A atriz e apresentadora Regina Casé está festejando 70 anos de vida e 50 de carreira. São cinco décadas encarnando personagens e encantando plateias pelo Brasil afora. Legítima representante nordestina, a artista, carismática, construiu, ao longo de cinco décadas, uma relação de grande intimidade com o público, devido às suas características muito peculiares, não somente pela linguagem simples e direta com que utiliza, mas pelo olhar cativante e meigo e pela simplicidade em todos os seus atos e ações.
Tudo isso junto e misturado e por conhecer de perto os problemas do Brasil e dos brasileiros, por ter visitado os rincões mais distantes das grandes capitais, aproximou Regina do público, que em qualquer lugar que vá é abraçada, beijada e saudada.
Sua popularidade é inquestionável e o seu talento multifacetado é vivamente reverenciado por estrelas de primeiríssima grandeza, como Fernanda Montenegro e Débora Bloch e pelo ex-todo poderoso “chefão” da Rede Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. Durante o VT que contava o início da carreira de Regina, no último domingo no quadro “Linha do tempo” do programa do Luciano Huck, enquanto o público via alguma de suas personagens, Boni contava: “Estava descoberto que ela tinha talento. Tanto que o Chico Anysio imediatamente chamou a Regina para fazer o Chico Anysio Show. Quando eu olho para a Regina, a brilhante estrela que a gente conhece, eu vejo a menina Regina. A Regina maravilhosa, como ser humano, preocupada com os outros. O essencial da Regina Casé é a sua autenticidade.”
Amigos da vida toda, como Evandro Mesquita, Luis Fernando Guimarães, Hamilton Pereira, Perfeito Fortuna e Patrycia Travassos, todos eles integrantes do lendário e mágico Grupo Asdrubal Trouxe o Trombone, estiveram, no programa, para aplaudir Regina e dar depoimentos sobre a amizade que une a todos.
“Na Linha do Tempo” prestou uma homenagem mais do que merecida à Regina Casé, iniciando com uma pequena, mas emblemática passagem do tempo, nos idos de 1932, com a aparição do avô da homenageada, Ademar Casé, e que passou por todas as fases da sua trajetória, tanto particular como artística.
Em alguns momentos, a narrativa desse belo percurso coube à sua filha Benedita. Outra surpresa para a artista foi a presença de Roque, seu filho caçula. Ele surgiu apresentando a “versão” do Esquenta!, causando grande rebuliço no auditório, que curtia a atuação do garoto e que deixou a mãe orgulhosa, naturalmente.
Discurso emocionante também foi feito por seu marido, Estêvão Ciavatta, que, com eloquência, usou palavras mais do que bonitas para falar sobre a sua relação com a mulher. E como se não bastasse, de dentro de uma Kombi saíram alguns cantores, como Xande de Pilares, Douglas Silva e Mumuzinho que levaram a plateia ao delírio com suas performances.
O público de pé, ao final da apresentação, aplaudiu Regina que, muito emocionada, falou que se sentia plena na sua arte e que todo o sucesso conquistado devia aos brasileiros e brasileiras que sempre lhes foram fiéis, devotando-lhe enorme carinho e estima e que “essa relação maravilhosa não tinha preço, mas nome: gratidão.”
A atriz, também autora, diretora e produtora, um dos maiores ícones da teledramaturgia nacional, conquistou vários prêmios com o passar dos anos, incluindo dois prêmios Grande Otelo, quatro Prêmios APCA, dois Guaranis, um Molière e dois Troféus Imprensa. Em 2012, foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural, pela Presidência da República.
Regina iniciou sua carreira estudando teatro, onde alcançou reconhecimento e fundou o grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, ainda na década de 70. Ganhou notoriedade por sua atuação na peça Trate-me Leão, em 1977. Um ano após, apareceu pela primeira vez nos cinemas atuando no filme Chuvas de Verão, de Cacá Diegues. Sua estreia na televisão se deu com uma participação na novela Guerra dos Sexos, em 1983, de Silvio de Abreu. Por sua performance no filme Areias Escaldantes, ganhou elogios da crítica. Em 1986 ganhou seu primeiro personagem de grande sucesso em telenovelas, a Tina Pepper, de Cambalacho, lembrada até hoje.
Desde então, Regina passou a ser requisitada para vários papéis no gênero da comédia. Entre 1988 e 1990 integrou o elenco do programa TV Pirata, onde interpretou numerosos personagens. Em 1991 estreou como apresentadora. Nessa década, sua aparição na telinha foi mais direcionada a apresentação de programas, incluindo Brasil Legal (1995–1997) e o Muvuca (1998–2000). Em 2001, estreou o programa Um pé de quê?, apresentado por ela durante dez anos. No mesmo ano, voltou às novelas como uma das protagonistas de As Filhas da Mãe. No filme Eu, tu e eles (2001) recebeu novamente aclamação da crítica especializada e arrebatou diversos prêmios de melhor atriz em festivais de cinema nacionais e internacionais.
Um dos seus grandes momentos, entre 2011 e 2017, foi quando apresentou o programa Esquenta! Em 2015 recebeu sua maior aclamação pela atuação no premiado filme Que horas ela volta?, de Anna Muylaert. Por sua performance, como a empregada doméstica Val, foi eleita melhor atriz no Festival Sundance, nos Estados Unidos. Em 2019 ganhou destaque pela atuação como Dona Lurdes, em Amor de Mãe, voltando a atuar no gênero após de 18 anos afastada. Voltou a receber elogios no filme Três Verões, em 2020. Em 2022, retornou em Todas as Flores, quando se destacou ao interpretar a primeira vilã de sua carreira: Zoé.
Nascida e criada em uma família de classe média em Botafogo, Regina é filha do escritor Geraldo Casé e de Heleida Barreto. Seus avós paternos foram Graziela e o radialista pernambucano Ademar Casé, um dos pioneiros na chegada do rádio no Brasil.
Por toda essa carreira espetacular, conquistada com muita batalha e estudo, Regina, sempre generosa, simples e de bem com a vida, mesmo já tendo enfrentado situações bastante delicadas e adversas, como no momento do nascimento da filha, merece receber todas as homenagens quando comemora, nos braços do público, aclamada pela crítica e prestigiada pelos colegas, os seus 70 anos de idade.
Vida longa e muito sucesso!
Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula
