Pandemia fez milhares de empresas acelerar transformações digitais

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“A inteligência artificial tem a tendência de criar poder de mercado e é essa a razão pela qual ela atrai tantos investimentos”. A afirmação é de Ajay Agrawal, responsável pela área de empreendedorismo e inovação da Universidade de Toronto, ao participar do terceiro dia de palestras, nesta quarta-feira (25), do Congresso Brasileiro de Mercado de Capitais, evento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e da B3. O evento online e gratuito termina nesta sexta-feira.

Este ano, devido a pandemia de Covid-19, houve uma corrida por parte das empresas para acelerar suas transformações digitais. No Brasil, grandes empresas estão mantendo desde o início do ano seus colaboradores em home office. Os economistas, segundo ele, abordam a tecnologia de uma maneira muito simples, buscando entender como ela pode reduzir custos. Mas a IA (inteligência artificial) vai além: reduz o custo da previsão. Ou seja, usa uma informação que se tem na mão para gerar outra que ainda não se tem.

O poder da IA está ligado aos benefícios de sua retroalimentação, o que Agrawal chamou de feedback loops. Ou seja, quanto mais dados são coletados e analisados, melhores ficam as predições, levando a um número maior de usuários, que, por sua vez, produzem dados que retroalimentarão o sistema, criando um ciclo virtuoso.

No entanto, há ressalvas: as máquinas reconhecem padrões, por isso têm dificuldade em lidar com fatos inesperados. “No caso da pandemia de Covid-19, que não se tinha dados prévios, a máquina teve um desempenho ruim, pois não está treinada”, explica.

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Os modelos fazem previsões estatísticas e não têm como intuir determinados acontecimentos, a não ser utilizando dados passados para tentar prever o futuro. “Uma das coisas importantes a se ter em mente é que as máquinas são boas em determinar correlações, mas não são tão boas em entender casualidades”, acrescenta.

Questionado pelo moderador do painel Fernando Pires, sócio da Dynamo, acerca de recomendações às empresas que querem usar a inteligência artificial, Agrawal enfatizou a necessidade em saber o que a tecnologia pode e o que não pode fazer. “IAs não são mágicas, são estatísticas computacionais”, assinala.

Outro conselho é que os projetos devem ser liderados ou ter forte envolvimento do alto escalão das companhias. “A maior falha na implementação de IA é a falta de visão da alta direção. O CEO tem de apontar qual é o objetivo, aonde ele quer chegar com ela.” Ajay ressalta que é preciso saber a meta a ser alcançada, e não criar o modelo de IA apenas por ter determinados dados disponíveis.

Sobre a aplicação no segmento financeiro, Ajay, que também é fundador do Creative Destruction Lab, avalia que os profissionais cuja função é prever serão fortemente afetados. Ele explica que, apesar da IA não fazer previsões perfeitas, ela faz predições melhores que os seres humanos.

 

Transformação digital
Nos últimos anos, o ecossistema de startups amadureceu e, em 2020, com a pandemia, milhares de empresas foram obrigadas a acelerar suas transformações digitais. Para Fabrício Bloisi, CEO do iFood e presidente do conselho do Grupo Movile, os próximos três anos serão ainda mais agressivos na jornada de digitalização das empresas no Brasil, com a oportunidade da chegada ao mercado – ou do crescimento – de um número maior de companhias digitais e disruptivas.

No painel, moderado pelo diretor de Relacionamento com Clientes e Pessoa Física da B3, Felipe Paiva, e do qual participou também o CEO da XP, Guilherme Benchimol, o tema sobre a abertura de capital das companhias não ficou de fora. “Acreditamos que temos tamanho para isso, estamos capitalizando e fazendo vários investimentos, mas não é o momento agora. É uma conversa que temos no conselho e que pode ser reavaliada”, explica Bloisi. Mas ressalta o crescimento do iFood: “Em oito meses, avançamos dois anos em termos de penetração. Só em agosto foram mais de 45 milhões de pedidos na plataforma”, conta o empreendedor.

 

Investidores

 

Muitas indústrias serão impactadas com o uso de tecnologias como a inteligência artificial, a exemplo dos setores de educação e saúde. Na próxima década, o digital deverá estar no centro dos negócios. “Há alguns anos, das dez principais empresas norte-americanas, apenas uma era de tecnologia. Hoje são cinco. Na China, ocorreu o mesmo. Espero um cenário parecido no Brasil. Em breve, não falaremos mais de unicórnios que valem US$ 1 bilhão, mas de empresas com valor de mercado de US$ 100 bilhões”, completa Bloisi.

O cenário macroeconômico também tornou o ambiente propício para o surgimento de mais investidores e empreendedores. “A maior transformação que poderia acontecer no Brasil é a redução da taxa de juros. O país sempre foi rentista, com monopólios e oligopólios que não faziam o dinheiro circular. Hoje, as pessoas são obrigadas a pensar no longo prazo, a assumir riscos, a diversificar os investimentos e a empreender”, afirma Benchimol.

À frente de uma empresa com 2,6 milhões de clientes, Benchimol criou a XP há 19 anos com o objetivo de democratizar o acesso aos investimentos no país. Em um cenário de juros baixos, ele acredita que mais empreendedores emergirão com ideias inovadoras e disruptivas. “Sempre fomos um país instável e as pessoas buscavam estabilidade, tanto que o sonho dos brasileiros era ser concursado público. Mas isso não pode ser o sonho de uma nação inteira. Se antes a taxa de juros desestimulava a abertura de um negócio, hoje aflora o empreendedorismo”, diz.

Juros mais baixos também ampliam as fontes de financiamento das empresas, que passam a enxergar o mercado de capitais como uma alternativa cada vez mais acessível. Paiva lembrou que, nos últimos dez anos, foram feitas mais de 210 ofertas públicas na bolsa brasileira, com cerca de R$ 500 bilhões captados em IPOs (ofertas públicas iniciais de ações) e follow-ons. Este ano, o número de IPOs na bolsa será um dos mais altos já vistos, “além de termos alcançado a marca de 3 milhões de pessoas físicas na B3. Isso é só o começo da transformação”, opina.

A mentalidade dos brasileiros também começa a mudar. Benchimol afirma que 70% dos investimentos aqui estão atrelados ao CDI e a tendência é que parte desses recursos migre para ativos de risco nos próximos anos. “O yield (retorno sobre o investimento) na bolsa brasileira é de 2,5%, ou seja, o dividendo que a pessoa recebe ao comprar o Ibovespa é superior ao que ela ganha com o CDI”, diz.

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