e se assemelham pelo que escondem.”
(Paul Valéry, 1871-1945, em Miscelânea)
O que significa seqüestro de projeto social? Há empresas que querem desenvolver o seu desempenho cidadão mas a cultura interna contraria este desenvolvimento. Outras organizações, ao contrário, chegaram antes ao estágio de empreender projetos sociais. Um horizonte de parcerias institucionais está aberto a partir da identificação de complementariedades entre as várias organizações que atuam ou pretendem atuar com projetos sociais. Cada vez que uma parceria se efetive, permitindo a uma empresa um upgrade, isto é, um salto no seu desempenho social, ocorre um seqüestro social. E quanto mais a empresa-cidadã mostra os seus projetos mais ela se distingue.
( Há mais de uma forma possível da empresa-cidadã realizar o seu seqüestro social. Antes, é bom separar o que é o exercício da responsabilidade social de uma ação de filantropia, de doar dinheiro ou coisas para uma obra social existente. Não que a filantropia não tenha importância. Muitas vezes ela é a porta de entrada da empresa nas possibilidades da cidadania. Mas a filantropia pura e simples é por certo a modalidade mais limitada da empresa desenvolver as possibilidades dos seus negócios através do exercício da responsabilidade social.
( Alguns passos são sugeridos às empresas candidatas a empresa-cidadã. Primeiro, descobrir o que quer com a cidadania empresarial. Transformar a sociedade, criar melhores condições para os mercados em que vai realizar os seus negócios ou apenas redimir sentimento de culpa e aparecer bem na foto. Diferentes são os motivos e os níveis de consciência permitidos pela cultura de cada organização e pela ação das suas lideranças e é muito importante cada empresa saber o quer, sem se iludir.
( A empresa pode realizar o seqüestro social através de uma parceria em que assuma um projeto existente antes da sua intenção de ser empresa-cidadã. Pode ser um projeto empreendido por outra empresa ou por uma ONG. Não se trata de ajudar a pagar os custos do projeto. Um projeto social não se assume parcialmente. Trata-se de um comprometimento visceral, em que seja percebida a relação do projeto com a própria saúde da empresa.
( A empresa pode, alternativamente, assumir uma franquia social. Organizações podem conceber ou incubar projetos sociais com o objetivo de oferecê-los a empresas-cidadãs que prefiram assumir um projeto já existente, uma barriga de aluguel. Nestes casos é importante a empresa valer-se de uma auditoria social, isto é, utilizar-se do conhecimento e experiência de quem possa garantir a idoneidade e correspondência do projeto com os objetivos estratégicos da empresa.
( Neste contexto, novas possibilidades de exercício profissional podem ser vistos. Gerentes, auditores, planejadores, “marqueteiros” sociais e outros campos profissionais vão sendo identificados, à medida em que se consolida a preocupação de consumidores, investidores e governo com a ética e cidadania empresarial, tendência já estabelecida em outros países e cada vez maior entre nós.
QUALIDADE DE EMPRESA-CIDADÃ
Em Assis, São Paulo, a Floravale realiza o projeto Broto Verde. Concebido pelo agrônomo Cláudio Bertolucci, o projeto é derivado de exigências da legislação ambiental, que obriga o plantio de cinco árvores para cada metro cúbico de madeira utilizada por uma empresa. De grandes serrarias até a mais inocente pizzaria, todas estão obrigadas ao cumprimento da lei, através de reflorestamento próprio, pagamento de uma taxa ao Ibama ou associação com uma entidade reflorestadora, caso da Floravale. Mais do que fornecer mudas para o atendimento da lei, o projeto investe na cidadania de jovens da região de Assis, oferecendo a eles a oportunidade de aprendizado e despertando vocações ligadas à produção de mudas.
ATÉ A PRÓXIMA
Qual a relação existente entre Porto Alegre (RS), Davos (Suíça) e empresas-cidadãs ? Conversaremos sobre isso na próxima quarta-feira. Até lá.
