“Os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões”. (A Arte de Furtar, autoria controvertida, 1743).
Esse título representa um dos aspectos da essência da mensagem contida no importante estudo técnico denominado “Panorama do Refino no Brasil – Venda das Refinarias da Petrobrás” [Nota da Redação: o autor grafa o nome da empresa com acento agudo] realizado pelo engenheiro de processamento master Elie Abadie, que dedicou 50 anos de profícuos trabalhos à empresa.
O respeitável técnico denuncia, com todas as letras, o clima de terror implantado pela atual administração contra o corpo técnico caso seja questionada qualquer política de desnacionalização do patrimônio público, e, neste caso, a venda das nove unidades industriais, que representam 50% do parque de refino nacional, equivalentes a 1.126.400 barris por dia (bpd).
O clima fascista das ameaças vai de demissão sumária à perda dos postos gerenciais, ao isolamento funcional, à precoce aposentadoria. As condições de venda das refinarias são denunciadas publicamente como lesivas ao país e à própria empresa, em particular, no fluxo financeiro. Somem-se ainda as desnacionalizações já efetivadas, com a venda de ativos rentáveis, e mais outras em curso, constituindo-as, em seu conjunto, como redutoras da presença da Petrobrás em todo o território nacional.
Aponta o referido estudo que a Petrobrás, nos últimos 15 anos, investiu entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões por refino a ser vendida, ampliando, modernizando, transformando-as mais lucrativas, agregando valor adicional aos óleos produzidos no país. Considera ainda o experiente engenheiro que “dificilmente as refinarias serão vendidas por valores superiores a US$ 3 bilhões, totalmente amortizadas e depreciadas, transferindo-se também gratuitamente os dutos e os terminais, além da entrega do bem principal que é o mercado local e seus fies consumidores”.
Na história do petróleo, no mundo onde suas estruturas empresariais são verticalizadas, a atual direção da Petrobrás compareceu voluntariamente ao Cade e ofereceu seu desmembramento com a venda de unidades industriais rentáveis. Prosseguindo nesse irresponsável programa, determina a presença da empresa em apenas três estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo – onde concentrará os investimentos prioritariamente na exploração do petróleo bruto, tornando-se talvez uma expressiva exportadora da matéria prima, sem a possibilidade de influenciar o preço futuro do barril do petróleo.
A Petrobrás foi criada como suporte industrial para o desenvolvimento do país, e, após atingir esse alto nível de domínio tecnológico na pesquisa e produção de óleo em águas profundas, a atual administração radicaliza ações que alteram seus iniciais objetivos para privilegiar pequena parcela de acionistas, com alta porcentagem de fundos de investimentos estrangeiros. Não haverá mais garantia do abastecimento ao mercado nacional de combustíveis, aos menores custos, mas haverá garantia de pagamentos de dividendos aos acionistas, mesmo á custa de maior endividamento.
Parabenizo o engenheiro Elie Abadie pela sua bem fundamentada denuncia contra o desaparecimento da Petrobrás e expresso, lamentando apenas, que a tenha feito após a aposentadoria, quando tinha as condições morais, éticas e técnicas de liderar um movimento de agregação contra os desmandos da direção da empresa. Mas mantenho a esperança de, proximamente, ver esses atuais gestores e outros explicarem na Justiça as razões que os levaram a destruir símbolos nacionais construídos pelo povo.
Sylvio Massa de Campos é economista aposentado.
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