A volta do Partido Republicano ao poder nos Estados Unidos, depois dos oito anos de governo do democrata Clinton vem suscitando uma reavaliação nos fundamentos da política exterior do país e, em conseqüência de sua estratégia.
A cúpula que ensina a política exterior de um país são os seus interesse maiores, chamados academicamente de interesses nacionais. No Brasil, segundo a doutrina da ESG, chamamos de Objetivos Nacionais.
Em que pesem as variações dos tempos vividos, ainda se observa, na sociedade norte-americana, os sinais da antiga tendência no tocante às relações externas: os republicanos isolacionistas, defensores da primazia dos interesses nacionais nas questões de contexto forâneo e os democratas mais sensíveis aos apelos humanitários da sociedade mundial.
Percebe-se a permanência destas duas tendências nas críticas hoje feitas pelos partidários do republicano George Bush à política externa desenvolvida pelo democrata Clinton.
A professora de Ciência Política da Universidade de Sanford, hoje ocupando a importantíssima função de Assessora para a Segurança Nacional do recém inaugurado governo Bush, a doutora Condoleezza Rice, analisando a política exterior do governo Clinton manifestou uma opinião crítica que não esconde a marca do velho espírito isolacionista. Disse a Sra. Condoleezza: – “A crença de que os Estados Unidos exercem o poder com legitimidade somente quando o fazem em benefício de outros ou de outra causa esteve profundamente arraigada no pensamento wilsoniano e ainda ecoou com bastante intensidade no governo Clinton. Naturalmente não há nada de errado em se fazer algo que beneficie toda a humanidade, mas isso, em certo sentido, é um efeito de segunda grandeza. A busca dos Estados Unidos pelo seu interesse nacional é que criará condições para promover a liberdade, a economia e a paz”.
Mais adiante, a assessora para a Segurança Nacional do Presidente Bush afirma: “A política externa norte-americana em um governo republicano deve concentrar o foco nos interesses nacionais dos Estados Unidos rumo as prioridades mais importantes. Ao destacar quais são estas prioridades indica em primeiro lugar a seguinte: – “Assegurar que as forças militares norte-americanas sejam capazes de evitar a guerra, projetar poder e lutar pela defesa dos interesses nacionais, caso fracasse a política de paz.” Em outros trechos de um longo artigo publicado na revista Foreign Affairs a assessora presidencial condena o envio de tropa militar norte-americana ao exterior para a atender a solicitações da ONU e da Otan, envolvendo-se em conflitos armados onde não é perceptível o interesse nacional dos Estados Unidos.
Este novo cenário da política exterior dos Estados Unidos vem orientando as recentes conversas do Presidente Bush com os chefes de governo da Rússia, da China e com membros da União Européia. O anúncio do escudo estratégico antimissil por todos repelido não abalou a convicção de Bush de que se trata do interesse nacional do seu país. Mil e uma razões para rejietá-lo não merecem prevalecer.
Carlos de Meira Mattos
General Reformado do Exército e Conselheiro da ESG.