O novo ciclo de alta da Selic e as ações

Segundo Pedro Galdi, o que realmente interessa para a Bolsa brasileira é a queda dos juros nos Estados Unidos.

102

Conversamos com Pedro Galdi, analista de investimento independente, sobre o novo ciclo de alta da Selic e as ações.

Na sua avaliação, a precificação das ações já está considerando o novo ciclo de alta da Selic?

Na verdade, a nossa Bolsa continua defasada em relação aos seus pares lá fora. O que explica isso é toda uma conjuntura, e não apenas a Selic, sendo que o maior vetor é a taxa de juros nos Estados Unidos, que acaba influenciando o fluxo de capitais a nível global. Considerando os mercados emergentes, a nossa Bolsa acabou ficando um pouco de fora por causa da incerteza da manutenção dos juros altos nos Estados Unidos, o que fez com que tivéssemos uma saída de investidores estrangeiros bem representativa. Por mais que digam que esse volume não seja tudo isso, para nós ele é, já que somos muito pequenos como mercado acionário. Além disso, nós temos muitas incertezas em termos de economia local, como a questão fiscal.

A Selic alta tira um pouco de força da renda variável, principalmente em alguns setores da economia mais relacionados ao crédito, mas a nossa Bolsa está barata. Em termos de Preço/Lucro (P/L), o nosso P/L histórico é 10, 11, o que é atraente para investidores estrangeiros, mas para que a Bolsa fique atraente para valer, o Fed precisa cortar mais os juros para desviar a atenção do fluxo internacional das Treasuries.

Independente de a empresa se beneficiar ou ser prejudicada pelo novo ciclo de alta, como um investidor deve administrar a sua posição?

Eu estou habituado a analisar a carteira dos investidores, já que um investidor normal não tem tempo para acompanhar o mercado e as empresas. Esse tipo de investidor, que, provavelmente, foi pego pelas Americanas, precisa de um suporte, pois não adianta pagar researches independentes que só oferecem recomendações fracas. É preciso ter o respaldo de uma corretora ou de um analista experiente para que os papeis da carteira sejam analisados. Por exemplo, eu já revisei carteiras que tinham ações da Oi que haviam sido compradas antes da recuperação judicial, sendo que os investidores acreditavam que tinham uma grande empresa. É por isso que o primeiro ponto a ser mensurado é a qualidade dos ativos que estão na carteira.

Espaço Publicitáriocnseg

Uma carteira com perfil de dividendos pode ter vários modelos. Por exemplo, ela pode mesclar small caps e grandes empresas que possuem ativos de qualidade, franco crescimento de resultados, estrutura de capital enxuta, sem endividamento elevado, e geração de caixa. 

Como os dois papeis de maior liquidez são a Vale e a Petrobras, um investidor tem que ter eles na carteira. Esses papeis são cíclicos, mas nos bons momentos em que o investidor estrangeiro olha para o Brasil, ele compra Vale e Petrobras. Com relação às small caps, uma ação que eu gosto muito é a Santos Brasil. Nos últimos anos, a empresa cresceu de forma absurda e, recentemente, anunciou que está sendo vendida para a CMA CGM e que vai dar um prêmio de mais de 20% pela recompra de ações para fechamento do capital, fora os dividendos e a redução de capital que vai distribuir até o final do ano. Quem soube ter esse papel em carteira, vai receber o prêmio agora, além de ter recebido os dividendos passados e a sua valorização.

Um ciclo de alta da Selic impacta no pagamento de dividendos?

Depende da estrutura de capital da empresa. Se for uma empresa endividada em moeda local, a alta da Selic pode afetar a sua geração de caixa, mas se ela for eficiente, aumentando suas receitas e administrando seus custos operacionais, ela vai continuar tendo uma geração de caixa interessante e talvez nem precise mudar o pagamento de dividendos. Agora, empresas que seriam diretamente afetadas pela alta da Selic, como as empresas de varejo, nem estão mais pagando dividendos por causa da conjuntura, resultados fracos e prejuízos.

Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?

A nossa Bolsa está barata. Se os juros caírem nos Estados Unidos e na Europa, e a China se recuperar, o cenário econômico global vai melhorar bastante, gerando fluxo de investimento estrangeiro para países emergentes como Brasil e México. A Bolsa vai continuar sendo um negócio interessante, desde que o investidor escolha os ativos certos e olhe o médio e longo prazo. Também é importante diluir a carteira, sendo que dez ações é um bom número para sua composição. Se um papel cair, o investidor vai ter outros ativos que vão suportar esse primeiro momento negativo, mas é preciso sempre revisar, pois sempre existem surpresas negativas relacionadas às empresas e setores.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui