Novo consignado privado tem potencial de movimentar R$ 700 bilhões até 2030

Alteração na regulamentação tornará a modalidade de empréstimo mais acessível para cerca de 45 milhões de trabalhadores do regime CLT, e previsão é de que se torne a mais usada para crédito pessoal

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Brasileiro com dinheiro no bolso
Brasileiro com dinheiro no bolso (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

As modificações na lei que regulamenta o segmento de empréstimo consignado privado devem fazer com que o mercado registre um crescimento exponencial em pouco tempo. Hoje, este tipo de financiamento tem um saldo total de R$ 40 bilhões, mas com as mudanças a expectativa é de que o montante supere os R$ 700 bilhões de carteira total de crédito até 2030. A previsão é da techfin Oneblinc que trabalha com dados alternativos para a concessão de crédito. A conta leva em consideração os cerca de 45 milhões de trabalhadores do regime CLT que passarão a ter acesso facilitado a este modelo de financiamento. O novo regramento vai gerar oportunidades para os consumidores e para empresas do ramo financeiro.

Atualmente, a modalidade de empréstimos com crédito consignado é muito forte para os funcionários do setor público, sendo uma das melhores opções de linha de crédito disponíveis no mercado. Os cerca de 10 milhões de funcionários públicos e 40 milhões de aposentados e pensionistas do INSS já movimentam uma carteira de R$ 600 bilhões. Já o consignado privado engatinha, pois com praticamente a mesma quantidade de pessoas que podem solicitar o empréstimo, envolve um montante de apenas algumas dezenas de bilhões, quando poderia estar equiparado.

“As novas regras que estão sendo elaboradas, têm potencial para superar o Crédito Consignado Público, atingindo um montante bem maior em curto espaço de tempo. O funcionalismo do setor privado é de três a quatro vezes maior que o do setor público. Sem falar de segmentos que até hoje não têm acesso a essa modalidade,  como os 5 milhões de trabalhadores domésticos, por exemplo. Vimos o efeito que o Crédito Consignado teve para os aposentados e pensionistas no passado. O fenômeno pode se repetir”, afirma Antonio Hermann Azevedo, veterano do mercado de crédito, sócio-fundador da Integral Investimentos, e com passagens em players importantes do mercado de Consignado, como o próprio Banco BMG, onde foi presidente por 5 anos.

Fábio Torelli, CEO e Founder da OneBlinc, compartilha da mesma visão. No entanto, ele lembra que pesará na concessão do crédito consignado privado fatores como o perfil do solicitante, o que requer a resposta a perguntas como: quanto tempo essa pessoa está no seu emprego atual? Quanto seria a multa de 40% do FGTS em caso de desligamento? Quantas vezes trocou de emprego nos últimos anos? Está em busca de novas oportunidades? Tais questionamentos podem ser respondidos através de uso intensivo de dados alternativos, usando bases de dados como a Carteira de Trabalho Digital, LinkedIn, Open Finance e afins.

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O consignado privado não é novo. Ele existe há 21 anos criado pela Lei nº 10.820/2003. Hoje, seu funcionamento se assemelha ao consignado para aposentados e pensionistas do INSS e para funcionários do setor público. O empregado solicita um empréstimo e as parcelas são descontadas na folha de pagamento. O problema é que, no setor privado, este tipo de empréstimo só é possível quando a empresa tem convênio com alguma instituição bancária. “O processo é ineficiente, traz pouca segurança para o conjunto de instituições financeiras de médio e pequeno porte que atuam no setor e que podem oferecer melhores condições ao trabalhador, além de empilhar mais burocracia e processos nas áreas de Recursos Humanos”, destaca Torelli.

Com a nova regulamentação, que será enviada em novembro para aprovação do Congresso, não será mais necessário a empresa empregadora ter contrato com alguma instituição financeira para que o colaborador acesse o consignado. A operação dos empréstimos será realizada integralmente através de uma plataforma digital vinculada ao e-Social, uma ferramenta já utilizada pelas empresas para o recolhimento de encargos trabalhistas.

O novo regramento a ser aprovado pode se tornar também uma oportunidade para o governo federal extinguir o saque-aniversário, que possibilita ao trabalhador sacar parte do FGTS uma vez por ano, na data em que aniversaria. Como o FGTS tem como função básica financiar projetos habitacionais e servir de reserva financeira para os trabalhadores que ficarem desempregados, o saque aniversário acaba sendo prejudicial no longo prazo. Desde quando foi criado, mais de 9 milhões de trabalhadores foram demitidos e não puderam receber o dinheiro que acumularam no FGTS por conta das regras do saque-aniversário. Para se ter uma ideia, a retirada somou R$ 38,1 bilhões em 2023, dos quais R$ 14,7 bilhões foram pagos diretamente aos trabalhadores, enquanto R$ 23,4 bilhões foram destinados a instituições financeiras como garantia para operações de crédito.

Na visão de Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego, o fim do saque trará o fundo de volta à sua função original e o trabalhador que precisar de financiamento poderá contar com o novo consignado privado. A Fazenda deve sugerir um processo de transição para o fim do saque aniversário e a discussão de mecanismos para substituí-lo. “Estamos dialogando primeiro dentro do governo e, agora, queremos debater com o Congresso para aprovar uma proposta que garanta crédito acessível ao trabalhador, preservando a função do fundo como proteção em caso de desemprego”. 

Dentro do novo desenho do Consignado Privado, haverá um link com o e-Social, administrado pela Caixa Econômica Federal, que possibilitará a contratação diretamente pelas plataformas, que terão acesso ao histórico profissional do trabalhador, com o controle e garantia de que a averbação do salário está formalizada de forma segura. Além das 80 instituições financeiras que já oferecem o consignado aos aposentados e pensionistas do INSS, vários outros players vão olhar com bons olhos para o setor privado dentro do novo desenho proposto. Como o pagamento de cada parcela é via desconto em folha, o risco de inadimplência diminui consideravelmente, o que faz a oferta ser mais justa e inclusiva.

A expectativa da OneBlinc é de, nos próximos dois anos, ser o principal player no fornecimento de tecnologia para o mercado de Consignado Privado no país. “Já iniciamos a coleta de dados da Carteira de Trabalho Digital. Conseguimos com IA Generativa modelar turn-over, tempo de recolocação, promoções, aumentos salariais etc. Esses dados serão fundamentais na hora de trazer a oferta e o desenho certo do produto para o cliente final”, diz Torelli.

A tecnologia desenvolvida pela techfin, baseada em dados estruturados, não estruturados e alternativos, aliada à regulamentação que está por vir, vai ajudar a minimizar as imperfeições do mercado de crédito atual. “O cliente poderá utilizar os seus dados proprietários em benefício de uma melhor decisão de crédito e de um produto mais adequado a sua realidade. A única certeza nisso tudo é que a concessão de crédito no Brasil está a um passo de mudar de patamar”, comenta.

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