Conversamos com Carlos Raimar Schoeninger, CEO e diretor de Relações com Investidores da Padtec, sobre o resultado do 2T24 da companhia.
Como a Padtec avalia o seu resultado do 2T24?
Por mais que os números sejam um pouco olhar para o retrovisor, eles nos dão uma indicação de caminho e de por onde andamos. O 1T24 foi um trimestre de muitos ajustes, já que a demanda global por equipamentos de transmissão de alta capacidade, naquilo que é fotónica e DWDM (Dense Wavelength Division Multiplexing), está em um momento de baixa. Olhando para os resultados dos concorrentes, vemos que a demanda caiu entre 30% e 60% nesse segmento. Mesmo assim, nós conseguimos segurar um pouco essa onda por distribuirmos no Brasil.
O 2T24 já foi um trimestre de recuperação. Nós chegamos a uma receita de R$ 68 milhões, 17% a mais que no 1T24. Com relação à margem bruta, no 1T24 ela foi impactada tanto por um menor volume de produção, de comercialização e de receita reconhecida, quanto pela redução de 100 pessoas em um quadro de pouco mais de 600, o que fez com que tivéssemos um corte de custos bem expressivo na companhia. Além disso, nós tivemos negociações com fornecedores para aliviarmos o breakeven em um momento de demanda mais baixa.
Neste trimestre, a demanda também melhorou. Isso porque se no 1T24 as empresas ainda estavam pensando no que iam gastar nas suas redes e nos seus projetos, ou seja, estavam começando a tomar ciência dos seus orçamentos, no 2T24 já começou a aparecer alguma coisa, sendo que no 2S24 a demanda deve ser melhor. Isso se refletiu na margem bruta, que subiu para mais de 31%, mais de 6 pontos quando comparada ao 1T24, e na margem Ebitda, que passou de negativa para positiva.
Do ponto de vista dos números, já temos uma história parcial do ano para contarmos. Como sempre gosto de comentar que a Padtec é melhor analisada no ano inteiro, já podemos dizer que o ano 2024, quando comparamos ano contra ano, vai ser bastante desafiador.
Você pode nos dar uma visão geral sobre o que aconteceu com a Padtec no 1S24 e o que deve acontecer no 2S24?
No mercado internacional, nós já estamos percebendo a retomada do crescimento. No ano passado, a Argentina praticamente travou as compras, mas ela já está retomando lentamente neste ano. O restante dos países da América Latina também já retomaram. Cabe ressaltar que a América Latina de fala espanhola, além do Brasil, é o nosso maior mercado. Nós estamos entrando nos Estados Unidos, temos algumas incursões pontuais na África e estamos tentando ganhar o mercado europeu. Eu diria que estamos em um bom caminho de pavimentação daquilo que é o óbvio de ser feito para o crescimento.
No 2T24, também aconteceu algo que acontece a cada três anos nessa indústria, que é uma troca de tecnologia. Como acontece no 4G para o 5G, os transponders que iam até 1.2 Tb/s avançaram para 2.4 Tb/s. Esse equipamento, o LightPad Max, foi lançado, oficialmente, na feira da Abrint (Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações), em maio, no meio do 2T24, e nós já temos um gargalo de produção, pois o seu desempenho superou o de todos os concorrentes. Nós fizemos a transição tecnológica e temos um equipamento que vai pavimentar parte da nossa receita para os próximos três anos.
Na mesma linha, nós lançamos os transceivers ópticos miniaturizados. No lugar de uma caixa do tamanho de um notebook reforçado, imagine um pen drive reforçado, que chamamos de QSFP-DD, que será plugado direto no roteador e que vai levar uma capacidade de 400GB, ou seja, imagine o roteador da sua casa do tamanho do céu. Esses transceivers plugáveis, que é uma outra fronteira tecnológica nas qual estamos chegando, também já começam a aparecer no mercado.
Esses dois produtos já começam a ter vendas e já vão aparecer nas receitas dos projetos dos nossos clientes, que levam de um a dois anos para serem implantados nas caixas e nos pontos de presença que eles têm no mercado.
Pelo lado das soluções digitais, nós lançamos um novo software. Além do software de monitoramento de operações de telecom que já temos, o Smart Site, que é um IoT (Internet of Thing) para telecom, e que começa a avançar para estruturas de data center, nós temos agora um Workforce Management, que é um software de organização de time de campo, que chamamos de Smart Workspot. Esses softwares são parte do operating system de um provedor menor de telecom, já que não trabalhamos com os grandes, pois eles possuem muitas soluções legadas.
Além disso, a Padtec está entrando também no segmento de consultoria tecnológica de ponto em telecom, especialmente óptica, seguindo o caminho que fizeram, por exemplo, a IBM e a Logicalis.
Em alianças, nós já trouxemos os switches da UfiSpace com o sistema operacional da IP Fusion, e estamos trazendo agora o sistema operacional da Arrcus, que é o Windows para roteadores de data center. Como já estamos aptos para vender o equipamento, nós estamos provando aos clientes que esse é um bom produto e que ele tem escala global. Fora do país, esse negócio está andando melhor. No nosso segmento de switches, metade é Ufi Space e metade é Datacom, que é o nosso principal produto de switches e roteadores para exportação.
Como companhia, não podemos ignorar a presença, cada vez mais relevante, do mercado de data centers. Como existem vários projetos gigantes de data centers no mercado, e um data center faz parte de uma cadeia logística de dados, nós estamos entrando junto com Trusted Data para fornecer uma solução integrada para mini data centers dos operadores de telecom. Isso porque os antigos pontos de presença telecom estão sendo lentamente transformados em pequenos data centers. Esse é o caminho para ajudarmos os nossos clientes e os operadores industriais a terem data centers confiáveis, em tamanhos menores e distribuídos.
