Conversamos sobre o super app de serviços bancários com Thiago Saldanha, CTO da Sinqia. Recentemente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que os aplicativos dos bancos seriam substituídos por um super app que consolidaria todas as suas funções.
Como vai funcionar o super app de serviços bancários mencionado por Campos Neto?
Esse é um dos grandes produtos que o Open Finance possibilita, já que cada instituição possui APIs publicadas no mesmo padrão. Com isso, as pessoas poderão permitir que um banco, uma instituição ou uma fintech puxem seus dados para um único lugar que faça a sua consolidação de forma a possibilitar uma melhor usabilidade.
O que o Campos Neto quis dizer é que você não vai mais precisar do aplicativo do banco 1, 2 e 3, já que você terá as APIs. Lógico, se a pessoa quiser ter o aplicativo do seu banco, ela vai ter, mas já é possível que uma pessoa tenha apenas um aplicativo conectado às APIs que puxam os dados de outros bancos.
Já existem aplicativos que fazem isso. Por exemplo, o aplicativo do banco 1 se conecta ao banco 2, o que possibilita a gestão de duas contas no mesmo aplicativo. Nele, além de poder transferir da conta do banco 1, eu posso transferir da conta do banco 2.
Com o decorrer dos anos, essa evolução vai tornar a interconectividade de instituições e a troca de dados em fatos cada vez mais normais, mas nós já estamos vivendo essa era.
Só confirmando: além de consolidar as informações de mais de um banco, esses super apps vão permitir a operação de contas de diferentes bancos no mesmo aplicativo?
Exatamente. Você poderá acessar os dados e as funcionalidades da sua conta no banco 2 através do aplicativo do banco 1. Hoje, você já pode abrir o seu aplicativo, clicar no Open Finance e ver as funcionalidades que estão conectadas. O que está gerando dúvidas é a colocação de que um aplicativo vai substituir os aplicativos dos bancos.
Uma startup pode desenvolver um aplicativo que se conecte com todos os bancos. Você baixaria esse aplicativo no seu celular e faria a gestão de todas as suas contas. Da mesma forma, um banco pode criar um super aplicativo para que ele seja o principal. Essa vai ser a briga, pois um grande banco não vai querer se ausentar do dia a dia do seu usuário.
Os bancos vão se posicionar mais como um produto de tecnologia, para estarem presentes como facilitadores, do que como um serviço bancário. Afinal de contas, se um banco não estiver presente, como ele vai vender mais crédito e produtos financeiros?
Estrategicamente, qual é a importância dos super apps?
O super app é uma questão de experiência. Todos os bancos e fintechs buscam entregar a melhor experiência para obter um melhor relacionamento com o cliente final. O mercado caminha para entregar essa experiência no uso do dinheiro. O Pix, o Open Finance e o Drex são questões de experiência. Quanto mais fácil for utilizar o dinheiro, mais um cliente vai se apegar a uma marca.
Com o super app, você poderá fazer a gestão do seu dinheiro num único aplicativo, criando um relacionamento mais forte com ele e, consequentemente, comprando ofertas financeiras dentro dele.
Por mais que o Open Finance siga firme e forte, ele não deu uma sumida da mídia?
Como o Open Finance não é um produto final como o Pix, e sim uma plataforma que possibilita novas ofertas, assim como o Drex, ele não está sendo muito divulgado na mídia, mas para quem está na área, trabalha com isso e acompanha o Banco Central, esse é um tema super relevante, que tem uma agenda ainda em andamento e que possui regulatórios que estão mudando diariamente.
O mesmo vai acontecer com o Drex. Vai haver um grande impacto no lançamento, mas depois de um tempo, ele não vai ser tão falado na mídia, pois o que será utilizado serão os produtos originados em cima dele. Pode haver uma visibilidade exponencial em cima de um desses produtos, mas não em cima do Drex.