Ontem, as notícias no segmento local foram pouco alvissareiras para tentarmos ser polidos. O que é pior, não eram novas. PIB de 2021 mostrando desaceleração, inflação juros e câmbio em alta, dívida interna crescendo (e crescerá mais com Selic em alta e prêmio de risco), recorde de óbitos e infecção por Covid-19, novo ministro da Saúde, novas armadilhas por recursos no Congresso Nacional, e presidente que não acerta o discurso.
Tudo isso junto, faz com que o Brasil vá deixando de ser prioritário na absorção de investimentos, com orçamento quase que totalmente engessado, e sem espaço para iniciar investimentos. O governo tenta manter o ânimo acenando com privatizações e capitalizações, mas o processo será longo e pode já não ser tão atraente. No meio de tudo isso, o mercado ainda admite algum ânimo, fundado na enorme liquidez internacional, em empresas exportadoras de commodities e dólar alto que torna alguns ativos ainda atraentes.
Nesta quarta, investidores no mundo esperaram a decisão do Fed sobre política monetária e principalmente a coletiva posterior de Jerome Powell, para melhor definir aplicações e rotatividade de ativos. Mas também tiveram que reverberar sanções impostas pelos EUA para 24 autoridades de Hong Kong e Joe Biden chamando Putin de assassino e dizendo que a Rússia pagará pela interferência, falando em restrições de exportações para impedir acesso a tecnologias sensíveis, que podem ter outros usos.
No Japão, as exportações caíram pela primeira vez depois de três meses em alta em fevereiro, com -4,5% e as exportações para os EUA declinaram 14%. Na Alemanha, a previsão do PIB de 2021 encolheu para 3,1%, de anterior em 3,7%. A União Europeia vê terceira onda de contágio começando e quer ter vacinado 70% dos adultos até o final do verão.
Voltando aos EUA, a construção de novas residências de fevereiro caiu 10,3% e novas permissões também com contração de 10,8%. Mas o dado mais esperado foi mesmo a decisão do Fed com políticas mantidas por unanimidade, o que significa juros entre zero e 0,25%, taxa de desconto em 0,25% e taxa sobre excesso de reservas de 0,10%. Como esperado, elevou o PIB projetado de 2021 para 6,5% (anterior em 4,2% e 2020 para 3,3%). A inflação de 2021 subindo para 2,4% (de 1,8%) e 2022 com 2%. Vai seguir comprando pelo menos US$ bilhões em treasuries por mês e ativos totais com US$ 120 bilhões.
O comunicado veio sem surpresas, mas os investidores passaram a aguardar a coletiva de Jerome Powell, que também não trouxe nenhuma novidade importante, reforçando seu discurso suave sobre a política econômica ser apropriada para incertezas e mantendo juros enquanto as metas de inflação e emprego não forem atingidas, ainda sem fixar parâmetros, mas dizendo que será anunciado com antecedência.
No mercado internacional, o petróleo reagiu com melhora depois da decisão anunciada e o WTI negociado em Nova Iorque mostrava ainda queda de 0,23% com o barril cotado a US$ 64,65. O euro era transacionado em alta para US$ 1,197 e notes americanos reagiram com desaceleração, mas o de 10 anos com taxa de 1,666%. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas com quedas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado em Qingdao registrou retração de 0,08%, com a tonelada em US$ 166,19.
No ambiente doméstico, a Câmara votou para derrubar veto e anular dívidas das igrejas e o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diz que vai reduzir óbitos com distanciamento e melhores serviços hospitalares. Paulo Guedes também discute com relator na CCJ sobre cronograma da reforma administrativa. O Congresso manteve os vetos do marco de saneamento. Foi anunciado também redução de 10% de imposto de importações de eletrônicos e bens, barateando máquinas e equipamentos e dando acesso a novas tecnologias e insumos.
A área de economia também falou bastante ao longo do dia, versando sobre recuperação consistente da economia, mesmo com acirramento da pandemia. O Bacen anunciou que o fluxo cambial de março até o último dia 12 foi positivo em US$ 1,03 bilhão, pelo canal financeiro, saída de US$ 1,15 bilhão, mas com o ano positivo em US$ 8,19 bilhões. Perdas com operações de swap atingem R$ 1,53 bilhão e reservas cambiais líquidas caindo para US$ 275,33 bilhões.
