Os desafios das gráficas latino-americanas em 2003

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A indústria gráfica tem algumas características globais muito peculiares. É constituída por maioria de empresas de pequeno porte e é uma das atividades mais suscetíveis às oscilações da economia, positivas ou negativas. No Brasil, por exemplo, estimamos que, quando o nível de atividades cresce 4%, o PIB gráfico tem expansão de 10%. A relação inversa também é verdadeira, embora em proporções menores.
A realidade da economia da América Latina e Caribe, bem como seus reflexos no parque gráfico continental, de aproximadamente 40 mil empresas, demonstram estar correta aquela equação. Nos exercícios de 2001 e 2002, os conhecidos problemas políticos e econômicos internacionais e crises locais, como o racionamento de energia elétrica no Brasil e a recessão argentina, atingiram de forma contundente o mercado das gráficas. Em todo o continente, o PIB global chega ao fim de 2002 com queda de 0,8% (fonte: Cepal – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe). O índice certamente será potencializado nos resultados do parque gráfico.
Assim, para os empresários do setor, os primeiros meses deste ano de 2003 ainda não deverão representar recuperação significativa. Há, porém, algumas perspectivas que permitem manter moderado otimismo. No Brasil, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, empossado em janeiro, promete investir no crescimento econômico. Além disso, seu programa para cultura e ensino sugere que a demanda de impressão deva ser impulsionada.
Outro indicador positivo: no jornal El Clarin, de Buenos Aires, matéria sobre a visita do presidente eleito do Brasil à Argentina, em novembro passado, sugere o tom que deverá marcar as novas relações no âmbito do Mercosul: com a visita de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente Eduardo Duhalde aposta na retomada do bloco econômico para sair da crise. “Queremos reinaugurar as relações com o Brasil”, disse ele.
Todo esse cenário – sintetizado pelo prosseguimento das dificuldades econômicas no primeiro trimestre e pela possibilidade de a virtual retomada do Mercosul contribuir para estimular a economia nos países membros e em toda a América Latina – exige determinados posicionamentos da indústria gráfica. Isto é necessário para que o setor consiga navegar de maneira mais confortável pelas águas turbulentas da conjuntura mundial e regional.
A primeira questão a ser focada não depende de governos e outros atores. Trata-se de postura pró-ativa do setor: a preservação do mercado, evitando-se, no contexto interno de cada país e no comércio exterior, a concorrência predatória, que avilta preços, comprime a lucratividade e ameaça a sobrevivência das empresas. É preciso lembrar que concorrentes não são inimigos, mas pessoas jurídicas que, em sinergia, devem desenvolver ações coesas para valorizar seus produtos e serviços perante os clientes e a sociedade.
Outra ação importante é participar, em cada país latino-americano, dos esforços cívicos no sentido de cobrar, de forma democrática e ordeira, o cumprimento dos compromissos assumidos pelos governantes, em especial os voltados ao crescimento econômico sustentado, desoneração tributária da produção, estabelecimento de linhas de crédito de longo prazo para financiamento de aporte tecnológico e maquinaria e mobilização continental para fortalecer a competitividade da região na economia globalizada. O movimento de abertura dos mercados é cada vez mais forte e irreversível.
Nem bem se estabeleceu o calendário de implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e o governo dos Estados Unidos já lança proposta de ampla liberação tarifária em todo o universo dos países signatários da Organização Mundial do Comércio (OMC).
As entidades de classe representativas do parque gráfico em cada país devem, mais do que nunca, ser as grandes articuladoras de sua necessária mobilização. No plano continental, a Confederação Latino-Americana da Indústria Gráfica (Conlatingraf), que completou 35 anos em 2002 e desde sua criação, 26 de novembro de 1967, no I Congresso Latino-Americano da Indústria Gráfica, em Mar del Plata, Argentina, tem lutado pelo fortalecimento do setor, continuará seu trabalho voltado à somatória de esforços, ao intercâmbio tecnológico, comercial e de idéias e ao fortalecimento institucional das gráficas em toda a região. Além disso, buscará intensificar a interação com governos, no sentido de defender as posições do setor, quanto a impostos, financiamentos e concorrência desigual com gráficas estatais.
Os desafios para 2003 estão muito claros. Vamos enfrentá-los com a determinação que sempre marcou a trajetória dos empresários gráficos. Cumprindo as tarefas que nos cabem, estaremos mais preparados para as surpresas e contingências sempre presentes na trajetória de nossas nações.

Max Schrappe
Presidente da Confederação Latino-Americana da Indústria Gráfica (Conlatingraf) e do Conselho Consultivo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf). É vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

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