficava no meio do caminho – nem branco nem tinto – até que campanhas promocionais, como a da região da Provence, Denominação de Origem que tem como tipicidade o vinho rosé, destacou aspectos estéticos que elevaram a percepção de sua qualidade. O marketing da Provence começa já pela estilização de suas garrafas – cada Domaine quer a sua mais bela e original – um verdadeiro festival de embalagens! As campanhas institucionais da Denominação de Origem foram intensas nas duas últimas décadas, com um material gráfico primoroso, destacando a contraposição entre as tonalidades rosa e azul-piscina da Cote d’Azur.
Mas não foi somente Provence – aos poucos, outras regiões, como, na França, Bordeaux, foram percebendo que este era um segmento potencialmente promissor e lançaram vídeos publicitários, entre outras ações, cujos motes eram beleza e refrescância. Apesar da tradicional qualidade de alguns rosés de regiões dedicadas à sua produção – como a própria Provence, onde dominam rosés mais delicados e frescos, a DOC Tavel, no Vale do Rhône, com seu rosé mais intenso e carnudo, ou o Rosé d’Anjou mais frutado do Vale do Loire – essa ascensão do consumo do rosé foi bastante impulsionada pelo aspecto promocional, tanto que muitas vezes o vinho é servido com gelo, uma forma de consumo, em tese, impensável para um produto que busca se eximir de influências externas que alterem o equilíbrio alcançado na cave – diferentemente de bebidas mais fortes, tradicionalmente associadas ao gelo.
O fato é que o consumo de rosé está em sintonia com a moda dos drinks – importa menos a origem, o produtor do que a adequação à situação de consumo e ao gosto do consumidor. Que bom que o marketing e a moda tenham revelado outras nuances do beber vinho, pois esta é uma bebida da diversidade – de uma ponta a outra: seja pela distinção da origem e de suas tipicidades seja pela situação de consumo. O que não deve haver é ditadura do vinho tinto, do vinho rosé, do vinho que vende e de espécie alguma! Espero também que a moda dos vinhos rosés tornem conhecidos todos os vinhos de terroir há muito identificados com este estilo e que venha a vez do vinho branco!!!
Quanto ao vinho rosé de Cahors, bebi um gostoso, correto, refrescante do Clos Triguedina. Bebi outros menos expressivos. Nada perto do vinho tinto da Malbec, que merece um artigo a parte!
Notícias do mundo do vinho
Rio Wine & Food Festival 2019 – 1º a 11 agosto – O Rio Wine & Food Festival chega à sua sétima edição como sendo um dos projetos mais interessantes no sentido de criar uma multiagenda dedicada ao vinho no Rio de Janeiro. Mais recentemente, ocorre a multiplicação de feiras, pequenos festivais, eventos dedicados ao vinho e à gastronomia. Mas o formato do RWFF ainda merece destaque pela abrangência e variedade. Seguem alguns eventos mais acessíveis ao grande público que destaquei, mas há muita coisa a conferir no site: www.riowineandfoodfestival.com.br
Dias 2, 3, 4 (sexta, sábado e domingo): Vinho no Mercado – Mercado de Produtores – Uptown
Dia – 2 (sexta-feira): Início do Rio Rolha Zero – Rolha Zero restaurantes parceiros
Dia 5 (segunda-feira): Seminário Vinho e Mercado – Entrada gratuita mediante inscrição
Dias 9 e 10 (sexta-feira e sábado): Feira para degustação e compra de vinhos – Clube Naval Piraquê (Lagoa)
Dia 10 (sábado): Wine Bus – Degustação itinerante, das 11h às 19h (tours de 1h40 de duração)
Para saber mais sobre eventos, turmas abertas de formação em vinhos da Cafa Wine School, de Bordeaux, entre outros projetos realizados por Miriam Aguiar, visite miriamaguiar.com.br / Instagram: @miriamaguiar.vinhos