Os atentados e assassinatos de presidentes tão frequentes nos EUA…

Atentados contra presidentes nos EUA, o poder da plutocracia e a influência dos cartéis sobre a política global

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Donald Trump após ataque de atirador
Donald Trump após ataque de atirador (reprodução TV, Xinhua)

E os povos humilhados, pela noite, para vingança, aguçam os punhais

Cesário Verde, “Deslumbramentos”, 1875

O poder estadunidense

Antes que entrasse em vigor, em 4/3/1789, a Constituição dos Estados Unidos da América (EUA), o poder plutocrático já estava senhor da Nação estadunidense.

Leia-se do delegado do estado da Pensilvânia à Convenção Constitucional, Benjamin Franklin, em pronunciamento de 17 de setembro de 1787: “Quanto mais velho fico, mais apto a duvidar de meu próprio julgamento e a respeitar melhor o de outrem.” Muito cinismo, com que a plutocracia sempre conduziu a “terra da liberdade e da democracia” (!).

Porém Franklin não esgotara seu senso de humor: “Quando se reúne um certo número de homens para dispor da vantagem de sua sabedoria conjunta, inevitavelmente estão se reunindo com esses homens todos os seus preconceitos, suas paixões, seus erros de opinião, seus interesses locais e suas visões egoístas.” Faltou somente dizer o óbvio: que esses homens eram todos brancos, do sexo masculino, de boa reputação entre os pares, de posses (donos de escravos, de terras, de plantações, de negócios, banqueiros, armadores, advogados, magistrados) e participantes do poder.

A plutocracia, que na contemporaneidade se uniu aos grandes e também ricos executivos, os CEO (Chief Executive Officer), aplaudiu Donald John Trump, 47º Presidente dos EUA, no Salão da Casa Branca, quando afirmou que, com ele, voltava ao País o “espírito animal” do capitalismo.

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Porém passaram a ficar desconfiados quando a guerra das tarifas trouxe a perspectiva do odiado protecionismo nos mercados estrangeiros, a desestabilização dos mercados, que eles controlavam, e dois indesejáveis efeitos: a recessão e a inflação.

Acendeu a luz vermelha do perigo de vida, como a plutocracia trata aqueles que não seguem o “caminho da prosperidade”. É uma tradição.


Os atentados a presidentes e eventuais mandatários nos EUA

a) 30 de janeiro de 1835: Andrew Jackson, presidente dos Estados Unidos da América (EUA).

b) 23 de fevereiro de 1861: Abraham Lincoln, presidente dos EUA.

c) 13 de outubro de 1912: Theodore Roosevelt, presidente dos EUA.

d) 15 de fevereiro de 1933: Franklin Delano Roosevelt, presidente dos EUA.

e) 1º de novembro de 1950: Harry Truman, presidente dos EUA.

f) 11 de dezembro de 1960 (primeira tentativa) e 2 de abril de 1961 (segunda tentativa): John Fitzgerald Kennedy, presidente dos EUA.

g) 14 de abril de 1972 (primeira tentativa) e 22 de fevereiro de 1974 (segunda tentativa): Richard Milhous Nixon, presidente dos EUA.

h) 15 de maio de 1972: George Wallace, governador do Alabama (EUA).

i) 5 de setembro de 1975 (primeira tentativa) e 22 de setembro de 1975 (segunda tentativa): Gerald Rudolph Ford Jr, presidente dos EUA.

j) 5 de maio de 1979: Jimmy Carter, presidente dos EUA.

k) 30 de março de 1981: Ronald Reagan, presidente dos EUA.

l) 13 de abril de 1993: George Herbert Walker Bush, presidente dos EUA. 

m) 12 de setembro de 1994 (primeira tentativa) e 29 de outubro de 1994 (segunda tentativa): Bill Clinton, presidente dos EUA.

n) 7 de fevereiro de 2001 (primeira tentativa), 11 de setembro de 2001 (segunda tentativa) 10 de maio de 2005 (terceira tentativa): George Walker Bush, presidente dos EUA.

o) 27 de fevereiro de 2007: Dick Cheney, vice-presidente dos EUA.

p) abril e junho de 2013: Barack Obama, tentativa de envenenamentos do presidente dos EUA.

q) 13 de julho e 15 de setembro de 2024: Donald Trump, candidato a presidente dos EUA.


