O Triângulo da Paz: Netanyahu, Erdogan, Putin

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Benjamin Netanyahu
Benjamin Netanyahu (foto de Alan Santos, PR)

Israel apoiou tacitamente a mediação turca entre a Ucrânia e a Rússia

 

A fim de fortalecer as relações entre Israel e Turquia, Netanyahu telefonou para Recep Erdogan, no mês passado. Foi um contato importante, já que os dois presidentes haviam cortado contatos, desde 2013. As relações entre os dois países foram reabertas, de fato, após a visita histórica do presidente israelense, Herzog, a Ancara (Timesofisrael, no dia 9 de março). Naquela ocasião, Herzog afirmou: “As relações entre Israel e a Turquia são importantes para Israel, importantes para a Turquia e importantes para toda a região.”

No telefonema, Netanyahu expressou sua satisfação com os esforços de mediação da Turquia entre a Ucrânia e a Rússia e sublinhou o quanto esses esforços “foram importantes para o mundo”.

No dia seguinte, Erdogan ligou para Putin. No relatório oficial da agência de notícias turca, Anadolu, estão detalhados os temas por eles tratados, maioritariamente relativos às relações entre os dois Estados, entre os quais se destaca a construção de um hub russo de armazenamento de gás, na Turquia, que por isso, será comercializado por Ancara (assim a Europa vai comprar gás russo como antes, só que a preços mais altos…).

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Na conversa entre os dois, destacam-se, também, os expressivos elogios de Erdogan ao presidente russo por ter aceitado o pedido de prorrogação da livre comercialização do trigo ucraniano, por mais 120 dias, prorrogação que ficou interrompida após o ataque à ponte de Kerch (que liga a Rússia à Crimeia) e à frota russa, em Sebastopol, operações realizadas no corredor humanitário para fins militares; daí a irritação de Moscou.

Mas, acima de tudo, Anadolu relata este aceno: “Erdogan disse que, na Turquia, os contatos dos chefes da inteligência russa e americana estão desempenhando um papel fundamental na prevenção de uma escalada descontrolada” na Ucrânia.

 

A posição de Netayahu

Até aqui, vimos os relatos das duas conversas. Deve-se acrescentar que a sequência temporal dos telefonemas parece significativa, assim como a menção de Netanyahu à mediação turca. Dois detalhes que nos levam a pensar que Netanyahu enviou algum recado a Putin, com quem mantém relações, de longa data.

Israel apoiou tacitamente a mediação turca entre a Ucrânia e a Rússia durante o governo anterior. E, embora tenha se retirado posteriormente, quando ficou claro que nada havia a ser feito nesse sentido, ainda manteve uma posição de neutralidade, embora com muitas ambiguidades.

Netanyahu tem a força que o governo anterior não teve e pode ser um peão importante na busca de um possível compromisso. Claro, Netanyahu não esconde suas inclinações agressivas, particularmente em relação à Síria, Irã e Líbano, aliados estratégicos de Moscou.

E há muitas ambiguidades do personagem, sobretudo quanto à sua falta de escrúpulos. Mas ele, ao mesmo tempo, é uma pessoa pragmática, assim como Putin. Eles, então, poderiam encontrar pontos de acordo.

 

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.

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