Operando o mercado

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A esquizofrenia que comanda a lógica do mercado financeiro produz eventos trágico-cômicos. Menos de 24 horas após a Standard & Poor”s (S&P)rebaixar a classificação de risco dos Estados Unidos, a procura por papéis do Tesouro estadunidense cresceu, reduzindo o rendimento pago pelos títulos nos mercados secundários. A tendência mantém-se ao longo da semana. Já a manutenção do triplo “AAA” para a França pelas três integrantes do cartel das agências do setor não impediu que o prêmio cobrado pelo investidores para aplicarem em papéis do país triplicasse em relação aos títulos equivalentes da Alemanha. A diferença saltou de 0,3 ponto para 0,9 ponto. Afinal, agências de rating servem para quê?

Operando o mercado II
Se até o próprio mercado financeiro deixa de tratar como dogmas as notas do cartel das agências – S&P, Moody” e Fitch – estas, porém, continuam servindo de instrumento para operar os mercados, principalmente, os de divisas e ações. Os oráculos que decodificaram os sinais emitidos nos dias anteriores ao derretimento dos papéis nas bolsas mundiais e venderam ações, para comprarem a seguir, com cotações no fundo do poço, para voltarem a vendê-las novamente, embolsaram lucros suficientemente gordos para manter sua fé nos fundamentos do mercado.

Lastro para a fuga
Quem celebra o fato de o Brasil ter atingido a marca de US$ 350 bilhões em suas reservas internacionais confunde lastro com segurança. É o equivalente a um cidadão que seja assaltado e esteja de posse de um cartão com crédito elevado no banco. Além disso, como os ativos financeiros líquidos (tradable) em mãos de estrangeiros e brasileiros travestidos de estrangeiros somam cerca de US$ 1 trilhão, as reservas virarem pó depende mais do ritmo da fuga do que do seu valor.

Custa caro
Além de servir de lastro e incentivo para uma fuga massiva de capitais do país, a manutenção de reservas elevadas tem custo elevado para o Brasil, de cerca de R$ 60 bilhões/ano. O número é a diferença entre os módicos valores, de cerca de 2% ao ano, que o país obtém com a aplicação de suas reservas no exterior, e os inacreditáveis 12,5% ao ano que paga aos bancos estadunidenses responsáveis pela administração das nossas reservas que as investem em títulos públicos tupiniquins.

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Bola quadrada
Detentora exclusiva de transmissão dos jogos do futebol brasileiro, as Organizações Globo deram, quarta-feira, mais uma demonstração para dirigentes do Clube dos 13 que participaram do processo de implosão da concorrência no setor dos riscos embutidos nessa situação. Na primeira rodada da Copa Sul-Americana, além de optar por transmitir, na TV aberta, para o Rio um jogo da praça – Flamengo x Atlético-PR, o primeiro poupando Ronaldinho Gaúcho e Tiago Neves, o segundo, com um time de reservas – em detrimento do time do estado que jogava fora, Botafogo, que enfrentava o Atlético-MG, a Globo baniu a partida da equipe da estrela solitária da sua rede da TV a cabo, incluindo o pay per view, confinando-a ao canal Speed, especializado em automobilismo.

Tapetão
Como isso ocorreu apenas três dias após o Botafogo golear o Vasco por 4 x 0, a decisão da Globo, que não explicitou suas razões, não se deveu a questões de audiência. A opção – que causou fortes críticas nas redes sociais –  serve de mais um alerta para cartolas que, ainda, não alcançaram a visão monopolista que a emissora aplica também ao futebol, quase sempre restrito a três ou quatro times do eixo Rio-São Paulo, apesar da rica diversidade das grandes torcidas do futebol brasileiro. Na Espanha, onde apenas dois clubes – Barcelona e Real Madri – concentram o grosso da verba da TV, a competitividade esportiva ficou restrita aos dois times, tradicionalmente já mais fortes, o que não é o caso brasileiro.

O preço da omissão
Ao buscar diferenciar sua atuação de Anthony Garotinho no episódio do ônibus 174, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), alegou que, enquanto o primeiro “deu palpites”, ele optou por transferir a decisão para especialistas. Com os especialistas no comando, a PM baleou cinco pessoas – uma das quais em estado grave. No 174, uma passageira foi morta, após o sequestrador deixar um ônibus e um PM se candidatar a Rambo.

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