O que esperar da cimeira

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Reúnem-se no Rio, nos dias 28 e 29 deste mês de junho, o chefes de Estado e de Governo da América Latina, Caribe e União Européia. Calcula-se a presença de 48 governantes e seus ministros de Relações Exteriores, acompanhados de numerosas comitivas. Trata-se de mais um passo importante no sentido da política de integração multilateral visando estreitar laços culturais, políticos e econômicos entre as nações do mundo.
O processo integracionista sonhado por idealistas desde o século passado tomou fôlego e começou a se efetivar depois da 2ª Guerra Mundial. Na Europa, a mais auspiciosa experiência é a da União Européia, nascida modestamente com o Tratado Bruxelas (1948) e que, através de adesões, aperfeiçoamentos de estrutura e de mecanismos, constitui, hoje, uma sólida comunidade de 18 estados-membros, caminhando para a consolidação de uma moeda única.
Na América do Sul a iniciativa integradora que obteve maior sucesso foi o Mercosul, nascido com a Carta de Assunção (1991) e que neste curto espaço de oito anos alcançou resultados invejáveis como área de união aduaneira entre o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, com recentes aproximações do Chile e Bolívia.
Ao lado do interesse geral dos participantes que tem em vista o fortalecimento do diálogo político e econômico entre países oriundos do mesmo veio cultural europeu, ressalta-se, também, nessa Cimeira, o propósito de busca de uma melhor linha de cooperação entre os dois grandes blocos regionais que ali se encontram – União Européia e o Mercosul.
Não se pode ignorar a existência de enorme interesse recíproco na política de maior entendimento e intercâmbio entre esses dois blocos regionais. Basta lembrar-se que a União Européia (UE) é o maior parceiro comercial do Mercosul. Entre o Mercosul e a UE circulam 45% do comércio global entre os países dessas duas regiões. As estatísticas do comércio internacional nos anos 90 indicam que 56% dos investimentos diretos oriundos da Europa dirigiram-se ao Mercosul. O Brasil, somente, exportou para a UE em 1998 29% de suas vendas ao exterior.
Assim, a UE foi o nosso principal cliente comprador, seguido da Aladi (27%), outros países do Mercosul (17%) e Estados Unidos (16%).
Em que pesem os interesses e os progressos já alcançados através da primeira aproximação efetiva entre os dois blocos regionais formalizada pelo Acordo de 1995, de intercâmbio e cooperação, há dificuldades a serem vencidas, agora, na reunião da Cimeira. Residem estas dificuldades, essencialmente, nas restrições que os países europeus opõem às exportações, mormente de produtos agrícolas latino americanos para os seus mercados. Estas restrições, por meio de entraves tarifários e alfandegários vários, não se coadunam com a proposta dos países do primeiro mundo que defendem uma política de livre comércio.
A principal resistência à importação de produtos agrícolas da América Latina, o que limita o espaço de expansão do Mercosul, vinha do governo francês. Alvissareiramente na reunião dos Ministros de Relações Exteriores dos sete grandes, encerrada em Luxemburgo a 22 de junho último, há uma semana apenas do início da Cimeira, as restrições francesas e de outros europeus ao livre comércio com a América Latina foram, em parte, removidas. Suspeitava-se de que o fato dos Estados Unidos não terem sido convidados para a reunião pudesse despertar alguma reação desfavorável de Washington. Entretanto, mais este fator preocupante foi removido, com a declaração do porta voz da Casa Branca, afirmando que o presidente Clinton via com satisfação e otimismo o resultado deste encontro, que visava ampliar as áreas de livre comércio no mundo.
Espera-se, agora, que os 48 chefes de governo que se reunirão no Rio encontrem o caminho que os leve à ampliação benéfica para todos de uma cooperação cultural, política e comercial mais igualitária. A proposta de globalização que os países emergentes recebem dos “grandes” trás no seu bojo a prática do livre comércio. O livre comércio tem mão dupla, não pode ser exigido apenas dos países emergentes.

Carlos de Meira Mattos
General reformado do Exército e conselheiro da Escola Superior de Guerra (ESG).

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