O acesso ao crédito é um privilégio

Acesso ao crédito como direito econômico, inclusão financeira e a importância da educação para uso consciente dos recursos. Por Wagner Mendonça

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Carteira com cartões de crédito (Foto; Wilson Dias/ABr)
Carteira com cartões de crédito (Foto; Wilson Dias/ABr)

Carlos é vendedor autônomo e depende do celular para interagir com clientes, organizar pedidos e processar pagamentos. Sem esse recurso, sua atividade profissional fica comprometida, impactando diretamente sua renda e sua subsistência. Quando o aparelho quebrou, ele se viu diante de um dilema comum para milhões de trabalhadores informais: sem telefone, não podia garantir sua fonte de renda; sem dinheiro, não conseguia adquirir um novo dispositivo. Uma situação que expõe uma realidade preocupante, na qual a falta de acesso a crédito se torna uma barreira ao desenvolvimento econômico e à inclusão social.

O crédito, quando bem estruturado, tem o poder de transformar vidas. Ele permite que indivíduos sem histórico bancário adquiram bens essenciais, financiem ferramentas de trabalho e impulsionem pequenos negócios. Não se trata apenas de viabilizar o consumo, mas de oferecer um caminho para a mobilidade social e o crescimento financeiro sustentável. Sem essa possibilidade, muitas pessoas permanecem em um ciclo de limitações que as impede de avançar profissionalmente, seja para estruturar um empreendimento ou para suprir demandas urgentes do dia a dia.

E os métodos de financiamento precisam ser acessíveis e justos para que cumpram esse papel de forma eficaz. Altas taxas de juros, exigências burocráticas e garantias inatingíveis afastam justamente aqueles que mais precisam de financiamento. Profissionais autônomos frequentemente se deparam com obstáculos intransponíveis no mercado tradicional. Como alternativa, acabam recorrendo a opções informais, que muitas vezes possuem condições abusivas, como juros exorbitantes, e contribuem para o superendividamento, aprofundando ainda mais a exclusão financeira.

É por isso que defendo a ideia de que o acesso ao crédito precisa ser tratado como um direito econômico, e não um privilégio. Um sistema financeiro eficiente deve considerar as necessidades das pessoas que movem a economia diariamente, oferecendo alternativas que levem em conta sua realidade. Modelos mais flexíveis, que não exijam histórico bancário ou garantias inatingíveis, são fundamentais para que mais brasileiros possam financiar bens, investir em seu serviço e superar situações de emergência sem comprometer a estabilidade orçamentária.

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Educação financeira: uma necessidade urgente

Ampliar o acesso ao crédito sem preparar as pessoas para usá-lo de maneira consciente também é um erro grave. A falta de informação sobre taxas, juros e prazos de pagamento pode levar consumidores a comprometer a renda futura com dívidas impagáveis. Muitas vezes, indivíduos aceitam contratos sem compreender as implicações de longo prazo, resultando em um ciclo de endividamento que limita as oportunidades de crescimento econômico. Portanto, qualquer iniciativa voltada à democratização deve estar acompanhada de ações efetivas de educação financeira.

Quando alguém compreende o funcionamento do financiamento, aprende a calcular juros e planejar suas finanças, suas decisões se tornam mais estratégicas e vantajosas. Uma população instruída tem maior capacidade de utilizar empréstimos a seu favor. O conhecimento não apenas protege os consumidores de armadilhas, mas também fortalece o próprio mercado de crédito, reduzindo taxas de inadimplência e aumentando a confiança na estrutura econômica.

As instituições bancárias desempenham um papel importante nesse processo. A disponibilização de conteúdos educativos acessíveis e práticos permite que os clientes tomem decisões informadas, evitando compromissos desproporcionais à sua realidade. Além disso, incentivar boas práticas, como planejamento e pagamentos responsáveis, ajuda a expandir o sistema de maneira sustentável. A responsabilidade pelo uso inteligente do crédito deve ser compartilhada entre consumidores, empresas e governos, garantindo que sua função social e econômica seja cumprida sem comprometer a segurança monetária da população.

O impacto social do crédito acessível

Facilitar o crédito de maneira responsável gera um efeito positivo em toda a economia. Pequenos empreendedores podem expandir os negócios, trabalhadores podem manter sua fonte de renda, e mais pessoas entram no sistema financeiro de forma segura. Isso significa maior crescimento econômico, geração de empregos e mais estabilidade financeira para milhares de famílias.

Não podemos tratar o crédito apenas como um produto bancário. Ele é uma ferramenta de inclusão econômica e social, capaz de transformar realidades e reduzir desigualdades. O desafio é garantir que ele seja acessível, de forma justa, responsável e sustentável.

Wagner Mendonça é responsável pelo crescimento de receita e operações da PayJoy no país

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