Os 10 mandamentos do bom investidor

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Bolsa da China. Foto: divulgação
Bolsa da China. Foto: divulgação

Antes de começar a investir, as pessoas devem fazer uma espécie de autoanálise. É preciso elaborar questões básicas como objetivo, horizonte, tolerância a perdas, capacidade de poupança ou investimento no longo prazo. Além disso, é importante analisar questões como reservas financeiras, previdência complementar e também ter conhecimento das diferentes alternativas de investimentos e os riscos associados.

Ainda é muito importante tentar estabelecer a necessidade de uma renda após a aposentaria e como será obtida – se por meio de aposentadoria via previdência social, FGTS, previdência complementar e investimentos em carteira própria (incluindo ações, fundos de investimentos, imóveis para renda, poupança etc.).

O ideal é escrever esses pontos e todo ano revisá-los, avaliando os investimentos e se eles fazem sentido. Os mandamentos não estão em ordem de importância – diferentes pessoas têm diferentes necessidades, perfis de risco, renda, patrimônio acumulado etc. Quis apenas traçar um guia, que espero que seja útil para estabelecer uma carteira de investimentos para atingir os objetivos.

Paciência: não espere retornos rápidos. Reavalie frequentemente por que investiu e se esses motivos ainda estão presentes. Muitas vezes nos desfazemos de investimentos muito rapidamente e depois nos arrependemos por não respeitarmos o prazo que estabelecemos inicialmente. Para ações ou fundos de ações, recomendamos um prazo de pelo menos três anos.

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Conhecimento: Warren Buffet sempre diz que devemos investir em nosso círculo de competência. Portanto, evite investir no que não conhece, como imóveis, criptomoedas, “negócio fantástico” ou qualquer ativo simplesmente porque está “rendendo bem” e os amigos supostamente estão ganhando. O mesmo vale para ações: não compre ações de empresas ou setores que não conhece bem só porque estão subindo e “todo mundo” está recomendando.

Disciplina: reavalie com frequência por que investiu, se ainda faz sentido, se o prazo determinado ainda está dentro do objetivo inicial. Se possui recursos disponíveis, invista continuamente em vez de desperdiçar trocando de carro todo ano ou gastando sem necessidade apenas porque tem “dinheiro sobrando”. Em investimentos, temos de ser como monges budistas ou iogues indianos. “A disciplina é a mãe do êxito”, disse o dramaturgo grego Ésquilo.

Ler e estudar: aprenda todo dia. Amanhã saberemos mais do que hoje. Pesquise e conheça em que vai investir. Um professor de Matemática da faculdade (que me reprovou, inclusive) dizia que ninguém consegue comer um boi num dia só, mas podemos comer um bife todo dia. Portanto, não adianta estudar apenas na véspera da prova. O mesmo serve para investimentos. Estude, estude, estude. Se a disciplina é o caminho, o estudo é o modo de trilhá-lo. Devagar se chega longe – mas isso se não pararmos de caminhar. Este mandamento está associado a Conhecimento e Disciplina, e todos se reforçam mutuamente.

Evitar a teimosia: não confunda teimosia com paciência. Quando erramos numa decisão de investimento, insistir em comprar mais porque ficou mais barato pode resultar em ainda mais perdas e impede que recuperemos essas perdas por meio de outros investimentos. A esperança de que surja um fato novo não corrige nossos erros e apenas protela ações corretivas.

Não apostar: apostas são um divertimento que nada tem a ver com investimentos. Corridas de cavalos, cassinos e até pôquer a dinheiro podem ser boas diversões, mas coloque na conta o lucro do estabelecimento e os impostos, e o prejuízo é quase certo para a maior parte dos jogadores. Investimentos que dependem de fatores fora de controle, eventos extraordinários, inside information (que é crime), tudo isso são apostas, e a probabilidade de sucesso é baixa. Evite este tipo de atitude. Melhor se divertir em Las Vegas ou Punta del Leste.

Distinguir preço de valor: se você não consegue calcular ou estimar o valor de determinado investimento, esqueça. Você compraria um automóvel ou uma casa baseado apenas no preço do anúncio? Antes da compra você terá, por óbvio, pesquisado e analisado outras ofertas. Investir em ações é o mesmo. O mercado anuncia a cada segundo quanto a média dos investidores lhe oferece para que você compre. O investidor ou comprador determina o valor justo. Quanto maior este for em relação ao que o vendedor lhe oferece, mais atraente é o investimento.

Não diversificar excessivamente: o excesso de diversificação, na realidade, representa falta de confiança ou desconhecimento. Uma carteira de sete a 15 ações, a depender do tamanho do capital investido ou horizonte de investimento, está adequada. Obviamente a diversificação depende da tolerância ou do perfil de risco do investidor. Investimentos em renda fixa têm como objetivo preservar o capital, renda variável visa ao crescimento do capital no longo prazo. Investimentos em outros ativos (moedas ou ouro, por exemplo) podem servir como diversificação, mas também podem trazer perdas substanciais, especialmente se o investimento ocorrer durante crises: na normalização dos mercados, os preços também caem.

Não acreditar na racionalidade do mercado: como observamos neste momento, o mercado age em bloco (como verdadeira manada), independentemente de os investidores serem principiantes ou gestores experientes e sofisticados. Como em todas as crises passadas, os preços dos diversos ativos sofrem enormes flutuações, e após a normalização podem voltar à condição anterior, em alguns casos superando a situação prévia com grande margem. Ninguém consegue prever o futuro nem adivinhar os pontos máximo e mínimo das ações ou ativos financeiros. Se não precisar dos recursos, evite negociar em momentos de grande stress. A perda será quase certa.

Investir em empresas sólidas e que pagam bons dividendos: comprar e vender ações apenas de olho no ganho de capital não passa de aposta, esperança de que alguém vá pagar mais caro por algo que você está comprando hoje. Investimentos em ações devem objetivar renda, e esta depende de dividendos, e ganho de capital, mas este depende do mercado e não da empresa investida. Empresas bem geridas, com práticas socioambientais e de governança adequadas, bons negócios ou atuação em nicho com barreiras à entrada de competidores, estão fadadas a se valorizar no longo prazo e principalmente, proporcionar renda consistente. Dividendos permitem o desfrute desta renda ou novos investimentos na empresa. Surge aí um círculo virtuoso.

Com este décimo mandamento, resumo muito do que acredito, do que aprendi, pratiquei, errei e continuo a praticar, tendo os maravilhosos mestres aqui citados, e outros mais, como referência. Dividendos são como frutos de uma árvore que alguém semeou, cuidou e deixou para a posteridade, para que nossos herdeiros ou sucessores se alimentem e plantem tantas outras.

Para finalizar: investir é como um pêndulo. Oscila entre a ciência e a arte, e o acaso e o inesperado se intrometem de tempos em tempos. Para alguns, tais eventos são azar ou crises; para outros, sorte ou oportunidades. Por isso, cabe a investidores e gestores decidirem como agir nesses momentos: lamentar ou seguir rumo a um futuro melhor que há de vir.

Esperamos ter despertado a curiosidade e a vontade de aprender um pouco mais neste misterioso e fascinante mundo dos investimentos. Benjamim Franklin disse sabiamente: “Os investimentos em conhecimento geram os melhores dividendos.”

Werner Roger é sócio e CIO da Trígono Capital.

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