A cidade serrana de Nova Friburgo (RJ) não merecia ter na prefeitura um rascunho de censor proto-tirano. Se assim não fosse, já seria bastante para ser enquadrado como tal o fato de ter mandado retirar da mostra pública, no espaço da antiga estação rodoviária, na Praça Getúlio Vargas, centro da cidade, transformada em Estação Livre (nome de fantasia) dos quadros da artista visual, escritora negra Elis Pinto.
O prefeito é pastor da denominação Evangelho Quadrangular e preside o conselho de jovens evangélicos da cidade. Em nota, a prefeitura tentou explicar a censura, sob o pretexto de que as imagens de nudez seriam inadequadas para crianças que frequentam o espaço público Estação Livre, argumentando com o art. 74, do ECA, que trata das diversões, dos espetáculos públicos e da responsabilidade do poder público na regulação das faixas etárias aptas a frequentá-las.
Reproduz assim o desastre do ex-prefeito da capital, também pastor, que em 2017, tentou impedir a exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. A mostra provocou intensos debates sobre a liberdade de expressão. A polêmica revelou-se, na época, uma vitória do livre pensar, com a viabilização da mostra no Parque Laje através de uma “vaquinha” (mais de R$ 1 mi arrecadados). E, claro, com o resultado das eleições, em que o ex-prefeito da capital perdeu de goleada.
Neste caso de Nova Friburgo, o motivo alegado foi a nudez de corpos femininos, e os quadros visados foram os da série “Deusas da mitologia”, previamente exibidos para a Secretaria Municipal de Cultura. Espera-se o pedido de exoneração da secretária de Cultura, que já se faz tarde. A mostra era comemorativa do Dia Internacional da Mulher…
‘China, o socialismo do século XXI’
Oportuno lançamento da editora Boitempo, o livro de Elias Jabour e Alberto Gabriele vem para ocupar o vácuo de entendimento sobre o papel da China, neste momento de valorização da geopolítica, ante a perspectiva catastrófica de mudanças climáticas, de guerras lutadas com armas que não são os artefatos nucleares capazes de aniquilar a Humanidade quinze ou dezesseis vezes (que diferença faria?).
Nem pau e pedras como previra Einstein como as armas disponíveis, na hipótese de uma Quarta Grande Guerra. Armas chamadas Swift, divisas e G5 tão ou mais eficazes como armas de destruição em massa.
Um novo e ousado conceito foi decantando ao longo do processo: o de socialismo de mercado, acrescentando alta dose de compreensão à nova realidade. A ousadia do novo conceito (socialismo de mercado) leva-nos a perceber este trabalho, como uma ponte que começou a ser construída por Ignácio Rangel (1914; Mirador-MA–Rio de Janeiro-RJ; 1994), em Elementos de economia do projetamento (1959), retomado agora, oportunamente, por Elias Jabbour e Alberto Gabriele.
‘Arte Degenerada’
(Publicado em 11 de outubro de 2017, na coluna Empresa-Cidadã)
Traduzida do alemão Entartete Kunst, Arte Degenerada foi como ficou conhecida a investida de Hitler, na Alemanha nazista, contra as manifestações artísticas modernistas. Ele próprio teve o seu ingresso na Academia de Belas Artes recusado, em 1907, por escassez de talento artístico. Passados 30 anos da reprovação, anunciaria a exposição Arte Degenerada.
A exposição foi organizada por Adolf Ziegler, presidente da Câmara de Artes Plásticas do III Reich, na cidade de Munique, e tinha o propósito de esculachar com pinturas, esculturas, gravuras, desenhos e livros tidos como impuros pelos nazistas. Degenerada foi o adjetivo emprestado da biologia, para classificar espécies que, uma vez modificadas, não poderiam mais ter a identidade original de espécie.
Mais de 600 trabalhos, incluídos alguns de Picasso, Lasar Segall, Henri Matisse, Paul Klee, compunham o acervo, expostos de forma a menosprezá-los, sem alinhamento, sem iluminação adequada e com cartazes ou faixas depreciativos. Em seu ataque contra a arte, os nazistas chegaram a fechar a notória escola de arte Bauhaus. Entre os movimentos artísticos considerados como “degenerados” pelos nazistas constaram o Cubismo, o Expressionismo, o Surrealismo, o Dada e o Bauhaus.
É preciso estar atento às analogias com algumas coisas que acontecem nos dias de hoje. Pode não ser mera coincidência…