“Neste mundo é preciso ser bom um pouco demais para o ser bastante.”

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(Marivaux, 1688-1773, em O Jogo do Amor e do Acaso, Ato I)

O que uma empresa pode fazer para valorizar o trabalho voluntário e como ser valorizada por ele? No Ano Internacional do Voluntário, estas são questões feitas cada vez com mais freqüência. Em nosso país, onde há generosidade mas ainda não existe uma tradição de emprego institucional do voluntário, empresas-cidadãs planejam e não realizam, pessoas gostariam de fazer e ficam só na vontade.

( Separando a vontade e a realização de cada pessoa está a barreira da desconfiança do uso de sua capacidade de trabalho, quer como mão-de-obra barata, que pode acabar sendo apropriada pela empresa com vistas unicamente ao lucro privado, quer como massa de manobra política partidária, nas mãos de candidatos mal disfarçados. Já houve até programa governamental para aproveitar esta força desperdiçada, o Pronave, associado à marca esfarrapada da finada LBA.

( As empresas por seu lado tropeçam no temor de que o voluntário possa adiante trocar a generosidade por uma ação na Justiça do Trabalho, requerendo vínculo empregatício. Tropeçam também na falta de percepção do que podem fazer pelo seu próprio desenvolvimento organizacional, através da colaboração de voluntários. Possibilidades de aperfeiçoar o “endomarketing”, aumentar a motivação de empregados, aprimorar a capacidade gerencial, além de se incluir na ampla e invisível rede de network, a economia de rede que congrega um sem número de instituições em todo mundo, sintonizadas na responsabilidade social e ambiental.

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( Já existe, no entanto, atenção para a importância dos voluntários. De 16 a 18 de fevereiro, realizou-se em São Paulo, nas instalações do Museu Brasileiro da Escultura Marilisa Rathsam (Mube), a primeira feira de promoção do voluntariado. A feira evidenciou tanto a existência de pessoas interessadas em oferecer tempo disponível de suas vidas a uma causa coletiva, quanto a grande quantidade de instituições idôneas, públicas, privadas e do terceiro setor, que podem encher de mais vida causas ligadas ao bem comum.

( A feira foi promovida pela organização Tertio Millennio, que recruta voluntários, seleciona empresas interessadas em associar suas marcas a causas sociais e desenvolve iniciativas como o Programa Mãe e Criança, que realiza assistência integral à criança, capacita mulheres como mães crecheiras e fomenta o desenvolvimento auto-sustentável das famílias.

( Também presente estava a Pastoral da Criança, criada em 1983 pela Igreja Católica, através das mãos de Zilda Arns Neumann e de Dom Geraldo Majella Agnelo, então arcebispo de Londrina, e inspirada em entendimentos entre Dom Paulo Evaristo Arns, na época arcebispo de São Paulo, e James Grant, diretor executivo do Unicef, na ocasião. A Pastoral da Criança, indicada para o Prêmio Nobel da Paz de 2001, desenvolve 12 ações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania. Entre elas podem ser destacadas o incentivo ao aleitamento materno, o acompanhamento periódico do peso e do crescimento da criança, o controle de doenças diarréicas e respiratórias, a prevenção de acidentes e de doenças sexualmente transmissíveis.

( Outras organizações que valorizam o trabalho voluntário poderiam ser mencionadas mas é inevitável citar o outro lado da moeda da solidariedade. No dia em que a feira estava sendo encerrada, eclodiu no Estado de São Paulo a mais ampla rebelião de presos de que se tem notícia, reunindo 24 presídios na mesma dúvida. Teria sido assim se antes alguém tivesse sido bom um pouco demais ?

QUALIDADE DE EMPRESA-CIDADÃ
Há exemplos muito interessantes de como uma empresa-cidadã pode atuar, até mesmo como um catalizador da motivação altruísta dos seus colaboradores. É o caso do projeto Cidadãos do Amanhã, gerenciado pela Fundação Belgo Mineira, que orienta seus empregados e os empregados de fornecedores sobre a utilização da renúncia fiscal de parte do Imposto de Renda devido, em benefício de entidades sociais de assistência à criança e ao adolescente. A fundação não só orienta os colaboradores sobre a forma correta de deduzir o imposto, como facilita a sua arrecadação e chancela as entidades sociais que podem ser beneficiárias dos recursos.

ATÉ A PRÓXIMA
Como tem se comportado a mortalidade infantil no Brasil e em que medida a empresa-cidadã pode contribuir para reduzí-la ? Falaremos sobre isso na próxima quarta-feira. Até lá.

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