Os atentados com sucesso somente entre presidentes

Abraham Lincoln, em 15 de abril de 1865.

James Abram Garfield, em 19 de setembro de 1881.

William McKinley, em 14 de setembro de 1901.

John Fitzgerald Kennedy, 22 de novembro de 1963.

23% de êxito, somente para presidentes.


Conhecendo parte da plutocracia atual

O Monitor Mercantil, em 1/4/2025, sob o título “Trump dobra sua fortuna, de acordo com lista de bilionários da Forbes”, comenta a lista da revista Forbes e aponta o homem mais rico, Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX e dono da X/Twitter, com US$ 342 bilhões. Seguem: Mark Zuckerberg (Meta), com US$ 216 bilhões; Jeff Bezos (Amazon), com US$ 215 bilhões; Larry Ellison (Oracle), com US$ 192 bilhões e, em quinto, um não americano, Bernard Arnault (LVMH), com US$ 178 bilhões.

Encerram os dez mais ricos: Warren Buffett (Berkshire Hathaway), Larry Page e Sergey Brin (Google), Amancio Ortega (Zara) e Steve Ballmer (Microsoft). Na chamada da primeira página, o Monitor Mercantil sumariza aonde nos levou o neoliberalismo financeiro: “Concentração: 15 bilionários têm tanto quanto 50% menos ricos”. E se refere à lista da Forbes de 2025 como a primeira a ultrapassar o limite de 3 mil membros a acumular pelo menos 1 bilhão de dólares estadunidenses. Já não se designam milionários os mais ricos, mas bilionários. Os EUA têm 902 bilionários, que passam a representar um risco de vida para Donald Trump, se insistir no show midiático que nada rende para estes donos do País.


Histórico de selvageria induz aos assassinatos

Em março deste ano, o Governo dos EUA retirou o sigilo das investigações que envolveram a morte do presidente John F. Kennedy (1917-1963). Sempre houve a desconfiança que a sequência de morte de eventuais culpados, que se seguiu ao assassinato, demonstraria o envolvimento de pessoas que não interessava ao sucessor, o texano Lyndon Baines Johnson, revelar. E, com a liberação dos mais de 2 mil documentos, foi possível saber que o órgão de espionagem e ações no exterior, a Central Intelligence Agency (CIA), estava envolvido em articulação com a organização criminosa para drogas, a Máfia, naquele evento.

Examine-se um pouco mais o que alguns denominam cartel das drogas, mas que preferimos entendê-lo como um governo paralelo aos Estados Nacionais, atuando tanto na produção agrícola quanto industrial de todo tipo de droga, nos transportes internos e internacionais, num sistema financeiro por ele controlado, usando os paraísos fiscais que decuplicaram desde 1980, como em atividades dos Estados Nacionais onde se infiltram e corrompem, veja-se o Caso dos Kennedy. O presidente e seu irmão, o procurador-geral dos EUA, Robert Francis Kennedy (1925-1968), dos que mais combateram a Máfia, foram ambos assassinados.

Wellington Calasans, em seu canal, analisa a vitória do jovem bilionário Daniel Noboa (1987), da Aliança Democrática Nacional (ADN), na recente eleição para presidência do Equador. Tudo, pesquisas pré-eleitorais, avaliação dos grupos equatorianos politicamente organizados, movimentos de rua, faziam crer na vitória de Luisa Gonzáles (1977), da aliança Revolução Cidadã (RC) com Movimento Renovação Total (RETO).

Escreve Calasans: “Graças à presença dos tentáculos dos cartéis de drogas, o Equador vive uma crise institucional sem precedentes. A fragilidade institucional do país é explícita. A classe política mascara sua cumplicidade com cartéis sob um discurso de ‘guerra contra as gangues’ – uma cortina de fumaça para desviar a atenção de acordos clandestinos. Noboa evita confrontar cartéis poderosos como o Sinaloa, o Cartel Jalisco Nueva Generación (CJNG) e as redes dos Balcãs”. E conclui Wellington Calasans: “Hoje, o Equador é um Estado à beira do colapso, com os cartéis infiltrados em todas as esferas – do Congresso à polícia. A impunidade reina: políticos, empresários e autoridades financeiras atuam como sócios ocultos do crime organizado, enquanto a população enfrenta violência, pobreza e desespero”.