No mercado, dia de dólar oscilando muito, para fechar com -0,59% e cotado a R$ 5,586, principalmente depois da decisão do Fed. Na Bovespa, na sessão do dia 15, os investidores estrangeiros sacaram recursos de R$ 301,4 milhões, deixando o saldo negativo de março com R$ 2,44 bilhões, mas com o ano de 2021 com ingressos líquidos de R$ 14,23 bilhões.
No mercado acionário, queda da Bolsa de Londres de 0,60%, Paris com -0,01% e Frankfurt com +0,27%. Madri em queda de 0,63% e Milão com alta de 0,08%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,58% e Nasdaq com +0,40%. Na Bovespa, dia de inversão de tendência na parte da tarde e fechando com +2,22% e índice em 116.549 pontos. Destaque de alta para Petrobras, bancos e construtoras.
Ontem os investidores em todo o mundo ficaram quase todo o dia no aguardo da decisão do Fed sobre política monetária e coletiva do presidente Jerome Powell, o que só ocorreu depois das 15 horas. Tanto o comunicado do Fed como a coletiva de imprensa de Powell mostraram grande coerência com declarações pretéritas, e minimizaram os efeitos e preocupações com a escalar dos juros dos treasuries. Os mercados reagiram forte a isso.
Após o pregão encerrado, foi a vez do Copom anunciar sua decisão e, como esperado, ampliou a taxa Selic, só que guardando a surpresa de 0,75 pontos, ao invés de 0,50% que era o consenso, com a nova Selic em 2,75%. Ao mesmo tempo, sinalizou a inflação oficial subindo para 5%, saindo de 3,6% anterior em 2021. Também deixou a expectativa de mais alta de 0,75% para a reunião de maio (ou mais), dependendo do que possa ocorrer com a pandemia e aceleração de reformas.
Hoje mercados da Ásia terminaram o dia em alta, Europa reverberando a decisão do Copom e futuros do mercado americano com comportamento misto. Aqui, ontem conseguimos passar pelos 115 mil pontos que colocávamos como importante e abrindo espaço para buscar 118 mil e 120 mil pontos do Ibovespa, não sem sustos, já que a situação segue tensa.
Na Zona do Euro, o saldo da balança comercial de janeiro mostrou superávit de 24,2 bilhões de euros, como resultado de exportações em queda de 2,8% e importações também com contração de 1,3%. Já Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), falou hoje em firme recuperação da economia da região no segundo semestre de 2021 e que vai manter a flexibilização de compra de ativos, de acordo com as condições do mercado.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em Nova Iorque tem o sexto dia de queda seguida com -0,36% e barril cotado a US$ 64,37. O euro mostrava queda para US$ 1,194 e notes americanos de 10 anos com grande oscilação nesta manhã com taxa de 1,725%, em alta. O ouro e a prata mostravam altas na Comex e commodities agrícolas com desempenho de queda na Bolsa de Chicago.
No segmento doméstico, ontem a área econômica trouxe novidades como a redução do imposto de importação em 10% para eletrônicos e bens, abrindo espaço para acessar tecnologia de ponta e reduzir custos. O Congresso também votou vários vetos e foi aprovado o marco regulatório do setor de saneamento, que pode destravar investimentos na área.
A FGV anunciou a segunda prévia do IGP-M de março com alta de 2,98%, de anterior em 2,29%, deixando a inflação por esse indicador em 8,30% para 2021 e em 12 meses com inflação de 31,15%. Destacamos bens intermediários com elevação de 5,09% que pode se transmitir para preços finais, assim como matérias-primas brutas com +3,89%.
A agenda do dia ainda mostra algum poder de mexer com os mercados, mas ainda teremos ajustes a serem feitos a partir das decisões de ontem. Teremos a decisão do BoE (o Banco Central inglês) e indicadores nos EUA.
Expectativa para o dia é de Bovespa conseguindo manter alta, juros ajustando para a nova Selic e dólar com tendência de queda.
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Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do Banco Digital Modalmais
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