Olimpíadas de Paris 2024 e as medalhas

Mais de 100 medalhas das Olimpíadas de Paris 2024 foram devolvidas devido a defeitos causados por vernizes de baixa qualidade. Por Edoardo Pacelli

186
Postagem do nadador Yohann Ndoye Brouard publicada no X em 28 de dezembro de 2024. © Yohann Ndoye Brouard/X
ostagem do nadador Yohann Ndoye Brouard publicada no X em 28 de dezembro de 2024. © Yohann Ndoye Brouard/X

Imagine a alegria e o orgulho de um ganhador de medalha olímpica. Agora, imagine a decepção e frustração do mesmo atleta, forçado a devolver as medalhas. O que aconteceu? A principal razão para o grande número de medalhas defeituosas conquistadas por atletas nas Olimpíadas de Paris e devolvidas ao comitê organizador foi a deterioração prematura causada por vernizes de baixa qualidade. As que parecem estar em pior estado são as de bronze, também porque, devido ao material, oxidam mais facilmente em contato com o ar.

A acusada dessa má imagem internacional é a Casa da Moeda de Paris (Monnaie de Paris), que, muito provavelmente, não usou os melhores produtos na confecção das medalhas olímpicas para as Olimpíadas de 2024, encerradas há apenas alguns meses. De fato, alguns atletas que subiram ao pódio publicaram, nas redes sociais, o estado de suas medalhas que, em vez de brilharem como ouro, prata ou bronze, ficaram tão danificadas que foram devolvidas por uma centena de atletas.

O jornal estratégico francês LaLettre conduziu uma investigação e descobriu que a Casa da Moeda francesa já estava na mira da imprensa por causa da disputa com a União Europeia sobre a má qualidade da cunhagem, devido ao uso de um produto químico proibido pela União: o trióxido de cromo.

Agora, mais de 100 medalhas foram devolvidas pelos atletas que as ganharam porque foram consideradas defeituosas. Três altos funcionários responsáveis pela produção teriam pago o preço. Já neste verão, de fato, essas medalhas pareciam muito “delicadas”, com evidentes problemas de qualidade nos vernizes, tanto que foram devolvidas ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos (Cojop) de Paris 2024.

Espaço Publicitáriocnseg

Em 2 de agosto de 2024, o skatista americano Nyjah Huston postou sua medalha de bronze, em péssimas condições, nas redes sociais apenas dez dias após ganhá-la, publicando uma mensagem significativa: “Essas medalhas parecem ótimas quando são novas. Depois de carregá-las por aí e suar um pouco ou deixar meus amigos usarem-nas, descobri que elas não são de tão boa qualidade quanto se possa pensar.”

No final do ano passado, porém, os vencedores dos 4x100m mistos, Yohann Ndoye Brouard e Clément Secchi, também publicaram no X e no Instagram fotos das suas medalhas de bronze bastante danificadas, descritas, por este último, como “pele de crocodilo”, pois revelavam rachaduras semelhantes a escamas. Já em agosto, conforme relatado pelo jornal francês, o CEO da Monnaie de Paris, Marc Schwartz, teve que convocar urgentemente seus gerentes para uma reunião de crise.

De fato, a Casa da Moeda de Paris vem enfrentando problemas com vernizes pelo menos 15 meses antes do início das Olimpíadas, problemas que surgiram com a gigante das telecomunicações chinesa Huawei. O que teria acontecido? A firma chinesa assinou um contrato com a Monnaie de Paris para a entrega de medalhas por meio das quais recompensaria os funcionários mais merecedores. Mas, em outubro de 2023, os funcionários premiados notaram o aparecimento de rachaduras nas medalhas que receberam, e a empresa devolveu um lote de mais de 12 mil medalhas com defeito. Este fato causou consternação no mercado internacional ao ver uma instituição milenar, personificação da qualidade do Made in France, encontrar-se em dificuldades com seu poderoso cliente asiático por causa da má qualidade.

A principal causa da má qualidade desses vernizes estaria ligada a uma mudança regulatória por parte da gestão do exercício público. A última atualização da diretiva europeia Reach, de fato, prevê a proibição de um componente tóxico dos vernizes, o trióxido de cromo, que teve que ser substituído em curto prazo. Devido à falta de tempo e perspectivas para testes, foram as medalhas da Huawei e, depois, as dos Jogos Olímpicos que sofreram o impacto dos novos produtos utilizados.

Enquanto o Comitê Olímpico Internacional (COI) espera que a Casa da Moeda de Paris volte a produzir medalhas de forma confiável, o COI explicou ao jornal LaLettre que todas as medalhas defeituosas serão substituídas “nas próximas semanas”.

Enquanto isso, a direção da Monnaie de Paris não quis se pronunciar sobre esses defeitos evidentes, explicando, por meio de um advogado, que aplica “o sigilo comercial e a devida confidencialidade” em relação aos seus clientes e ameaçando o jornal com um processo por difamação.

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui