Omitida pela maioria das emissoras concorrentes que transmitiram a posse da presidente Dilma, uma cena não passou em branco, porém, aos observadores mais agudos da política nacional. Apenas quatro pessoas, além dos chefes de Estado e de Governo, cumprimentaram a nova mandatária, no segundo andar do Palácio do Planalto – os demais convidados deram os parabéns a Dilma apenas no Palácio do Itamaraty.
Todas as quatro eram da cúpula da TV Record. Encabeçado pelo dono da emissora, bispo Edir Macedo, o grupo, que tinha ainda o presidente da Record, Alexandre Raposo, o vice-presidente de Jornalismo, Douglas Tavolaro, e o presidente de Relações Corporativas do Grupo Record, Marcos Pereira, conversou descontraidamente com a nova presidente por longos minutos.
Em tempo de fricção do Planalto com o cartel que controla a mídia tupinquim, o ato é extremamente emblemático.
Enturmado
Escalado pelo cerimonial para cumprimentar a presidente Dilma Housseff logo após a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, fazê-lo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, por pouco não integrou o grupo que recebia os parabéns dos chefes de Estado – formado ainda pelo vice Michel Temer, o chanceler que saía, Celso Amorim, e seu sucessor, Antônio Patriota, e respectivas mulheres, e o secretário de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. Depois de deter-se longamente com Dilma, Chávez ficou tanto tempo conversando com Amorim e Patriota que pelo menos meia dúzia dos convidados seguintes deixou de cumprimentar os dois e vários ignoraram Garcia, na última fileira.
Sem licitação
O ex-prefeito Cesar Maia denuncia que a inauguração do Centro de Operações da Prefeitura do Rio trouxe como contrabando a contratação, sem licitação, da IBM, por R$ 12 milhões, por 12 meses. Garante o ex-prefeito que o mercado tem oferta técnica semelhante e por valor igual ou menor.
“Despesa emergencial”
A dispensa de licitação para o Centro de Operações do Rio não ficou só na IBM. Cesar Maia diz que, para gerir a infra-estrutura, foi contratada a Facility, por R$ 5,2 milhões. “Tudo sem licitação. Auditores estão surpreendidos. Despesa emergencial (como consta no Diário Oficial de 30 de dezembro) no último dia do ano para um equipamento funcionar a pleno em 2014 e 2016”, espanta-se o ex-prefeito.
Laços
A contratação da Facility, com tanta facilidade (trocadilho obrigatório) é mais um elo entre o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador Sérgio Cabral. O governo estadual também é cliente da Facility.
Pré-condição
Esquivando-se a comentar os rasgados elogios de banqueiros brasileiros ao Governo Lula, o ex-diretor da Dívida Pública do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas defende que a administração Dilma Housseff deve atacar os problemas estruturais que levam o país a praticar a maior taxa real de juros do planeta, sob pena de não construir um sistema privado para financiar o investimento de longo prazo, como pretende o ministro da Fazenda, Guido Mantega: “Qual instituição financeira vai emprestar a longo prazo se pode ganhar no curto? Por enquanto, será atraído somente o investidor não residente, por causa das isenções de impostos”, avalia Freitas, observando que as medidas tomadas no fim do governo Lula, de incentivos fiscais para aplicações em títulos para financiamento, irão provocar queda ainda maior do dólar.
Sem relaxar
Freitas reconhece os efeitos dos juros também sobre a dívida pública, mas considera essa gestão um grande legado do Governo Lula: “Praticamente, eliminou a parcela atrelada ao dólar, os juros caíram um pouco e a relação dívida/PIB melhorou. Estamos melhor que muitos países desenvolvidos, mas nossa dívida ainda é alta. Não dá para relaxar”, ressalvou.
A presidente responde
A presidente Dilma Rousseff vai manter a coluna que o ex-presidente Lula inaugurou em julho de 2009, publicada às terças nesta página 2.