Olimpíadas e desinformação

Dados mostram que russos difamam as Olimpíadas de Paris 2024 com desinformação, ciberameaças e operações de influência. Por Edoardo Pacelli.

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Olimpiadas. Imagem de Gerhard G. por Pixabay

Faltam seis semanas para o início das Olimpíadas de Paris 2024, nas quais atletas russos e bielorrussos só poderão participar, conforme decisão do Comitê Olímpico Internacional após a invasão russa da Ucrânia, como “atletas neutros autorizados”, sem as cores da própria nação. Num recente relatório sobre ameaças cibernéticas aos Jogos Olímpicos de Paris, a Microsoft declarou que os russos estão tentando “menosprezar, difamar e degradar a competição internacional nas mentes dos participantes, dos espectadores e do público global”.

De fato, segundo o Threat Analysis Center (Centro de Análise de Ameaças) do gigante norte-americano, há um ano que alguns atores russos, identificados como Storm-1679 e Storm-1099, se concentram nos Jogos Olímpicos de Paris e no presidente francês Emmanuel Macron. “Estas operações de influência russa em curso têm dois objetivos fundamentais: denegrir a reputação do Comitê Olímpico Internacional no cenário mundial e criar a ideia de que a violência poderia explodir em Paris” durante a competição.

Objetivos antigos, os mesmos da antiga União Soviética, mas com novas ferramentas. Basta pensar no site e no vídeo “Olympics Has Fallen” (O Olimpo caiu), criado por Storm-1679: o vídeo era para ser um documentário da Netflix, completo com “tu-dum” (evento presencial feito para fãs das produções da Netflix) no início, narrado pela voz do ator Tom Cruise e alimentado online pela difusão nas redes sociais e pelas críticas falsas de importantes jornais norte-americanos como o New York Times e o Washington Post. A voz é um produto da inteligência artificial.

A operação “indica claramente que os criadores do conteúdo gastaram muito tempo no projeto e demonstra maior habilidade do que a maioria das campanhas de influência observadas”, como afirmam os analistas da Microsoft. O mesmo grupo criou artigos falsos da France24 sobre alegados ataques durante os jogos e partilhou uma mensagem falsa da CIA e da DGSI (Direction Générale de la Sécurité Intérieure) aconselhando evitar comparecer aos Jogos Olímpicos, devido a um presumido ataque terrorista.

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O Google Cloud, por meio da Mandiant (uma empresa americana de segurança cibernética e subsidiária do Google; em 2013, divulgou um relatório que implicava diretamente a China na inteligência cibernética), relatava que os Jogos estariam sujeitos a “um risco elevado de ameaças cibernéticas, incluindo espionagem cibernética, operações disruptivas e destrutivas, atividades com motivação financeira, hacktivismo e operações cibernéticas”.

A avaliação do Google é de alta confiabilidade. As ameaças poderiam realisticamente afetar múltiplos alvos, incluindo organizadores e patrocinadores de eventos, sistemas de bilheteira, infraestruturas de Paris e atletas e espectadores que viajam para o evento.

Com “alta confiabilidade”, a Mandiant afirma que os grupos russos representam “o risco mais importante para as Olimpíadas”. Atores ligados à China, ao Irã e à Coreia do Norte representam “risco moderado ou baixo”.

Quanto às operações de informação da República Popular da China, a unidade Google Cloud prevê que “provavelmente aproveitarão narrativas com temática olímpica para promover ideologias pró-República Popular da China e antiocidentais”. Para fazer isso, os ciberatores “provavelmente usarão o escândalo de doping” envolvendo a equipe de natação chinesa para “destacar preconceitos anti-República Popular da China ou pró-Ocidente”.

O Insikt Group, a divisão de investigação de ameaças da Recorded Future (empresa norte-americana privada de segurança cibernética fundada em 2009), dividiu os riscos em três categorias: ameaças à segurança física (terrorismo, extremismo violento, agitação civil e protestos), que “representam o maior risco de danos e perturbações”; a atenção de hacktivistas e do crime cibernético, que “extorquirão pagamentos via ransomware e criarão golpes com tema olímpico”; e espionagem cibernética e operações de influência para reunir informações sobre alvos e amplificar narrativas críticas à França, à OTAN e a Israel.

Em particular, os Jogos Olímpicos de Paris “provavelmente atrairão” a atenção de coletivos hacktivistas, como grupos ligados à Rússia, ao Irã e à Palestina, “após o apoio da França à Ucrânia e a Israel”.

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus

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