Os significados da represália americana na Síria

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O ataque dos Estados Unidos à base militar de Al Shayrat, perto de Homs, na data de quinta-feira (6), no horário das 21h40 (hora de Brasília) e 4h40 do horário local, apresenta significados não apenas de ordem militares, mas também políticos.

Dentre os primeiros, embora seja ainda prematura qualquer conclusão mais contundente, chega-se a uma fase na guerra da Síria na qual passa a ser uma hipótese a ser considerada a eventual alteração do quadro do referido conflito, na medida em que a base atingida teria sido destruída, com suas aeronaves, e de onde teriam partidos os ataques com gás sarin que vitimaram populações civis no início da semana e, provavelmente, de onde partiriam futuros ataques.

Com popularidade em queda, Trump

reforça sua imagem perante eleitorado

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Embora a Síria, com apoio de sua grande aliada Rússia, afirme que não cometeu ataques com armas químicas, sabe-se que já o fez ao longo desta guerra que já dura praticamente seis anos. Mais ainda, sabe-se que o espaço aéreo sírio é dominado pelas aviações síria e russa, e por ninguém mais. Some-se a tal fato que os primeiros exames necroscópicos das vítimas comprovam o uso de armas químicas contra tais vítimas.

De outro lado, do ponto de vista político, podemos vislumbrar os seguintes significados:

Trump deixa claro que sua gestão adotará postura distinta em relação à administração Obama quanto ao uso de armas de destruição em massa na guerra da Síria;

Trump enfrenta queda de popularidade e com o ataque de ontem reforça sua imagem perante seu eleitorado;

O presidente norte-americano deverá enfrentar alguns questionamentos em vista de não ter consultado o Congresso;

A ação foi também um recado para Síria, Irã, Coreia do Norte e qualquer país que venha – ou tenha intenção de – utilizar armas de destruição em massa, demonstrando a nova postura que os EUA adotarão e que se distancia de promessa de campanha de Trump, no sentido de reduzir o envolvimento norte-americano na guerra da Síria e buscar maior isolamento dos Estados Unidos no conflito.

Rússia e China foram previamente avisados. Dentre as várias opções disponibilizadas pelo Pentágono ao presidente Trump, a escolha recaiu sobre a menos agressiva do ponto de vista militar, sem invasão do espaço aéreo sírio e sem enfrentamento com tropas ou aviões russos de combate.

A ONU, mais uma vez, teve ressaltada sua fragilidade, na medida em que a ação unilateral norte-americana foi precedida de reunião do Conselho de Segurança, frustrada quanto à busca por uma solução conjunta relativa ao ataque com armas químicas que matou civis (incluindo crianças), no dia anterior. Há necessidade de reformulação das estruturas deliberativas das Nações Unidas, especialmente o Conselho de Segurança.

Finalmente, é preciso aguardar a reação russa e síria no palco de operações, bem como se houve algum benefício não apenas aos grupos combatentes seculares, mas também aos fundamentalistas religiosos, como o chamado “Estado Islâmico”.

Flávio de Leão Bastos Pereira

Especialista em Diretos Humanos, coordenador e professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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