O Brasil precisa cocar

Os desafios enfrentados pelos povos indígenas sobre o direito de suas terras no Brasil e a necessidade urgente de preservação ambiental.

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Indígenas (foto ABr)
Indígenas (foto ABr)

Com a Constituição de 1988, a capacidade civil dos indígenas, seus direitos originários sobre as terras, as formas culturais e tudo o que caracteriza esses povos são reconhecidos, acabando com a argumentação colonial de que esses povos não teriam lei e deveriam seguir o princípio da assimilação. Dessa forma, apesar de as terras indígenas serem reconhecidas desde a Constituição de 1934, continuando nas seguintes, apenas em 1988 reflete-se uma mudança diferente da antiga concepção de assimilação desses povos ao modo de vida do homem branco.

Hoje, vivenciamos a emergência climática e da biodiversidade. As reservas indígenas, cada vez mais exploradas para pastagens e grilagem, continuam a ser utilizadas pelo garimpo ilegal. São poucos os esforços do governo para diminuir o garimpo e a violência em terras indígenas, e a desintrusão dos invasores caminha a passos lentos. A esse respeito, o ativista e escritor Daniel Mundukuru criticou recentemente o Ministério dos Povos Indígenas pelas poucas demarcações de terras até o momento.

Nas comunidades indígenas, a malária ainda se espalha, as cestas básicas não são devidamente distribuídas aos mais necessitados, e a volta do garimpo e mortes na terra Ianomâmi demonstram que é necessário mais logística e investimentos para sanar a situação precária das populações indígenas.

É relevante que mudemos a visão que, em geral, temos dos povos indígenas. Isso começa pela conservação da floresta. A mitigação da crise climática passa pelo respeito que temos pelos povos indígenas.

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Mais de um quarto dos territórios ocupados pelas populações tradicionais estão preservados. Coisas desprezadas, como o manejo do fogo de forma preventiva, já eram conhecidas dos povos indígenas; a domesticação de plantas de povos pré-colombianos, como a batata-doce e inúmeras variedades de mandioca e amendoim, constituem a base alimentar de muitos povos. O valor para os indígenas da biodiversidade e da agrobiodiversidade nos foi transmitido, e ainda hoje aprendemos com esses povos, inclusive a resiliência para lidar com eventos climáticos. Coisas simples como arar a terra sem destruir a camada fértil constituem um desses ensinamentos que ajudam a proteger o solo e a biodiversidade. Da mesma forma, a ocupação da terra sem um espírito colonial nos traz a ideia de que a cultura indígena visa à preservação da terra e do homem e não à destruição de ambos, em muito resultado da visão judaico-cristã de que a terra foi feita para servir ao homem.

Qualquer projeto de lei que permita a mineração em terra indígena deveria primeiro indagar aos rios, à floresta e aos animais se eles aceitam. Precisamos aprender a pensar que a terra não está apenas sujeita às conveniências humanas. Talvez os povos indígenas não sejam o passado, mas sim o nosso futuro, diz a professora Manuela da Cunha. Por isso, é importante a sua proteção e o reconhecimento de seus territórios, não sendo admissível a perda de vidas de indígenas como vem ocorrendo de forma tão banal. Afinal, “falar de amor enquanto a mata chora é luta sem flecha da boca pra fora”, e como continua o Salgueiro, “a chance que nos resta é o Brasil cocar”. Bom Carnaval.

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