O que realmente importa no valuation de empresas de tecnologia?

Fatores que impactam o valuation de empresas de tecnologia: de métricas financeiras até aspectos estratégicos e qualitativos. Por Fábio Arruda.

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O valuation de empresas de tecnologia é um dos temas mais complexos para empreendedores e investidores. Muitos empresários enfrentam dificuldades para estimar o real valor de seus negócios, especialmente porque existe uma diferença significativa entre um valuation teórico e o valor que o mercado realmente está disposto a pagar. Esse descompasso ocorre porque o preço de uma empresa é determinado não apenas por fatores quantitativos, como métricas financeiras, mas também por fatores qualitativos e estratégicos.

Os aspectos quantitativos incluem diversos indicadores mensuráveis que os investidores analisam para avaliar empresas de tecnologia. Alguns dos mais relevantes incluem: crescimento da receita, margem EBITDA, recorrência da receita, churn de clientes, custo de aquisição de clientes (CAC) e o valor do cliente ao longo do tempo (LTV).

No setor de tecnologia, muitas vezes o crescimento acelerado da receita pode ser mais valorizado do que a lucratividade imediata, especialmente se a empresa tiver uma proposta de valor disruptiva em um mercado endereçável grande. Por outro lado, empresas com alta margem EBITDA também são bastante valorizadas, pois, além de alta rentabilidade, possuem margem de segurança para momentos de mercado mais turbulentos. Ainda, modelos baseados em assinaturas (Software as a Service), com receita recorrente, recebem múltiplos maiores do que aqueles que dependem de vendas pontuais, pois essa característica traz estabilidade e previsibilidade de receita.

A capacidade de retenção de clientes também é relevante para assegurar um valuation mais alto. Empresas com churn alto perdem valor no longo prazo, pois a saída frequentemente está relacionada à insatisfação dos clientes, tornando necessário gastar mais em marketing para manter o patamar atual de receita. Nesse sentido, o equilíbrio entre o custo de aquisição de clientes (CAC) e o valor que esses clientes geram ao longo do tempo (LTV) é um fator essencial no valuation. Além disso, modelos de crescimento que exigem menos capital para expansão e possuem maior escalabilidade de negócios são mais atraentes para investidores.

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Contudo, além dos números, as características qualitativas, que são mais subjetivas e difíceis de medir, também impactam o valuation de uma empresa de tecnologia.

Entre os principais fatores estão a sustentabilidade da vantagem competitiva e as barreiras de entrada, pois empresas que possuem diferenciais tecnológicos sólidos e propriedade intelectual protegida tendem a ser mais valorizadas. Quanto mais difícil for para novos concorrentes entrarem no mercado, maior a percepção de valor da empresa.

Negócios com altos índices de satisfação e fidelização atraem investidores, pois, tipicamente, clientes satisfeitos acabam recomendando novos clientes, criando um efeito composto de retenção e crescimento orgânico. Da mesma forma, um time bem estruturado e uma cultura organizacional forte também contam pontos na avaliação do negócio. Por outro lado, a alta dependência de um único fundador ou executivo pode reduzir o valuation da empresa devido ao risco de sucessão.

Os múltiplos utilizados para avaliar empresas de tecnologia variam de acordo com o segmento. Empresas de SaaS, por exemplo, podem ser avaliadas com múltiplos de receita que variam entre 2x e 5x na maioria dos casos. Já os marketplaces costumam ter um múltiplo menor, em função da complexidade operacional e da alta necessidade de capital para atingir escala.

No caso das fintechs, a análise é mais complexa e deve levar em conta o diferencial da proposta de valor para o cliente e a regulamentação do setor.

O valuation de uma empresa de tecnologia não é uma ciência exata, mas sim um conjunto de análises que combinam fatores financeiros, estratégicos e de mercado. Valuations podem flutuar bastante conforme o apetite dos investidores e o cenário econômico.

Em momentos de baixas taxas de juros, investidores acabam sendo obrigados a tomar mais risco para obter retornos melhores, o que traz um alto fluxo financeiro para classes de ativos alternativos, que, por sua vez, vão financiar empresas de pequeno e médio porte. Estar atualizado sobre benchmarks de mercado ajuda empreendedores a entenderem suas possibilidades.

Para maximizar o valor do negócio, é fundamental que os empresários se preparem com antecedência, otimizando suas métricas operacionais, fortalecendo sua proposta de valor e garantindo que sua empresa esteja estruturada e profissionalizada para atrair investidores e potenciais compradores. Dessa forma, aumentam-se as chances de obter um valuation favorável e condizente com as aspirações do dono.

Fábio Arruda é sócio e atua na área de M&A da Auddas

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