O novo PAC e as expectativas

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Construção civil, prédio, edifício
Construção (foto de Antônio Cruz, ABr)

O primeiro ato do novo governo, feito de forma coordenada e bem divulgada, foi o anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estimado em R$ 1,7 trilhão, na forma de parceria público-privada.

Essa modalidade vai predominar no arranjo político escolhido pela área econômica do governo para tentar superar os entraves enfrentados no Congresso Nacional, formado por bancadas eleitas legitimamente, mas representativas do grande capital nacional e internacional operando em solo brasileiro.

A racionalidade predominante na mente da elite de maior influência na mídia corporativa, e até dentro do próprio Governo Federal, tem a concorrência como premissa básica e a valorização do risco na luta pela apropriação da riqueza gerada pelos 100 milhões de trabalhadores ocupados na produção, no tempo presente.

A mensagem predominante, salvo raras exceções, naturaliza o desemprego, a velhice com parcos recursos ou proteção social, e desvaloriza o assistencialismo do Estado, caracterizado como populismo.

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Neste contexto, alguns economistas muito bem remunerados estão aí para convencer os desavisados de coisas que só fazem sentido para quem paga a eles, ou seja, contam um rosário de meias verdades. Se disserem a nós, por exemplo, que a dívida pública do país está grande demais e que esse é o nosso grande problema, perguntemos por quê. Dívida pública é completamente diferente do endividamento de outras unidades financeiras: famílias e empresas. Eu e vocês temos problema em nos endividarmos, mas o governo central, endividando-se em moeda nacional, não! Isso vira um problema quando dizemos que é um problema e nos comportamos de forma insana por causa disso.

O cenário que estamos enfrentando é justamente consequência de os governos adotarem o combate à dívida pública como prioridade. Isso aumenta o endividamento da população e produz crises que não precisavam acontecer.

E para combater a dívida, esses economistas iluminados propõem uma alternativa maluca: reduzir a renda da economia, tirar estímulos, desmontar o Estado.

O cenário que estamos enfrentando é justamente consequência de o governo adotar o combate à dívida pública como prioridade. Isso aumenta o endividamento da população, produz crises que não precisavam acontecer, gerando um sofrimento enorme em quem enfrenta filas nos serviços públicos mal financiados, como observamos hoje nas principais regiões metropolitanas do país.

Senão vejamos, o cenário incerto e a taxa real da Selic estratosférica geram maior endividamento público e familiar, baixo investimento privado, menor produção de bens e serviços, ociosidade nas fábricas, menor contratação da força de trabalho e alto entesouramento como reserva estratégica para minimizar o futuro incerto.

Isso gera ainda menor demanda na indústria, reação negativa no consumo das famílias, vendas menores no varejo e atacado, desequilíbrio financeiro das empresas e falências.

O novo governo responde com uma estratégia keynesiana. Para mudar esse jogo retrancado, luta por juros civilizados e anuncia gastos em investimentos em diversos setores para interromper esse ciclo vicioso e permitir a recuperação da confiança e circulação da renda. Os rentistas de plantão vão reclamar. Observemos, pois.

Ranulfo Vidigal é economista.

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