Outro ponto relevante do 2T24 foi a nossa volta para o segmento de planta molhada, ou seja, cabos submarinos e fluviais. Para isso, nós estamos trazendo um campeão latino americano, a peruana Satelital, que opera rios amazônicos em países hispânicos como Colômbia e Peru.
Com esse relato, eu consigo passar uma cara dos números que apareceram, que já são melhores, e de um mercado que está retomando em produtos que temos consciência e agora consistência, o que nos deixa tranquilos. Estamos competindo com os chineses e estamos conseguindo ganhar deles e de outras empresas nas provas, mas essa é uma corrida de “fique melhor a cada dia”. Esse era um ponto de preocupação, pois sempre que há uma transição tecnológica, há um reset na indústria, o que faz com que tenhamos que começar a jogar um novo jogo, mas nós entramos jogando bem, o que nos deixou bastante contentes naquilo que é 80% do faturamento da companhia.
Quais são as perspectivas da Padtec para o 2S24?
No 2S24, muda o humor na companhia. O segundo semestre começou bem mais animado em termos do que podemos esperar como geração de vendas que vão ser distribuídas em um período mais longo. A indústria de telecom, especialmente fora do Brasil, está reagindo e voltando a investir em capacidade. Ela não foi afetada por consolidações como a indústria brasileira, e eu diria que, na média, tem menos exposição a juros mais altos. Do México à Argentina, nós estamos conseguindo perceber uma demanda que está sendo retomada de forma consistente.
Como nos Estados Unidos nós somos totalmente challengers, nós temos alguns clientes que estão experimentando a Padtec. Eles colocaram os equipamentos na rede e agora, depois de um ano, estão vendo que os equipamentos funcionam e que entregam bem, o que faz com que eles queiram mais equipamentos. No mercado americano, além da equipe própria, nós estamos começando a operar com canais, o que muda a dinâmica, sendo que o mesmo está acontecendo no Brasil.
Aqui, além da equipe própria, para alguns segmentos nós estamos operando com canais. Isso porque quando entramos no segmento de switches com a UfiSpace, o número de clientes endereçáveis saltou de 500 para 5.000, o que faz com que tenhamos que aumentar o exército de campo, a capacidade de gerar leads e a presença de marketing.
O que está surpreendendo é a parte de infraestrutura de planta molhada, que tem um pipeline de projetos, que fazia tempo que eu não via, com muita movimentação de novas e estabelecidas empresas querendo pavimentar os caminhos submarinos, não só de longa distância, os transoceânicos, como usar o mar como um caminho seguro para as redes de telecom, já que ele é mais seguro que uma estrada.
Com relação a data centers, esse é o foco de todos que operam nesse meio, pois hoje eles já são a maior parte dos investimentos do mercado. Eu falo do mercado, pois isso não se refere às empresas de telecom tradicionais. Como comentei na nossa última entrevista, a maior empresa de telecom do mundo não é um operador de voz tradicional, mas a Meta com o Whatsapp, que possui mais de 2,7 bilhões de usuários, e que cobra quase nada para prestar esse serviço, o que mostra que está acontecendo uma rearrumação da telecom tradicional em uma telecom absurdamente digital, agora bombada pela Inteligência Artificial (IA), que começa a consumir recursos de data center e a ter implicações nas redes de telecomunicações.
Nós acreditamos que vamos ter uma retomada de demandas em vários projetos, mas essa retomada será diferente, pois, talvez, ela não venha de players tradicionais, de produtos tradicionais e de soluções tradicionais.
Como a Padtec avalia a cobertura da companhia feita por analistas?
Eu posso dizer que é horrível, mas eu também entendo o lado de lá, pois essa cobertura não vai acontecer no mercado tradicional. Um analista, que custa caríssimo para os bancos, não vai cobrir uma empresa pequena que gira pouco no trade, já que não vai haver payback. Prioritariamente, ele vai cobrir as grandes.
Para que possamos aparecer, um research mais automático com IA, junto com a imprensa e mídias sociais, pode ser um caminho. Com IA, o research vai apertar um botão e gerar um relatório sobre a Padtec, pelo menos com o mínimo que o investidor precisa para tomar uma decisão. Contudo, isso não é um problema Brasil. Nos Estados Unidos, se você puxa um indicador, aparecem quatro mil empresas. Como essas empresas fazem para aparecer?
Hoje, o mercado toma muito a decisão de investimento baseada na recomendação de alguém, ou de uma research que é paga ou do seu banco, mas eu acredito que com a IA os investidores poderão fazer o seu search de portfólio.
Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto a nossa entrevista?
Nós nos sentimos muito amparados pela parte institucional Brasil para produzirmos tecnologia local. O BNDES tem sido um parceiro incansável em prover modernas soluções financeiras como o Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Dentro de telecom, nós produzimos os grandes cargueiros, sendo que esses cargueiros são caros. É por isso que precisamos de um financiamento adequado que se junte à capacidade de geração de receita dos nossos clientes, que podem ser produtores, acumuladores ou processadores de informação, como um data center, ou empresas que fazem o trânsito dessas informações no mundo de telecom. Como esses são projetos que levam um ano para serem executados e dois para terem receita, ter uma estrutura de financiamento adequada é fundamental.
Ocorre que essas soluções ainda precisam ser replicadas para o mundo internacional, pois hoje nós exportamos no braço, ou seja, no nosso balanço. Nós usamos alguns financiamentos, mas ainda não estamos tão bem equipados como estamos no mercado nacional. Esse é um desafio que a indústria brasileira precisa resolver, buscando auxílio em todos os órgãos que podem nos ajudar a levar o Brasil tecnológico para fora das nossas fronteiras.