O que fazer para acelerar sua jornada de adaptação à Reforma Tributária?

Pesquisa da BSSP indica que somente 12% das empresas estão implementando estratégias para se adaptarem às mudanças da reforma Por Liêda Amaral

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A recente aprovação do projeto de regulamentação da Reforma Tributária pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado representa mais um passo no processo de implementação da maior mudança em nosso sistema fiscal das últimas décadas e reforça a necessidade urgente de um planejamento estratégico eficaz por parte das empresas brasileiras.

Afinal, segundo o próprio secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, em pronunciamento recente, a previsão é de que, já em 2026, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto Seletivo sejam aplicados dentro de um período de testes. Nesse sentido, o ano de 2025 desponta como um período decisivo para que as organizações do país se ajustem ao novo cenário fiscal.

Essa jornada inclui ainda a necessidade de um acompanhamento mais rigoroso de suas obrigações tributárias, diante do longo período de convivência – até 2033 – entre o sistema atual e o novo modelo, que passará, gradativamente, a vigorar com a sistematização da Emenda Constitucional nº 132 (que instituiu a reforma no fim de 2023) e de suas respectivas leis complementares.

Apesar da relevância do tema, o fato é que grande parte das empresas ainda não iniciou um movimento de adaptação efetiva para os impactos da reforma e para a profunda transformação estrutural de nosso sistema tributário que ela propõe.

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De acordo com um levantamento da BSSP com líderes empresariais que cursam pós-graduação na área de negócios da instituição, apenas 12% dos entrevistados estão implementando ações efetivas relacionadas à Reforma Tributária em seus negócios. Esse dado dialoga com um levantamento recente da empresa de inteligência fiscal Systax, que indica que 74% das empresas ainda estão buscando entender as mudanças tributárias propostas pela Emenda 132. Esse cenário reflete um panorama desafiador que precisa ser otimizado, frente aos avanços já feitos pelo Congresso Nacional.

Tal contexto é ainda mais preocupante quando consideramos o impacto setorial da Reforma Tributária em segmentos importantes da economia brasileira, como comércio e serviços. Diferentes especialistas apontam estimativas de aumento na casa de 18% na carga tributária do varejo e de mais de 80% para o setor de serviços.

Mesmo as pequenas empresas, que compõem a maior parte do tecido empresarial do país, podem ser impactadas por um possível enfraquecimento do Simples Nacional. Todavia, o Datafolha já estimou que quase 60% das micro e pequenas empresas têm pouco ou nenhum conhecimento sobre as mudanças propostas pela reforma.

Considerando esse cenário, é essencial que os negócios do país adotem uma abordagem integrada e passem a acompanhar, com atenção, o andamento da Reforma Tributária e seus possíveis efeitos sobre o mercado.

Uma etapa importante nesse sentido envolve o mapeamento dos impactos das mudanças no modelo tributário vigente, identificando os desdobramentos financeiros e operacionais e a necessidade de eventuais mudanças na estrutura dos negócios. Esse diagnóstico deve ser seguido pela elaboração de um plano estratégico, que contemple ações específicas para ajustar processos internos e identificar oportunidades de redução de custos.

O estudo de cenários tributários também se apresenta como uma ferramenta indispensável. Simulações baseadas nas novas alíquotas e regras permitirão que as empresas projetem diferentes desdobramentos e se preparem para variáveis ainda não consolidadas no texto da reforma. Além disso, é imperativo fortalecer a expertise das lideranças, promovendo capacitações específicas para que gestores e equipes estejam aptos a interpretar e aplicar as mudanças normativas de forma eficiente.

A transição tributária oferece ainda uma oportunidade para a busca de maior eficiência operacional. Estratégias que combinam compliance tributário e otimização de processos podem resultar não apenas em uma adaptação bem-sucedida, mas também em uma vantagem competitiva a longo prazo.

Dentro de todo esse processo, sem dúvidas desafiador, uma coisa é certa: a inércia não é uma opção diante da complexidade e da magnitude das mudanças que se aproximam. Uma postura proativa pode permitir não apenas a mitigação de riscos, mas também a identificação de oportunidades de crescimento alinhadas à segurança fiscal.

Liêda Amaral é sócia da BSSP Consulting e ex-secretária da Receita Federal.

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