Conversamos sobre operações estruturadas com Júlio Chartone, analista CNPI-T, head de análise técnica da MSX Invest e consultor para renda variável e análise técnica.
O que são operações estruturadas?
Uma operação estruturada é a combinação de, pelo menos, dois ativos financeiros, sendo que um deles, necessariamente, tem que ser um derivativo de uma ação mãe, podendo ser uma opção tipo call ou tipo put. Com isso, eu posso combinar duas opções ou uma opção e uma ação. Por exemplo, se eu compro uma opção tipo call e uma opção tipo put, eu tenho uma estrutura chamada trava. Se eu tenho uma ação e vendo uma opção tipo call ou tipo put, eu tenho uma estrutura chamada lançamento coberto. Um ponto importante é que não existe uma estrutura com ativos diferentes, pois eu sempre tenho que utilizar os derivativos da mesma ação.
Qual o perfil de investidor que opera, de forma consciente, operações estruturadas?
A maioria das pessoas vai dizer que esse tipo de operação é para um perfil agressivo, arrojado, mas as operações estruturadas servem como hedge ou proteção de carteira. Por exemplo, quando um investidor faz um lançamento coberto, onde ele tem o ativo e vende uma call, ele está protegendo a sua carteira, mas se ele faz uma trava, vendendo uma call e comprando outra call, ele está limitando o seu ganho, mas também possíveis perdas. Dessa forma, eu não considero que o investidor desse tipo de operação seja tão agressivo, mas sim um investidor que procura ter uma maior segurança na sua carteira, já que ele vai usar o sistema das opções para protegê-la. Por outro lado, existe o investidor mais agressivo, mais arrojado, que gosta de especular com opções.
É por isso que eu digo que isso depende do objetivo de trade de investidor. Por exemplo, por mais que eu seja uma pessoa voltada para o trade, eu gosto muito das travas e de proteção de carteira, mas eu também faço recomendações para investidores que possuem perfis mais agressivos e que gostam de movimentos especulativos.
Quais são os tipos de operação que você mais aprecia?
Eu aprecio muito as operações a seco e as travas. Uma operação a seco é a compra de uma opção na expectativa de que ela se valorize, pois a valorização de uma opção é muito maior que a valorização da sua ação mãe. Por exemplo, se a opção está em um preço interessante, e o ativo, pela análise técnica, está na eminência de ter um forte movimento altista, como 2%, 3%, isso vai representar 50%, 60% de ganho na opção. Eu gosto muito desse tipo de operação, pois o seu risco é o valor do prêmio que foi pago pela aquisição da opção, o que faz com que ele seja mais conservador.
Eu também gosto muito da trava de alta e da trava de baixa. Nessas operações, eu limito as perdas, mas também limito os ganhos. É como se fosse um seguro, pois para limitar o poder de perda, eu tenho que limitar o poder de ganho.
Quais são os cuidados que se deve ter para se operar com operações estruturadas?
É preciso sempre olhar o risco. Existe uma frase que é muito usada no mercado, principalmente, para as pessoas que gostam de operar no day trade, derivativos ou operações especulativas: opção é cemitério de malandro. Isso porque, como a pessoa acha que o valor do prêmio da opção é muito baixinho, ela pode sair comprando, mas existe risco. Por exemplo, quando eu compro uma opção, o seu risco é que ela não tenha viabilidade no seu vencimento e acabe virando pó. Por outro lado, quando eu vendo uma opção, o risco é ter que acatar o exercício do comprador da opção, pois se quem compra tem o direito de exercê-la, quem vende tem a obrigação de acatar o pedido de quem comprou, caso exista a viabilidade financeira. Dessa forma, o investidor nunca deve vender uma opção do tipo call se ele não tiver o ativo para cobrir e proteger a operação. Se isso acontecer, o risco pode ser ilimitado.
É por isso que é tão importante sempre colocar atenção nos riscos, principalmente nas pontas vendidas.
Como você administra os vencimentos das opções?
