Conversamos sobre o Open X com Juan Pérez Ferrés, CEO da Teros.
Existe relação do Open X com o Open Finance?
O Open Finance é um clube fechado de acesso à informações e serviços financeiros. Se você faz parte dele, você consegue acessar um serviço, um cadastro ou dados entre as instituições financeiras participantes. Para isso, existe todo um padrão tecnológico regulamentado, o que faz do Open Finance a primeira infraestrutura financeira de ponta a ponta do país.
Para que o Open Finance funcione, existe um sistema de tokenização, que é direcionado para onde se quer fazer um pedido. O token chega no banco, é autenticado e devolve a transação concluída. Essa tecnologia tem uma particularidade, pois ela é igual em 64 países que estão adotando o mesmo padrão com variações mínimas.
Por mais que o Open Finance seja um clube fechado, a sua tecnologia é como qualquer outra, podendo ser usada como se quiser. No caso do Open X, ele é um monte de padrões privados. Por exemplo, o Google, a Meta, a Microsoft e o Chat GPT, cada um tem o seu padrão. Assim, cada empresa tem os seus serviços privados no formato de APIs e de jornadas digitais no seu padrão.
O Open X é o empacotamento desses milhões de serviços, cada um com o seu padrão próprio, dentro dessa lógica de tokenização única. Com ele, cria-se uma infraestrutura, com apenas uma lógica, onde se pode chamar uma transação de Open Finance, receber o token e chamar um dado do Google Maps para se saber onde uma entrega será feita. Tudo isso debaixo da mesma cápsula.
A vantagem disso é que as empresas podem criar diversas jornadas. Por exemplo, no caso do Google Meets, nós poderíamos ter um botão no vídeo para pedirmos um refrigerante que seria entregue durante uma videoconferência. Nesse caso, seria necessário uma API com o Google Meets e uma API com uma rede de fornecedores. Uma vez que o pagamento, feito através de uma API de Open Finance, fosse confirmado, o sistema iria ao Google para ver o endereço, encontrar o estabelecimento mais próximo e solicitar a entrega. Repare que nós passamos por vários serviços nessa jornada.
Esse padrão já existe privadamente, tanto que o Uber faz exatamente isso. Você pede um Uber, ele pega a sua localização e faz o pagamento. Só que isso foi feito no seu padrão. Quando você coloca isso no Open, não é preciso contratar uma empresa de pagamentos para fazer isso, pois é só se integrar no Open Finance para que o pagamento seja feito. Não é preciso criar um padrão de integração com um fornecedor, pois é só pegar a API do fornecedor e empacotá-la no mesmo padrão de tecnologia do Open. No final do dia, eu estou criando um grande sistema onde todo mundo está contectado com todo mundo, só que com um padrão tecnológico.
Qual a vantagem do Open X?
Como cada um tem o seu padrão e o seu sistema, se eu quero me integrar com o Google, eu tenho que criar uma integração com ele, ou eu posso colocar o padrão dele dentro do Open X. Independente do padrão que a empresa tenha, eu simplesmente uso o padrão do Open X.
O Open Finance é uma tecnologia que me permite conectar a qualquer que seja o padrão na ponta, só que se ele serve para bancos, ele também serve para qualquer coisa. Dessa forma, ao invés de pedir para o Google aderir ao Open X, é mais fácil encapsular o padrão do Google dentro do Open Finance, sem que seja necessário fazer uma adaptação no sistema.
Essa é a grande vantagem, pois não é preciso, a cada transação, ficar criando uma integração própria. Se cada um tiver o seu padrão, o custo de manutenção de cada conexão, toda vez em que for criada uma integração para um padrão próprio, vai ficar cada vez mais cara. Sempre que alguém mudar uma vírgula em um código, você vai ter que mexer no seu sistema.
Para que se crie um mundo onde todo mundo se integre com todo mundo, ao invés de se criar um padrão e um hub de conexões, usa-se uma plataforma aberta a partir da qual se cria as suas conexões, pois na hora em que uma empresa tiver 400, 500, 600 conexões, é inviável dar manutenção em cada uma delas de forma individual. No Open X, quando uma empresa atualiza o seu padrão, ela atualiza todo mundo.
