O processo de aprender se inicia quando a atividade encontra um obstáculo, escreveu J.F. Dashiell, em Psychological Bulletin, nº 32 – 1935.
O desempenho social das empresas passou a ocupar rapidamente a atenção de consumidores, investidores, colaboradores e fornecedores, como um “discernimento súbito”. Cada vez mais, a responsabilidade social é vista como um atributo inerente às empresas e não como uma concessão eventual.
Para alguns, as empresas-cidadãs tornaram-se mais importantes na construção de uma nova ordem que é condição para a correção das desigualdades que afastam os povos e geram um forte contraste na divisão da renda e da riqueza. Ou, pelo menos, para a convivência suportável com elas. Para estes, o papel das empresas socialmente responsáveis é mais importante nesta era mais recente, de reconhecimento de que a história não morreu.
Para outros, que não distinguem nada além de publicidade nos empreendimentos de cidadania empresarial, pode ser que os investimentos em trabalho ético, projetos sociais e ambientais não correspondam à expectativa que os públicos interessados vêm edificando de forma crescente. E isto pode ser letal.
Uma luz sobre esta dúvida pode ser descortinada pela própria evolução do conceito de cidadania empresarial. Em um passado um pouco mais distante, já se encontrava na Constituição de Weimar (Alemanha, 1929) referência à função social da propriedade.
A partir dos anos 60, no entanto, ganham impulso as condições que propiciariam o estágio atual de consciência sobre a responsabilidade dos vários agentes sociais numa atuação mais incisiva no processo de construção da sociedade, associada ao bem comum.
Os anos 60 foram marcados pelo movimento pelos direitos civis nos EUA e as manifestações pioneiras de políticas de ação afirmativa, sobretudo no que refere à integração racial, como o busing, acesso de negros ao transporte escolar. No período do governo Kennedy, as leis dos direitos civis de 1964 1965, as manifestações pela paz a partir de 1967, as primeiras ações de defesa de direitos de consumidores lideradas por Ralph Nader.
Na Europa, exemplos como estes somaram-se às manifestações de maio de 68 na França e ao surgimento dos verdes como movimento político de expressão, inaugurando uma nova era de responsabilidade coletiva.
A partir de meados dos anos 70, o novo cenário foi revigorado pelos dois choques do petróleo (1973 e 1979), o choque dos juros internacionais de 82, o esgotamento da capacidade dos governos de financiarem políticas públicas como faziam até então, mais uma crise de valores temperada pelo repúdio popular, sobretudo nos EUA, às empresas que se beneficiavam com a guerra do Vietnã.
Pela primeira vez na história da Humanidade, as inovações tecnológicas e estéticas passaram a ser iniciativa das gerações mais jovens. Muitas empresas procederam então os ajustes estruturais necessários para sobrevivência no novo ambiente de negócios e uma maior consciência das consequências da atividade produtiva instalou-se.
Daí para a frente, novas ferramentas, em pleno processo de aperfeiçoamento, foram sendo introduzidas no dia a dia das empresas, com a finalidade de ressaltar a importância da função social, lado a lado com a função econômica.
Um marco neste conjunto de instrumentos é o conceito de sustentabilidade aplicado e conferido pela sociedade. Após um hiato de quase uma década, caracterizada pela hegemonia dos EUA no aspecto militar, com o fim da Guerra Fria e esfacelamento da União Soviética, no aspecto econômico, com a instabilidade gerada pela reorganização da comunidade europeia e construção do euro, além do estiolamento da economia japonesa, o cenário delineado a partir dos anos 60, em que foram incubados os conceitos mais recentes de responsabilidade social, parece recrudescer.
Em relação aos tempos de pioneirismo da cidadania empresarial, alguns avanços foram registrados e poderão demarcar um período de novas conquistas ainda mais incisivas. A iniciativa de empresas em atividades econômicas rentáveis de preservação, o desenvolvimento do terceiro setor, a assimilação política dos verdes, a institucionalização do movimento de defesa dos direitos dos consumidores, do consumo consciente e do comércio justo são alguns exemplos desses avanços.
De resto, os desafios cresceram tanto que conquistas mais marcantes tornaram-se questão de sobrevivência. Diante do agravamento das disparidades sociais e da dramaticidade que o risco ambiental atingiu – casos do esgotamento de recursos naturais como a água, do aquecimento global, dos danos à biodiversidade e à camada de ozônio – nada menos do que muito mais do que já foi feito é inaceitável.