Até pouco tempo, nós tínhamos apenas as opções mensais, mas foram implementadas as opções semanais. Como, particularmente, eu não fico à vontade para olhar as opções semanais, pois elas são um novo produto, eu olho apenas as opções mensais.
Para decidir se eu vou operar com uma opção com vencimento mais curto ou mais longo, eu olho para o objetivo do trade. Se eu quero fazer uma estrutura para o longo prazo, eu vou montar uma trava para, por exemplo, seis meses. Com isso, provavelmente, os preços das opções estarão bem atrativos. Mas se eu quero ter uma operação de giro mais rápido, eu vou buscar opções mais próximas do vencimento.
Atualmente, eu recomendo aos clientes operações a seco, que, como disse, não são estruturas, para até dois dias antes do vencimento. Para as travas, eu recomendo que se faça para até uma semana antes do vencimento, mas isso também pode ser esticado para dois, três meses. Com relação aos lançamentos cobertos, por enquanto, eu recomendo que se faça tudo dentro do vencimento. Cabe ressaltar que tudo depende do objetivo do cliente.
Como você avalia se uma opção está cara ou barata?
Tem a opção que está dentro do dinheiro, no dinheiro ou fora do dinheiro. Todas as opções que estão dentro do dinheiro, tendem a estar mais caras. As opções que estão no dinheiro tendem a ter um resultado mais eficiente em função do risco e do capital que está sendo colocado. Por fim, as opções fora do dinheiro tendem a ser mais baratas. Quando uma opção está dentro do dinheiro, existe a viabilidade de exercer o seu direito, mas quando ela está fora, ainda não existe essa viabilidade. Dessa forma, as opções mais baratas são as que estão fora do dinheiro, só que essas opções não têm uma força de movimentação muito explosiva.
Por exemplo, uma vez eu tive uma conversa com uma cliente que havia comprado uma opção por R$ 0,08, sendo que o ativo havia se valorizado, mas a opção não havia saído do lugar. Quando eu analisei o caso, eu vi que a ação estava em R$ 40, mas o strike da opção era R$ 55, ou seja, ela estava muito fora do dinheiro. Assim, por mais que a opção fosse baratinha, como ela estava muito fora, não existia possibilidade, naquele período, de o ativo se valorizar até o seu strike no curto prazo. Com isso, a opção fica naquele preço.
Isso tem muito a ver com o delta da opção, que é uma das gregas que olhamos. Se uma opção está dentro do dinheiro, o seu delta é mais alto, mas se ela está fora do dinheiro, o seu delta é mais baixo. O delta, de forma resumida, é, em média, quanto a opção tende a se valorizar ou desvalorizar para cada R$ 1 de valorização ou desvalorização do ativo. Por exemplo, se uma opção tem um delta de 0,5, 0,6, que é um dos que eu mais gosto de utilizar, se o ativo se valoriza R$ 1, ela tende a se valorizar R$ 0,50, R$ 0,60. Se eu compro uma opção a R$ 0,20 e ela vai a R$ 0,50, só nesse período eu tive mais de 100% de resultado.
Quais são as dicas que você pode passar para uma pessoa que está querendo começar a operar com opções?
Existe muita literatura e vídeos educacionais na internet sobre opções. Outra dica é não colocar um valor que possa te prejudicar financeiramente caso ocorram perdas. A pessoa deve sempre colocar um capital pequeno para sentir a movimentação. No que a pessoa for adquirindo experiência e ficando mais à vontade, ela começa a aumentar as movimentações, de preferência com o próprio resultado que ela teve no mercado.
Na renda variável, a pessoa nunca deve colocar o dinheiro da reserva da família ou que esteja comprometido para outro investimento. Além disso, ela sempre deve colocar atenção no risco, principalmente se for iniciante.
Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?
Eu procurei não ser muito técnico justamente para que uma pessoa possa ler a entrevista, pesquisar e ter um norte para começar a operar com opções. Se fôssemos avançar, nós entraríamos em temas muito técnicos. Em outro momento, nós podemos conversar sobre o motivo pelo qual se compra uma call ou uma put ou o que acontece quando se vende uma call ou uma put, ou seja, assuntos mais técnicos das operações estruturadas.