A visita ao Brasil do presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, destaca, ao contrário, a importância de um sistema-país que saiba combinar as necessidades institucionais com as econômicas, como destacou a presença de Flavio Cattaneo, CEO da Enel, na delegação que se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um acordo bilateral que selou um belo trabalho diplomático, permitindo o restabelecimento de uma relação entre o grupo industrial energético italiano e a administração brasileira, que apresentava alguns sinais de fragilidade nos últimos anos.
O precioso trabalho do Quirinale seguiu-se ao trabalho realizado pelo primeiro-ministro durante o recente G7, em Borgo Egnazia, quando a primeira-ministra Giorgia Meloni convidou Cattaneo para a reunião ítalo-brasileira com o próprio Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Uma abordagem do primeiro-ministro já vista na elaboração do Plano Mattei para a África, onde as principais empresas industriais italianas são protagonistas diretas da geopolítica nacional.
No Brasil, especificamente, a trajetória coordenada público-privada permitiu recuperar uma relação histórica e estratégica. Um trabalho que deu certo, como demonstram os enormes investimentos nas atividades energéticas brasileiras, que o plano industrial Enel 2024-26 prevê, o primeiro da nova cúpula, que passa de US$ 2,5 bilhões para US$ 3,7 bilhões.
O acordo firmado por Cattaneo com o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, certifica a intenção do grupo industrial de investir na formação de novos profissionais locais no setor da transição energética.
Além disso, como reconheceu o presidente Lula, durante entrevista coletiva conjunta com Mattarella, a Itália representa um parceiro privilegiado do Brasil no setor energético. “Os parques eólicos e fotovoltaicos das empresas italianas e o seu interesse no hidrogênio verde mostram o potencial a ser explorado nesta área. Um exemplo é o investimento de mais de R$ 2 bilhões no parque eólico Aroeira, na Bahia, construído pela Enel.” Um posicionamento que Mattarella não pretendia perder.
Do ponto de vista prático, já se obteve importante resultado no que concerne à carteira de habilitação de motorista, que será reconhecida por ambos os países.
Em um encontro caloroso, o presidente Mattarella se reuniu, no dia 16 de julho, com líderes e empresários ítalo-gaúchos, reafirmando a união e o afeto entre a Itália e o Rio Grande do Sul, manifestado, igualmente, pelo envio de material em prol da população gaúcha atingida pelas recentes calamidades.
No Rio de Janeiro, Mattarella inaugurou, na Biblioteca Nacional, a exposição Rio: Nova Roma, Alianças Culturais, 150 anos da imigração italiana. O local foi iluminado, remotamente, por Elettra Marconi, filha de Guglielmo Marconi, inventor do rádio, que, sempre remotamente, de Roma, iluminou o Cristo Redentor em 12 de outubro de 1931
Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.