O poder da tecnologia na educação pública

Como a tecnologia pode transformar a educação pública no Brasil, oferecendo oportunidades para alunos e professores. Por Yago Ondersem.

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Sala de aula em escola pública (Foto: Tânia Rêgo/ABr)
Sala de aula em escola pública (Foto: Tânia Rêgo/ABr)

Segundo o Censo Escolar de 2023 (INEP, 2024), o Brasil possui 137.208 escolas públicas estaduais e municipais, das quais apenas 85.039 (62%) têm acesso à internet voltado para a aprendizagem. O dado revela uma lacuna significativa, mostrando a necessidade urgente de investir em tecnologia na educação. Contudo, o que inicialmente parece um obstáculo pode ser transformado em uma oportunidade para transformar a educação pública do país.

Isso porque a tecnologia pode desempenhar um papel crucial na superação das deficiências de infraestrutura das escolas públicas, promovendo uma experiência educacional mais rica e eficiente. No entanto, para isso, é necessário reduzir a disparidade de acesso às soluções tecnológicas no ambiente escolar.

Até porque o cenário atual é preocupante. Nas escolas federais de ensino fundamental, o acesso à internet é de 89,8%, enquanto nas estaduais é de 79,1% e nas municipais, de 55,6%. No ensino médio, os números são 93,8% nas federais, 79,5% nas estaduais e 73,5% nas municipais. Além disso, apenas 36,7% dessas instituições fornecem internet aos alunos, o que impede muitos estudantes de acessarem recursos digitais que enriquecem o processo de aprendizagem.

Para os alunos, o acesso à tecnologia oferece aprendizado personalizado e interativo, aumentando o engajamento e preparando-os para o futuro digital. Ferramentas como jogos e simulações tornam o aprendizado mais dinâmico, enquanto a adaptação às necessidades individuais maximiza a eficácia do ensino.

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Avaliando além do viés acadêmico em si, professores e a própria gestão escolar também se beneficiam do uso de recursos modernos no dia a dia. Pensando pelo lado dos educadores, a tecnologia otimiza o tempo, permite o acesso a materiais didáticos inovadores e facilita a comunicação com alunos e pais. Já para as instituições, as ferramentas contribuem para a melhora no desempenho dos estudantes, com aumento das taxas de aprovação e redução da evasão. Softwares de gestão facilitam ainda o acompanhamento do desempenho, o controle de recursos e a comunicação com a comunidade, alinhando-a com as demandas do século XXI.

Tempo de mudança

Para enfrentar as lacunas de infraestrutura tecnológica, especialmente nas escolas municipais, é essencial que os investimentos governamentais sejam aumentados, visando principalmente a aquisição de equipamentos e a instalação de infraestrutura de internet de alta qualidade. A integração de plataformas digitais e a adoção de soluções baseadas em nuvem, como lousas digitais e computadores, são outras medidas fundamentais.

Além disso, é crucial oferecer capacitação adequada aos professores para o uso eficaz das novas tecnologias. Segundo o INEP, 45% dos professores não receberam treinamento específico, o que limita o aproveitamento das ferramentas tecnológicas e pode gerar resistência às mudanças.

A manutenção e o suporte técnico também são itens fundamentais no processo. Dados da UFMG mostram que a ausência de suporte técnico adequado resulta em 40% das escolas enfrentando períodos prolongados de inatividade dos equipamentos, causando frustração e interrupções no aprendizado.

Formas de agir

Para superar os desafios, é fundamental que as escolas públicas adotem uma abordagem integrada na implementação de tecnologias educacionais. Alunos, professores e gestores devem receber suporte adequado para usar as ferramentas de forma eficaz, adaptando suas abordagens de ensino às novas tecnologias e, assim, garantir a melhoria contínua da qualidade da educação.

Outro passo que pode ser dado é o estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada. Nesse caso, as secretarias de educação, tanto municipais quanto estaduais, desempenham um papel crucial no processo. Elas podem ajudar a conectar o setor privado com as escolas que necessitam de recursos tecnológicos, facilitando negociações e assegurando que as soluções oferecidas atendam às necessidades específicas das instituições. Os diretores, como responsáveis pela administração diária das escolas, também são pontos de contato fundamentais para efetivar esse tipo de parceria, pois têm uma visão clara das carências em infraestrutura e dos recursos necessários para melhorar o ambiente educacional.

Em relação às tecnologias emergentes, como inteligência artificial e realidade aumentada, que têm capacidade de transformar a educação pública ao personalizar o ensino e enriquecer a experiência de aprendizado, o indicado é que as escolas insiram rigorosos processos de segurança e privacidade dos dados dos alunos, visando à proteção dessas informações. Além disso, por conta da velocidade de desenvolvimento, é fundamental que haja um planejamento voltado para a atualização contínua dos equipamentos para evitar a obsolescência prematura e garantir a sustentabilidade a longo prazo.

O fato é que a tecnologia pode não ser a solução para todos os problemas da educação pública, mas é inegável que ela pode ser uma grande aliada, oferecendo um potencial enorme para transformar as salas de aula e preparar melhor os alunos. Afinal, ao transformar o ambiente escolar, transformamos também o futuro do nosso país.

Yago Ondersem é Diretor de Operações na Reeducation

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