O aumento no IGP-M vai influenciar os preços ao consumidor e o IPCA?

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O IGP-M sobe 4,34% e registra maior alta mensal desde 2002. Medição veio ligeiramente abaixo da expectativa de mercado de 4,4%. No acumulado em 12 meses, índice tem alta de 17,94%, refletindo depreciação cambial do período e aumento dos preços internacionais das commodities, que impactam especialmente o componente dos preços ao produtor.

O Índice de Preços ao Atacado (IPA) sobe 5,9% e acumula 25,3% em 12 meses. Na comparação por origem dos bens, principal impacto decorre dos produtos agropecuários, que tiveram alta de 9,4% em setembro. Destaques individuais são o arroz, o milho e a soja, que subiram 39%, 15% e 14%, respectivamente. Vale citar que a produção interna desses itens tem sido positiva no ano, a exemplo do próprio arroz, que em julho e agosto teve produção 7% acima do observado no mesmo mês de 2019. Entretanto, o câmbio desvalorizado aumenta a rentabilidade da venda no mercado externo, gerando uma escassez no mercado local que difere do observado na produção. Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registra 0,64% em setembro. O IPC mede a variação dos preços em uma cesta de bens mais próxima da usada no IPCA. Principais contribuições de alta estiveram ligadas ao grupo de alimentos e também no preço da gasolina, que devem influenciar as próximas leituras no indicador do IBGE. Outra alta importante veio do aumento de 23,7% nas passagens aéreas, refletindo a normalização da atividade nesse setor.

O Índice Nacional dos Custos de Construção (INCC) varia 1,15%. Grupo já registra alta acima de 5% no acumulado em 12 meses, sendo 8,2% decorrente do aumento no preço dos materiais, e apenas 2,3% na mão de obra. Aumento nos materiais está ligado à demanda para autoconstrução, onde o indivíduo usa a própria mão de obra para realizar reformas na sua residência, se valendo em larga medida dos recursos obtidos com o auxílio emergencial. A recuperação da atividade no setor da construção civil também vem aquecendo o segmento de materiais.

Apesar de prevermos algum repasse em itens mais voláteis, como alimentos e combustíveis, não esperamos impacto elevado ou permanente nos preços ao consumidor. Leituras do IPCA nos próximos meses devem ter alta marginal, em função de alguns reajustes em produtos alimentícios e transportes. Entretanto, o desemprego alto ainda contém a demanda em diversos itens, como vestuário e serviços, levando o índice agregado a um nível mais moderado.

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Além disso, a correlação entre IPCA e IGP-M tem se mostrado mais fraca nos anos recentes. A maior penetração dos serviços na economia brasileira gerou uma mudança na cesta demandada pelos consumidores, que já conta com 40% dos seus itens ligados a esse setor, cujos preços são menos voláteis e refletem principalmente a renda interna e a confiança, em detrimento da depreciação do câmbio e preço das commodities. Ademais, a maior credibilidade do BC junto ao mercado, impede uma desancoragem das expectativas de inflação mesmo quando o dólar sobe, ao contrário do que ocorria no final da década de 90 e início dos anos 2000.

A atual ancoragem das expectativas de inflação, que contém futuras acelerações de preços, decorre também em grande parte do ajuste fiscal crível no horizonte de médio e longo prazo. Dessa forma, a atual âncora fiscal delimitada pelo teto de gastos cumpre um importante papel no mercado em manter as previsões de inflação sob controle, juntamente com a atuação da política monetária, mesmo diante da variação cambial. Portanto, é fundamental o governo retomar as políticas de ajuste fiscal, e novas medidas de aumento de despesas que vão contra essa expectativa podem, sim, resultar em uma reversão da leitura acerca da inflação futura e potencialmente resultar em uma aceleração do IPCA.

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Estratégias e Pesquisas Econômicas

Rafaela Vitória, CFA, CNPI

Economista-chefe

Banco Inter S.A.

www.bancointer.com.br

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