O Open X já existe?
O Open X é um termo que se criou privadamente, pois ele não existe em termos regulatórios. Existe o Open Finance e o Open Gov, sendo que o mundo privado seria o Open X.
A regulação que o Open X precisava foi criada pelo Open Gov, Open Finance e Open APIs. Esses três padrões de conexões abertas foram criados pelo governo, sendo que o Open X não é nada mais que a junção dos três. Como eles são padrões abertos, todo mundo pode usá-los. Eu simplesmente vou lá e me conecto.
Por exemplo, boa parte do sistema operacional do Iphone é fechado, ou seja, eu não consigo acessar as APIs da Apple para conectar um serviço. O que vai acontecer no longo prazo é um processo em que os governos vão obrigar os players a abrirem determinados serviços, integrando sistemas das suas APIs. Mas isso é um pedacinho do tamanho do Open X.
O grande ponto é que, como já existe a tendência natural de todo mundo tentar digitalizar os seus negócios, o próprio mercado está criando o Open X, que nada mais é que a tendência de se criar soluções que o mercado use com os padrões abertos que foram criados pelo Open Finance, Open Gov e Open APIs.
O Open X já está sendo explorado?
A Teros é justamente uma plataforma de automação, baseada nesse padrão aberto, para que as empresas possam criar suas jornadas de forma fácil.
Se você olhar os padrões de inovação, historicamente grande parte deles saem do mercado financeiro e da indústria de defesa. O que estamos conversando está vindo do mercado financeiro e do próprio Estado no padrão Open Gov.
Com relação à indústria de defesa, outro dia eu soube que os caças Gripen só foram comprados pelo Brasil porque usam um padrão de APIs abertas para manutenção. Há alguns anos, o próprio governo americano soltou que qualquer desenvolvimento de armas só será discutido se for usado um padrão aberto de integrações. É curioso como dois mundos completamente diferentes estão adotando, ao mesmo tempo, o mesmo padrão.
Como você está vendo as perspectivas do Open X?
O governo obrigou as empresas a se integrarem com o estado, tanto que além de emitir uma nota fiscal eletrônica, uma empresa tem que emitir um conhecimento de embarque eletrônico. As empresas também estão fazendo isso, tanto que se uma empresa quiser vender no marketplace de um grande varejista, ela tem que usar as suas APIs. Da mesma forma, se ela quiser utilizar um banco digital, ela terá que usar as suas APIs.
Como as empresas já estão sendo bombardeadas por necessidades de integração, e esse é um caminho inexorável, é preciso ter uma plataforma que faça a gestão de todas essas conexões.
Hoje, como cada um constrói a sua conexão, as empresas vão criando Frankensteins dentro de casa. Enquanto eram 5 ou 6, se fazia Frankensteinzinhos, só que agora estão falando de 400, 500, 600 conexões. Vai haver uma hora em que as empresas vão ter que parar, pois vão precisar de uma forma de automação que permita integrar tudo isso. E não adianta integrar o Open X sem integrar o Open Finance, pois é preciso que a transação que faz o dinheiro chegar na ponta seja paga. Como esses serviços são mais eficientes, baratos e rápidos, eles já estão sendo demandados.
Há quase dois anos, a Apple comprou uma empresa de Open Finance na Inglaterra. Por que a Apple iria comprar uma empresa de Open Finance? Certamente, não foi por causa do faturamento, pois se pegarmos todo o Open Finance inglês, ele não dá 0,1% do faturamento global da Apple. Também não foi por causa do tamanho da empresa, pois essa foi uma compra de US$ 100 milhões. A Apple comprou porque percebeu que precisa estar integrada num padrão aberto, pois não adianta estar só no seu sistema, pois nem ela consegue operar no sistema fechado. Temos também o caso do Google, que , recentemente, entrou no Open Finance brasileiro.