Ora, com esta organização internacional, movimentando trilhões de dólares estadunidenses por ano, porque não se vê, na plutocracia listada na Forbes, um dos chefes da droga?


Um pouco mais sobre a história dos EUA

James Munro McPherson (1936) é conhecido professor de história, doutor pela Johns Hopkins University, especialista na História estadunidense, em especial na Guerra Civil ou Guerra de Secessão, ocorrida entre 12 de abril de 1861 e 9 de abril de 1865, que recentemente completou 160 anos.

Em 2015, McPherson reviu diversos trabalhos e os grupou sob o título The war that forged a nation: why the Civil War still maters, que recebeu a tradução de Adeliz de Siqueira Ferreira, para a Biblioteca do Exército (RJ, 2024), de onde extrairemos as citações.

McPherson entende que antes de 1865, os EUA estavam separados por dois sistemas que não eram somente geográficos – o norte urbano do capitalismo industrial e financeiro e o sul rural e agrário. Além do critério econômico e da organização da vida, havia diferenças culturais e políticas, tornando inevitável a formação bélica. E, durante a maior parte daqueles anos, “o território dos estados escravocratas excedia consideravelmente o número de estados” onde os homens eram livres. E, em 1861, “a maioria dos estados escravocratas se separou” dos demais. “Não apenas porque temia a potencial ameaça à sobrevivência da escravidão no longo prazo pela eleição de Lincoln, como também por estarem em busca da expansão dessa entidade”, pela aquisição de Cuba, de maior parte do México e da América Central.

Vê-se que a descoberta do petróleo em território estadunidense, em 1859, não teve efeito sobre a “Doutrina Monroe” (1823) nem sobre o “Destino Manifesto” (1845); o expansionismo colonizador, escravista, excludente prevalecia. Não era suficiente crescer, tinha que subjugar. Não era um só povo, por mais discursos de unidade que fizessem os políticos, havia cidadãos plenos e de segunda categoria.

O espírito plutocrático que conduzira a elaboração da Constituição de 1787 superava qualquer ideal libertário, respeitador da dignidade humana e administrava a entrada dos Estados na União: primeiro aqueles tomados aos indígenas – Oregon (1859), Nevada (1864), Washington, Montana e as Dakota (1889), Wyoming e Idaho (1890), Utah (1896) – depois, já no século 20, os do sul – Oklahoma (1907), Novo México e Arizona (1912) – e por fim, após a II Grande Guerra, os estrangeiros: Alasca e Havaí.

Como manifestar acolhimento se a distinção está no nascimento e no tratamento? Impossível não vir à mente o esplêndido retrato da discriminação traçado pelo genial José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948) no conto “Negrinha” (1923):

“Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.”

“Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora, em suma – dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral, dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia.” “Mas não admitia choro de crianças. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia.”

“O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões; batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para cascudos, cócres e beliscões a mesma atração que o imã exerce para o aço. Mão em cujo nó dos dedos comichasse um cócre, era mão que descarregaria dos fluidos em sua cabeça. A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cócres bem fincados!…”

Sobreviveria Negrinha aos croques e pequenas maldades aplicadas cotidianamente?

Hoje é Donald Trump que, sem ter um programa consistente de governo, acreditando que a conquista da mídia garante qualquer infortúnio, acaba enfrentado aqueles que não especulam para perder, senão mudam as regras do jogo ou o próprio jogo.

E os EUA, que se formaram numa farsa, na qual 150 anos se passaram numa única geração, ver Ray Raphael, Mitos sobre a fundação dos Estados Unidos (Civilização Brasileira, RJ, 2006), ficarão aguardando um arrependimento?

Os plutocratas, aí incluídos os traficantes, não perdoam um simples soluço como a boa dona Inácia, um choramingo. E, se não vem um croque bem aplicado, ao menos uma tentativa como as 17 enumeradas neste artigo.

Trump sentiu o perigo e já mostra interesse em concentrar sua vontade de croque na República Popular da China (China).

O Brasil conheceu tentativas de assassinado de dirigentes: Dom Pedro II, Presidente Prudente José de Morais Barros, General Artur da Costa e Silva e, para quem acredita na “fakeada”, capitão Jair Messias Bolsonaro.

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