Os desafios de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central

Segundo Gustavo Cruz, o maior desafio de Galípolo será trazer a Selic para um patamar mais neutro diante de uma política fiscal expansionista do governo.

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gustavo cruz
Gustavo Cruz (foto divulgação RB Investimentos)

Conversamos com Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, sobre os desafios de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central (BC). Nesta semana, Galípolo foi indicado pelo presidente Lula para a presidência do BC no período que vai de 2025 a 2028. Ele ainda vai passar pela sabatina do Senado, que deve ocorrer na primeira quinzena de setembro, mas é muito pouco provável que seu nome não seja confirmado.

Quais são os principais desafios de Gabriel Galípolo à frente do BC?

O principal desafio de Galípolo será a condução de uma política monetária que leve a taxa de juros a um patamar mais neutro em meio a um governo que tem uma política fiscal expansionista. Isso seria uma dificuldade para qualquer banqueiro central, e para ele não será diferente. A normalização da taxa de juros será um desafio, pois o atual governo entende que os juros têm que estimular o crescimento.

Agora, Galipolo deve passar por um momento de alta de juros, para que no ano que vem, no momento de começar a cortar os juros, ser pressionado pelo mercado para não dar uma sensação de leniência com a inflação. É bom lembrar que Roberto Campos pegou a inflação no centro da meta em 2019, mas que, desde então, ela não ficou próxima a isso. Em 2020, nós tivemos a pandemia, mas em 2021, 2022 e 2023, ele entregou a inflação acima do teto da meta, sendo que neste ano vai ser bem no limite, portanto, o histórico não está muito positivo. Respeitar o teto da meta também vai ser um desafio para Galípolo.

Além disso, nós também temos a questão cambial, já que o Real é uma das moedas mais voláteis e que mais se depreciou nos últimos anos. Isso vai fazer com que haja uma grande pressão para que Galípolo conduza um BC que torne mais suave essa volatilidade cambial.

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A RB Investimentos está trabalhando com qual comportamento da Selic para as próximas reuniões do Copom?

Infelizmente, com uma alta para as reuniões deste ano. Nós imaginamos que a taxa será levada para 12%, mas não estamos certos se isso vai começar com aumentos de 0,25 ou de 0,50 pontos percentuais. Pelo que o BC tem sinalizado, ele vai atender os pedidos de uma parte do mercado.

Nós não concordamos com isso, pois não imaginamos que esse seria o caminho ideal. Para a RB Investimentos, já seria suficiente deixar a taxa de juros no patamar de 10,5%.

Esses aumentos seriam neste ano, mas como a Selic deve se comportar em 2025, quando começa a presidência do Galípolo?

No começo, eu acredito que ele vai ter dificuldades para abordar um corte de juros, mas em algum momento do ano que vem, ele vai reduzir essa taxa, que deve ir para menos de 10,5%, principalmente em 2026, que é um ano eleitoral. O governo deve tentar fazer com que o ambiente fique o mais propício possível para isso, e por mais que não haja interferência política no BC, haverá uma série de indicações do presidente Lula para as suas diretorias, que deverão votar pensando que uma taxa menos restritiva seja o ideal.

Como a questão fiscal pode afetar a presidência de Galípolo no BC?

Quando olhamos a teoria macroeconômica, seja com um fiscal que precisa ser apertado, seja com um fiscal que precisa ser mais solto, você pode trabalhar do outro lado com a política monetária. O problema é que, atualmente, está bem claro que é necessário apertar um pouco a parte fiscal para colocar o país, novamente, nos trilhos para que ele volte a operar com superávit fiscal ano após ano.

O problema é que, ao mesmo tempo em que se vê uma parcela do governo convencida disso, como o Planejamento e a Fazenda, em agosto nós tivemos o anúncio do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, dizendo que o vale-gás vai aumentar de 5 milhões para 20 milhões de pessoas, o que vai gerar um impacto de R$ 13 bilhões. Como o BC tem que lidar com essa corda puxando do outro lado, ele se vê mais limitado e com menos espaço de manobra para cortar os juros diante de um fiscal esticado para o aumento de gastos.

O que o governo deveria fazer para facilitar o trabalho de Galípolo à frente do BC?

Além da parte fiscal, o governo vai ajudar muito se deixar o banqueiro central conduzir da forma que ele acredita ser a ideal. Se forem evitadas críticas de ministros ou de membros do partido ao BC ou comentários sobre câmbio e patamar de juros, isso já vai ajudar. O presidente do BC não fala que a vacinação está atrasada e que deveria ter começado mais cedo, pois cada um toca a sua pasta. Isso porque o Brasil não é uma economia pequena que tem poucos assuntos para serem resolvidos.

No seu segundo mandato, o presidente Lula dizia que queria muito que os juros não subissem, mas que o (Henrique) Meirelles teve que subi-los, mas logo começaria a cortá-los. O ideal é que haja uma relação mais harmoniosa, e eu acredito que isso vai acontecer com o Galípolo. Ele vai ser mais próximo do presidente e explicar os movimentos com calma. Esse foi um perfil que não combinou tanto com o Roberto Campos Neto, que era mais independente e mais distante do presidente Lula.

Outro ponto é que a partir do ano que vem, a maior parte da diretoria também terá sido apontada pelo presidente Lula, com nomes mais alinhados a essa visão.

Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar mais algum ponto à sua entrevista?

Um ponto que vai jogar a favor do Galípolo em relação ao Roberto Campos Neto é que estamos indo para anos em que teremos juros menores nos Estados Unidos e na Europa, e com uma economia americana desacelerando um pouco, algo que talvez gere menos pressão cambial, o que foi uma pedra no sapato do Roberto Campos Neto. Desde 2015, principalmente depois da pandemia, a moeda brasileira se desvalorizou muito mais que as outras, o que impacta na inflação. Não ter esse tipo de comportamento ajuda o BC a não ter que subir tanto os juros.

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