Quando você chega a um supermercado e, na gôndola, o arroz está com um preço, mas, no caixa, está registrado um valor maior que o anunciado, por direito, você deve pagar o menor preço informado. Mas essa prática ocorre no mercado físico: se ele errou, deve arcar com as consequências. No “mercado” financeiro, entretanto, mesmo que as previsões e análises sejam equivocadas, quem paga é você.
Vou explicar melhor: as análises dos economistas que fazem parte desse mercado financeiro têm sido, no mínimo, equivocadas ano após ano, e a economia gira em torno dessas previsões. Desde 2021, 95% das análises do mercado deram errado, mas, normalmente — acreditem —, beneficiaram a extrema direita e o campo conservador.
Naquele ano, quando o país era comandado por Bolsonaro, “especialistas” previram que a inflação seria de 3%, mas ela ficou em 10,06%. Também projetaram uma Taxa Selic de 3,25%, mas, ao final do período, chegou a 9,25%. Além disso, esperavam uma alta do Ibovespa, mas a realidade foi bem diferente: o índice caiu 11,93%, sua menor marca desde 2015, encerrando o ano em 104.822,04 pontos.
Já em 2022, último ano do mandato do ex-presidente, a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) era de uma alta de 0,28%, mas o crescimento real foi de 2,9% em relação a 2021. No caso do dólar, estimava-se um valor médio de R$ 5,60, mas ele acumulou quedas e finalizou o ano cotado a R$ 5,27.
Porém, no primeiro ano do governo Lula, 2023, a estimativa era de que o Ibovespa ficasse entre 110 e 120 mil pontos, mas ele fechou em 134.185 pontos. Em relação ao dólar, os especialistas previram um fechamento do ano em R$ 5,28, mas a cotação final foi de R$ 4,85. A inflação, projetada para 5,36%, ficou em 4,62%.
Falando em números, pode parecer uma análise muito fria, mas o que quero dizer é que as previsões erradas dos especialistas favoreceram o ex-presidente Bolsonaro quando, por exemplo, projetaram uma alta no Ibovespa. Neste caso específico, ao fazer essa previsão, o mercado automaticamente atrai investidores para o país.
Por outro lado, se esse mesmo mercado afirma, em 2023, que a previsão é de queda, ele afasta os investimentos internacionais, reduzindo o volume de dinheiro circulante no país. Esses “erros” mexem com vidas, valores monetários e carreiras. Os economistas precisam ajustar suas projeções com frequência para que os números fiquem o mais próximo possível da realidade.
Essa engrenagem se retroalimenta: quando um especialista diz que a inflação será alta, diversos agentes do mercado passam a apostar nessa inflação elevada, tornando a previsão uma espécie de profecia autorrealizável. Sempre enfatizo que essas projeções de mercado partem de uma desconfiança estratégica contra governos de esquerda, pois esses mercados tendem a operar com esse tipo de alinhamento político.
Cada economista pode dar maior peso a um fator em detrimento de outro, conforme sua visão de mundo, mas não pode se deixar levar por uma perspectiva exclusivamente progressista ou liberal. Afinal, seus erros impactam diretamente a vida de pessoas simples, que não têm influência sobre o mercado.
Paulo Loiola é estrategista político, sócio-fundador da BaseLab, agência de marketing político especializada no campo progressista, professor de marketing político com dois livros publicados, mestre em gestão pública pela FGV e atuou em prefeituras, mandatos e centenas de campanhas em todo o Brasil.